LEÃO NEGRO - VOLUME 1 - PEPAH
Autores: Cynthia Carvalho (texto, esboço e tonalização), André Mendes e Danusko Campos (desenhos).
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 56
Data de lançamento: Fevereiro de 2008
Sinopse: Othan, o Leão Negro, encontra por acaso Pepah, sua filha com a pantera Pantah. Mas ele não esperava que seu outro filho, Kasdhan, tivesse uma queda pela meia-irmã.
Positivo/Negativo: O Leão Negro foi um personagem marcante nos quadrinhos brasileiros. No suplemento infantil do jornal O Globo, ainda nos anos 1980, se destacava por ser diferente tanto do material estrangeiro quanto daquele que era produzido aqui. Acabou ganhando até álbuns no exterior.
Um projeto para retomar o universo do personagem merece, portanto, atenção e cuidado, algo que a edição da HQM faz bem. Antes de tudo, é um álbum simples, mas com bom acabamento. Além disso, tem apresentação dos personagens, uma breve biografia dos autores e uma página com a síntese do processo de criação.
O problema é que uma boa HQ não se sustenta apenas com os méritos do passado e uma edição competente. E é justamente na história que o álbum falha. Pior: é em um detalhe, a tal da tonalização.
Explica-se: o miolo do álbum é impresso em preto-e-branco. Mas isso não quer dizer que haja apenas o papel branco e as linhas pretas do desenho. Há, como em um filme antigo, diversos tons de cinza. Eles servem para dar idéia de profundidade, de volume, até mesmo para criar a sensação de luz e sombra e simular cores que não estão lá.
Até aí, tudo bem: há muita arte em tons de cinza que funciona. O artista pop Jasper Johns, que sempre abusou das cores, acaba de inaugurar uma exposição em Nova York em que predominam os cinzas, e é um trabalho brilhante.
Mas não é o caso dos tons de cinza que a própria Cynthia, criadora do personagem, aplicou nas páginas deste álbum. Há muitos problemas com eles. A começar pelo descompasso: os tons sequer seguem a mesma proposta estética do começo ao fim.
Nas primeiras páginas, eles contornam a arte, dando a impressão de que formam uma aura nos personagens. Mais adiante, assumem a forma de texturas. Em alguns poucos pontos, o efeito até funciona, mas fica a impressão de que o acerto é quase obra do acaso.
Há nos quadrinhos a idéia de que a aplicação de cor é um trabalho menor, o que é uma bobagem imensa. Uma boa cor salva uma arte mediana. Mas tons mal aplicados matam não só a arte, mas a história como um todo.
É o caso de Pepah: como o cinza pesa muito, acaba prejudicando não só a arte, mas, ao se impor como um desafio para o leitor, afeta por tabela a própria narrativa.
A certa altura, o roteiro competente de Cynthia, que arma uma grande tragédia familiar e só se perde um pouco no final, deixa de ser importante.
O trabalho dos dois desenhistas, que na reprodução minúscula da página dedicada ao processo de criação chega a empolgar, também não sobrevive, mesmo que haja alguma qualidade no que dá para enxergar por baixo do cinza.
Até mesmo o bom trabalho da HQM perde o impacto, porque a edição é bonita, mas a feiúra do miolo se revela ao folhear.
Depois do cinza equivocado, reerguer Pepah parece quase impossível.
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