LEGIÃO DOS SUPER-HERÓIS - A SAGA DAS TREVAS ETERNAS
Autores: Prelúdio das trevas - Paul Levitz (texto), Pat Broderick (desenhos), Larry Mahlstedt (arte-final) e Carl Gafford (cores);
A saga das trevas eternas - Paul Levitz (texto), Keith Giffen (co-argumento e desenhos), Larry Mahlstedt (arte-final) e Carl Gafford (cores);
A maldição - Paul Levitz (texto), Keith Giffen (co-argumento e desenhos), Curt Swan (desenhos), Romeo Tanghal (arte-final) e Carl Gafford (cores).
Preço: R$ 28,90
Número de páginas: 192
Data de lançamento: Abril de 2008
Sinopse: A saga das trevas eternas - Em pleno século 30, um inimigo misterioso - e muito, muito poderoso - começa a expandir seus domínios, ameaçando a Legião dos Super-Heróis.
A maldição - Mordru desperta e ataca a Legião.
Positivo/Negativo: Um bom editor, coisa rara de se ver, é capaz de salvar uma obra ruim, corrigindo seus rumos, alterando passagens e até mesmo interferindo na estrutura do trabalho.
Já um editor desleixado, espécie abundante, pode afundar de vez uma boa obra em um só golpe.
Este volume de A saga das trevas eternas resulta de um trabalho de um mau editor - ou mesmo de um punhado deles.
Explica-se: o grande mote da série é o surgimento de um novo vilão no século 30. Desde as primeiras páginas, sabe-se que o sujeito é superpoderoso. Mas, na trama, sua identidade é um enigma. A certa altura, ele até ganha um codinome: Mestre das Trevas. Aos poucos, outras pistas são espalhadas ao longo do roteiro. Mas a revelação de fato só se dá no final do penúltimo capítulo, já à beira do clímax.
O segredo não é por acaso. Nem frescura. Pelo contrário: é o principal elemento da narrativa. Foi por causa desse mistério que a história, publicada originalmente em capítulos, ganhou força e fama.
Mais que isso: se instalou no coração dos leitores e lá ficou como registro de um grande momento de uma série especial de histórias: a lendária Legião de Paul Levitz e Keith Giffen.
Só que, nesta edição, a identidade do vilão foi revelada precipitadamente: Darkseid é a principal figura na capa do álbum. Com isso, eliminou-se o suspense. E, de quebra, a história perdeu boa parte da sua graça.
A falta de tato na escolha da imagem é chocante. Para dar uma idéia da gravidade: o vilão é nomeado na página 108 - e a história acaba na página 149!
O resultado do trabalho do mau editor é transformar as cem primeiras páginas da trama em uma grande enrolação em cima de um mistério já revelado. Graças a isso, esta versão de A saga das trevas eternas só engrena quando está prestes a acabar.
Originalmente, a mancada foi da DC Comics. O encadernado norte-americano tem uma capa praticamente idêntica, com a mesmíssima arte em que os integrantes remanescentes da Legião dos Super-Heróis cultuam o senhor de Apokolips.
A explicação, óbvio, não redime a Panini, responsável pela versão nacional, que também não entendeu a natureza do material que tinha em mãos, limitando-se a apenas a traduzi-lo e apará-lo.
O papel de um editor, no caso, é encontrar uma solução - mesmo que seja, se for o caso, renegociar cláusulas de contrato que eventualmente coíbam a alteração de elementos editoriais.
É uma pena que isso aconteça justamente em um momento em que a Legião dos Super-Heróis está em evidência. Há um desenho animado com os personagens em exibição na TV aberta, além de uma série publicada regularmente na revista Os melhores do mundo. Outro destaque é a participação na série A saga do relâmpago, em que os aventureiros futuristas se reúnem com a Liga da Justiça e a Sociedade da Justiça.
Sem o erro editorial, o cenário seria diferente. A trama teria mais punch e fluiria melhor.
Contudo, não dá para ignorar que A saga das trevas eternas não envelheceu bem. A história foi publicada em 1982, antes de obras canônicas como, por exemplo, Watchmen e O Cavaleiro das Trevas. Quando se trata de histórias de super-heróis, essas HQs alteraram o que se entende por boa narrativa.
Produzida sob os preceitos do cânone anterior, a série é verborrágica e abusa de recordatórios, o que reforça a sensação de que a trama está arrastada.
Outro defeito notável é a construção das seqüências de ação. Apesar de ter muita pancadaria, há cenas inteiras que não passam de um único quadro, ignorando uma idéia primordial dos quadrinhos: a de que é a transição que cria o ritmo.
Por fim, o desfecho da trama, com um ex machina surgindo do passado, é mais um banho de água fria no leitor - que, a essas alturas, já está escaldado.
Noves fora, ainda há o que se salve nesta edição catastrófica. Não é muito, é verdade, mas a página dupla 132-133, baseada no teto da Capela Sistina de Michelangelo, é uma cena luminar, em que cada gesto, cada postura dos personagens parece ter significado.
Há, ainda, outro acerto fundamental: Darkseid. Apesar dos pesares desta edição, justiça seja feita, na trama em si, como concebida originalmente, o vilão tem uma presença espetacular.
Criado por Jack Kirby, é um dos oponentes mais fascinantes da DC Comics. Seu carisma é imbatível. É o vilão, aliás, que salva o álbum, motivando o leitor a fingir que não viu a capa para curtir a história.
Afinal, Darkseid compensa até mesmo dos dois erros de digitação da contracapa: "im (um) mal secular" e Super Heróis (no nome da equipe), sem hífen. E também o fato de a Panini não colocar uma nota de rodapé sequer informando ao leitor que A maldição se passa tempos depois da Saga das trevas eternas. Um fã menos atento pode ficar "boiando" com as mudanças que acontecem de uma aventura para outra.
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