Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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Kiki de Montparnasse

30 abril 2010

Kiki de MontparnasseEditora: Galera Record - Edição especial

Autores: José-Louis Bocquet (roteiro) e Catel Muller (arte).

Preço: R$ 54,90

Número de páginas: 416

Data de lançamento: Abril de 2010

Sinopse

Na Paris dos anos 1920, o bairro de Montparnasse congrega toda a boemia e genialidade dos anos loucos. Entre nomes como Picasso, Duchamp, Cocteau e Desnos, a jovem Kiki se destaca sendo uma das figuras mais carismáticas e emblemáticas da vanguarda do entreguerras.

Companheira de Man Ray e inspiradora de algumas de suas fotos mais icônicas, ela será imortalizada na tela de importantes artistas. Musa de uma geração, Kiki foi uma das primeiras mulheres emancipadas do Século 20.

Positivo/Negativo

Os anos de 1920 em Montparnasse representam um momento único na historia da cultura e das artes. Como raras vezes aconteceu em um único bairro, se congregaram algumas das figuras mais importantes de uma geração que tentava superar a carnificina da Primeira Guerra Mundial.

Dentre tantos personagens ilustres, a história da jovem Alice Prin, conhecida como Kiki, reúne em uma única vida todo o zeitgest do período e aponta toda a genialidade e visão de uma mulher à frente de seu tempo.

Carismática e cativante, a jovem conquistou todos à sua volta, sendo inclusive eleita a rainha de Montparnasse. Nesta graphic novel essas qualidades de Kiki, que conquistaram Man Ray, Foujita, Ernest Hemingway e Kisling se mantêm vivas, o que faz deste um trabalho de destaque, uma leitura atraente.

Modelo, pintora, cantora e dançarina, Kiki teve presença ativa na vida cultural parisiense. Sempre comparecendo aos cafés, ela conheceu e foi modelo de grande parte dos artistas que passaram pelo bairro.

Com uma vida tomada pela polêmica com drogas, álcool e paixões ardentes, Kiki viveu livre dos modelos e do senso comum do seu período. Seu estilo de vida mostrava uma ruptura com a postura que uma mulher deveria ter na época.

O álbum de Catel e Bocquet procura percorrer toda a trajetória dessa importante e esquecida personagem da vanguarda do entreguerras. A historia de Kiki é contada segundo eventos pontuais e marcantes. Embora fragmentada, a narrativa flui com naturalidade.

A reconstrução e seleção dos eventos mostrados é resultado de uma grande pesquisa feita pelos autores. Como prova é só conferir a extensa bibliografia ao final do volume.

Apesar de se tratar de uma biografia, algumas passagens do texto são ficcionais, como os próprios autores avisam, mas essa saída não tira o valor do material, que consegue ser fiel à historia e à personalidade de sua personagem.

Catel tem um estilo bem particular. Seu traço simples evoca com eficiência os lugares, o clima e a moda dos anos 1920. A desenhista tem uma atenção especial na forma e nas expressões dos personagens. Da garota do interior que chega a Paris à mulher independente, marcada pela vida e pelo peso de seus vícios, as expressões de Kiki revelam de forma natural a passagem do tempo.

Assim, a personagem realmente cresce ao longo do álbum.

Kiki de Montparnasse é um trabalho indispensável. Desde seu lançamento, o álbum coleciona prêmios, como o Prix Essentiel Fnac SNCF, no Festival de Angoulême, de 2008.

A edição da Galera Record mantém um bom nível de qualidade. Além da já comentada biografia, o álbum ainda conta com uma cronologia da vida de Kiki e o perfil dos artistas cuja vida cruzou o caminho da rainha de Montparnasse.

Mas há tropeço no trabalho de edição: mencionar José-Louis Bocquet como cenarista, um erro de tradução, na verdade, já que a palavra francesa scénariste significa roteirista em português.

Classificação:

5,0

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