Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
OUÇA
[adrotate group="9"]
Reviews

LA PERDIDA

1 dezembro 2012

LA PERDIDA

Editora: Pantheon Books - Edição especial

Autora: Jessica Abel (roteiro e arte) - Publicado originalmente em La Perdida # 1 a # 5, pela Fantagraphics Books.

Preço: US$ 16,95

Número de páginas: 272

Data de lançamento: Março de 2006

Sinopse

Carla, uma jovem norte-americana com descendência mexicana por parte de pai, viaja para a Cidade do México com o objetivo de "encontrar a si mesma."

Na esperança de reatar com seu antigo "ficante", Harry, um filhinho de papai que decidiu seguir os passos de seus heróis William S. Burroughs e Jack Kerouac, Carla passa seus dias conhecendo a cidade e tentando aprender espanhol, e já não tem vontade alguma de ir embora.

Quando o relacionamento com Harry chega ao fim, a moça segue com seu próprio grupo de amigos mexicanos, fazendo vistas grossas para as incoerências de seus discursos anti-imperialistas.

Positivo/Negativo

O número de leitoras de quadrinhos vem aumentando consideravelmente em todas as partes do mundo, e muitas delas começaram a sentir vontade de produzir suas próprias HQs. Por isso, está se tornando comum ver mulheres que escrevem e desenham quadrinhos autorais ou são contratadas por renomadas editoras norte-americanas.

Um bom exemplo é Jessica Abel, vencedora dos prêmios Harvey e Lulu pela série Artbabe, em 1997.

Abel é professora de artes visuais na School of Visual Arts de Nova Yorke, e, junto com seu marido, o desenhista Matt Madden, publica livros teóricos sobre a produção de quadrinhos, como: Drawing Words & Writing Pictures e Mastering Comics.

Apesar de ser bastante conhecia pela graphic novel Life Sucks, feita em parceria com Gabriel Soria e Warren Pleece, seu trabalho mais ousado foi a série La Perdida, publicada originalmente em cinco edições, de 2001 a 2005, e compilada em formato álbum no ano de 2006, pela Pantheon Books.

Entre 1998 e 2000, Abel morou na Cidade do México com Madden, seu namorado à época. Essa experiência de viver em uma cultura tão distinta a inspirou a escrever La Perdida.

A obra mostra as desventuras de Carla Olivares, uma jovem de vinte e poucos anos, filha de uma norte-americana com um mexicano, que embarca para a Cidade do México em busca das suas raízes latinas.

Carla se ressente por ter sido seu irmão caçula o escolhido para morar um tempo com seu pai, ficando ela alheia a uma cultura que reverenciava. Por isso, mesmo portando visto de turista, sua intenção era permanecer no México tanto tempo quanto lhe fosse possível, fato não mencionado ao seu antigo "ficante", Harry, que fica bastante aborrecido ao descobrir as ideias da moça.

Como Harry tem apenas amigos expatriados, não se relaciona com a população local e passa a maior parte do tempo bêbado, tentando escrever tal qual William Burroughs e Jack Kerouac, Carla vai perdendo o interesse nele e no seu estilo de vida irresponsável.

Ela, então, mergulha de cabeça na cultura mexicana, aprendendo espanhol e fazendo amizade com Memo e Oscar.

Enquanto Memo a insulta com um pseudo-discurso anti-imperialista, Oscar torna-se seu ombro amigo e eles iniciam um relacionamento. Mas o rapaz é tão sonhador quanto Harry, pois acredita que vender as drogas fornecidas por Ricardo lhe abrirá as portas para seu futuro como DJ.

De tanto discutir com Memo, Carla vai se deixando convencer por suas ideias, rejeitando tudo o que a faça parecer uma "turista alienada", renegando até mesmo sua idolatria por Frida Khalo.

Sem perceber que está sendo usada, ela entra numa grande roubada. Quando as máscaras de seus amigos caem, já é tarde para alegar inocência.

Com textos em espanhol e inglês, Jessica Abel apresenta uma narrativa envolvente, com ares de folhetim, invocando uma discussão interessante sobre a busca por nossos ideais, nossas raízes, nosso lugar no mundo, enfim.

Ao aportar na Cidade do México, com a cabeça repleta de recomendações para não pegar táxi e manter-se afastada de certos distritos, por mais latina que desejasse ser, nem em espanhol Carla sabia se comunicar.

O contato com Harry a fez ver o quão diferentes eram suas visões de mundo, estando ela pronta para negar sua nacionalidade formal e abraçar uma nacionalidade mexicana idealizada, dando de ombros a quem quer que fosse contra sua escolha.

O que ela não quis perceber foi a rejeição dos seus amigos mexicanos à cultura local, totalmente iludidos pelas benesses que a América lhes traria.

O preço pago por sua ingenuidade foi alto, e o que era para ser uma jornada de autodescoberta se transformou numa angustiante perda da sua paz de espírito, consumido pela culpa.

As pinceladas espontâneas de Abel - que não tem medo de abusar das hachuras - acentuam as emoções e dilemas dos personagens ao cadenciar o preto e o branco nas páginas.

Destaque para o fantástico glossário com gírias e expressões espanholas, inserido pela autora nessa edição.

Classificação:

4,0

Leia também
[adrotate group="10"]
Já são mais de 570 leitores e ouvintes que apoiam o Universo HQ! Entre neste time!
APOIAR AGORA