Le Chevalier – Arquivos Secretos
Editora: Avec – Edição especial
Autores: A. Z. Cordenonsi (roteiro) e Fred Rubin (desenhos).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 64
Data de lançamento: Dezembro de 2016
Sinopse
As aventuras em quadrinhos de Le Chevalier, o maior agente secreto de uma versão steampunk da França.
Positivo/Negativo
Quando começam a surgir casos frequentes de pessoas envolvidas em determinada cena cultural vindas de um mesmo local, diz-se que existe alguma coisa na água da cidade. Se for assim, pode-se dizer que a de Santa Maria, cidade gaúcha a 250 quilômetros de Porto Alegre, quando bem aquecida gera um vapor de ótima qualidade. É de lá que tem surgido, nos anos recentes, uma nova onda steampunk brasileira, na forma primeiramente de contos e romances do gênero e, mais recentemente, quadrinhos.
Esta obra é a mais recente dessa leva de autores que já revelou Nikelen Witter (que estreou na coletânea Steampink, da Editora Estronho) e Enéias Tavares (autor do romance A lição de anatomia do temível Dr. Loison, da Leya). Andre Zanki Cordenonsi já havia lançado seu próprio livro, Le Chevalier e a exposição internacional, pela Avec Editora em 2015, com as aventuras do maior agente secreto francês do Século 19.
Agora, em parceria com o ilustrador Fred Rubin (nascido em Porto Alegre, mas formado em Desenho Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria), ele transporta seu personagem e seu universo steampunk para o mundo das graphic novels, novamente com o selo da Avec na capa.
Não é propriamente uma continuação do livro, pois o álbum Le Chevalier – Arquivos Secretos traz aos leitores duas aventuras inéditas e independentes do protagonista e seu parceiro de luta, o legionário tunisiano ironicamente chamado de Persa (em uma das HQs, Contra o Dínamo Rubro, a dupla ainda conta com a participação de sua contraparte russa, a espiã loira Alexandra). Ambas as tramas privilegiam a ação e a interação dos personagens tanto com outras criações ficcionais, como com personalidades históricas.
Um bem-vindo glossário no final esclarece principalmente as ligações históricas daquele mundo com o nosso, sem estragar o prazer que o leitor pode encontrar ao pesquisar por conta própria as interações com a ficção vitoriana.
O texto de Cordenonsi é bem afiado e cheio de ótimas sacadas, apostando na clássica interação entre o protagonista sério com um parceiro que, apesar de útil como colega de armas, também é o alívio cômico.
A arte de Rubin, estilizada e quase minimalista, casa tão bem com o cenário quanto é a parceria entre Alan Moore e Kevin O'Neill na série Liga Extraordinária. A união de seu traço expressivo com as cores sem exageros faz pensar em como ficariam bem essas narrativas também na forma de animação, em um estilo próximo ao de Bruce Timm com Batman e outros personagens da DC.
Vale muito ressaltar a liberdade de autores brasileiros em explorar temas que, em um primeiro momento, são tão distantes no tempo e no espaço de nosso país. Se no romance de Le Chevalier aparecia menção a um agente secreto daqui, em sua encarnação da nona arte não há sinal evidente de ligações verde-amarelas.
O caso desta graphic novel com formato europeu lembra bastante Docteur Mystére, da Sergio Bonelli Editora. Aquele personagem, também por trás de um nome francês, é um indiano chamado Rama Rundjee, que mora na Inglaterra vitoriana e foi criado pelos italianos Alfredo Castelli e Giancarlo Alessandrini. Por lá, não espanta em nada essa atitude cosmopolita dos criadores. Portanto, que essa seja também cada vez mais a realidade no mercado do Brasil também.
Classificação
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