Ken Parker # 1 - Vecchi
Editora: Vecchi - Revista mensal
Autores: Giancarlo Berardi (texto) e Ivo Milazzo (arte).
Preço: Cr$ 12,00 (preço da época)
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Novembro de 1978
Sinopse
Ken Parker e seu irmão caçula Bill chegam ao posto de trocas do velho Puncho e sua filha Jeanne.
Sem que saibam, eles são observados ao longe por bandidos, que os assaltam, assassinam Bill e deixam Ken, pensando que ele também estava morto.
Socorrido por Puncho, Ken enterra seu irmão e logo percebe que, apesar de terem feito muito esforço para fazer parecer que os dois irmãos tinham sido emboscados por índios, na verdade foram três homens brancos que cometeram o crime.
Com a ajuda de Puncho, Ken segue a pista até o forte Smith, onde fica sabendo da chegada de nove homens nos últimos dias. Entre eles, com certeza, estão os três que o atacaram.
A trama se complica quando os cheyennes, que estão acampados ao lado do forte, sofrendo terríveis privações, se rebelam, matando vários soldados e começando uma fuga em massa pelo território coberto de neve.
Empregado como batedor do exército, Ken Parker precisa seguir a tropa na sua perseguição aos índios, junto com todos os homens de quem suspeita.
Positivo/Negativo
Giancarlo Berardi tinha 25 anos quando roteirizou esta história, em 1974. Em 1970, ainda estudante universitário, tinha começado a escrever quadrinhos, fazendo um pouco de tudo, desde histórias para a edição licenciada de Tarzan até um ou outro Diabolik, anonimamente.
Depois de algum tempo, ele e seu colega de escola Ivo Milazzo começaram a publicar naEditoriale Cepin, de Sergio Bonelli, dentro da série Collana Rodeo. Uma delas foi Wellcome to Springville, uma série de histórias sem personagens fixos, cujo único elemento recorrente é a cidade fronteiriça do título.
Outra foi esta história avulsa de Ken Parker, da qual o editor gostou tanto, que resolveu transformá-la numa série.
A revista Ken Parker só estreou em 1977, três anos depois de a primeira história ser produzida, pois Sergio Bonelli precisava ter alguns números em estoque para manter a periodicidade nas bancas. E isso demandou todo esse tempo.
Berardi nunca escondeu que baseou seu personagem no Jeremiah Johnson interpretado em 1972 por Robert Redford, no filme de mesmo nome, exibido no Brasil como Mais forte do que a vingança. Quem assistir ao longa, verá que a semelhança é evidente, tanto que a série era para se chamarJedediah Baker, mas Bonelli achou o nome complicado demais (com razão) e o mudou para Ken Parker.
Apesar de sair no mesmo formato de Tex, o título trouxe diversas novidades do ponto de vista editorial, como as capas duplas em belíssimas aquarelas de Milazzo, histórias apresentadas em arcos, uma maior ação do tempo sobre os personagens e, principalmente, uma preocupação de contar histórias realistas e humanas de maneira cinematográfica.
Quase não existem em Ken Parker recordatórios em que a figura de um narrador ajuda a história a fluir. Isso pode parecer pouco hoje, mas, em 1974, o mais comum era encontrar tramas cheias de "enquanto isso, na cidade" ou "sem que Tex perceba".
Neste primeiro número, vê-se um Ivo Milazzo ainda longe da maturidade, mas já dono de um traço seguro, bonito e bem acabado. Nos anos seguintes, ele foi ficando mais sintético, solto, pessoal, com um traço muito pessoal e uma capacidade de resolução gráfica capaz de resolver imagens altamente complexas com poucas, mas brilhantemente precisas, pinceladas.
Aqui, Milazzo ainda estava vacilante quanto à colocação das áreas de preto nas sombras dos desenhos. E é possível perceber claramente a distância artística que separa esta primeira história da segunda, Mine Town.
Estranhamente, apesar de Milazzo tentar emular a figura de Robert Redford, o personagem ainda não se parece tanto com o ator. Isso só aconteceria a partir da história Chemako, no número 5. Até então, as feições de Ken Parker variam a cada episódio.
A Vecchi era uma das mais antigas do Brasil na época, tendo sido fundada pelo imigrante italiano Arturo Vecchi em 1913. Ela logo se especializou em romances folhetinescos voltados para o público feminino, embora tenha feito, ao longo dos anos, incursões em outros gêneros, inclusive nos quadrinhos, no qual lançou o pioneiro Mundo Infantil, em 1929, com personagens norte-americanos como Gato Felix, Pafúncio e Marocas e Os sobrinhos do Capitão.
Nos anos seguintes, a Vecchi publicou também romances policiais, livros técnicos, álbuns de figurinhas e foi a editora pioneira em fotonovelas, com a revista Grande Hotel.
Em fevereiro de 1971, a Vecchi lançou Tex, que demorou um pouco a pegar, mas logo se tornou um sucesso de vendas. Por isso, a editora se animou a formar uma redação especializada em quadrinhos (o ranger era "tocado" pelos mesmos editores das fotonovelas) e foram buscar Otacílio D'Assunção Barros, o Ota, na Ebal.
Além de bom cartunista, Ota se torna um dos mais importantes editores de quadrinhos dos anos 1970, sendo responsável pelo lançamento de diversos títulos importantes, como Mad, Eureka ,Spektro e também Zagor e Ken Parker.
Infelizmente, a Vecchi se meteu em apuros financeiros no começo dos anos 1980, por conta de problemas de sucessão na família, dificultando a publicação de várias revistas, por conta de dívidas com fornecedores de material gráfico e papel.
A inflação galopante do período também não ajudou e Ken Parker foi uma das primeiras revistas cortadas, pois, infelizmente, nunca vendeu tão bem quanto Zagor e Tex, embora tivesse um número de fãs suficiente para justificar sua continuidade.
De toda forma, o sacrifício de Ken Parker não bastou e, em pouco tempo, a Vecchi fechou suas portas para sempre.
É preciso lembrar que a "falta de popularidade" desta série maravilhosa não é algo que aconteceu apenas no Brasil. Na Itália também foi assim.
A razão para isso, provavelmente, reside no fato de que as histórias sempre tenham sido sofisticadas demais para o público, que preferia a ação mais simples de um Tex.
De toda forma, nesta primeira série foram publicadas 53 histórias no Brasil (na Itália foram 59). Todas escritas por Berardi, algumas vezes com a colaboração de Maurizio Mantero, Alfredo Castelli e Tiziano Sclavi.
Nos desenhos, além de Milazzo, o melhor de todos, o leitor pôde apreciar as versões de Bruno Marrafa, Giorgio Trevisan, Renzo Calegari, Giancarlo Alessandrini, Carlo Ambrosini, Giovanni Cianti, Sergio Tarquinio e Renato Polese. As capas, magníficas, sempre foram de Milazzo.
Ao longo dos anos seguintes, outras séries de Ken Parker seriam lançadas na Itália (e chegariam ao Brasil), de forma intermitente.
Por fim, a dupla Berardi e Milazzo acabaria se desentendendo, o que fez com que, em sua última história, Ken Parker tenha sido abandonado numa cela, preso injustamente, á espera de uma conclusão salvadora, que não parece ter hora para chegar.
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