LIBERTY MEADOWS - LIVRO 1 - ÉDEN
Título: LIBERTY MEADOWS - LIVRO 1 - ÉDEN (HQM
Editora) - Edição especial
Autor: Frank Cho (roteiro e arte).
Preço: R$ 32,90
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Junho de 2007
Sinopse: Esta série de tiras criadas por Frank Cho e publicada em vários jornais norte-americanos mostra o cotidiano de Liberty Meadows, uma inusitada reserva ambiental para animais que perderam seu habitat natural.
Entre os divertidos personagens da série estão Brandy, a psiquiatra; Frank, o veterinário; Julius, o dono da reserva; e os animais: Ralph, um urso anão ranzinza; Leslie, um sapo-boi hipocondríaco; Dean, um porco alucinado; e Truman, um filhote de pato.
Positivo/Negativo: O Brasil sempre teve uma forte tradição de HQs de humor, mas, nas últimas décadas, as páginas dos jornais dedicadas às tiras tiveram pouca renovação, principalmente as internacionais.
Por um lado, é bom para que nossos jornais invistam mais em tiras nacionais, mas por outro é uma pena que o material importado fique monopolizado por grandes clássicos, na sua maioria republicações, não apresentando excelentes artistas que produzem material para periódicos de diversos países.
Felizmente, as editoras atentaram para isso e as coletâneas de tiras têm sido cada vez mais freqüentes.
Liberty Meadows é um desses exemplos de uma tira fantástica pouco conhecida no Brasil. O autor, Frank Cho, é um artista relativamente popular entre os fãs de revistas de super-heróis, principalmente os leitores da Marvel, na qual ele sempre está desenhando um título ou outro e deslumbrando a todos com suas mulheres sensuais.
Contudo, Liberty Meadows, o trabalho que lhe garantiu a projeção para entrar nas grandes editoras, permanecia inédito por aqui.
É interessante que esta série apresenta um material com um refinamento muito, mas muito superior ao que o artista exibe em suas histórias em quadrinhos. Aqui, pode-se ver que ele não é apenas um desenhista de pin-ups maravilhosos, mas sim um artista capaz, inclusive, de trazer fortes conceitos de narrativa visual para dentro de um espaço tão limitado como o de uma tira.
Cho perverte com genialidade a estrutura tradicional das tiras de três quadros, usando várias idéias bastante comuns nas histórias em quadrinhos de revistas. Ele tem um incrível aproveitamento do espaço, insere perspectivas inusitadas, "deita a cena", tudo para mostrar com mais eficiência sua idéia.
Além disso, freqüentemente trabalha com uma idéia de seqüência sem divisão de quadros, conseguindo representar coisas que exigem muitos movimentos, como danças ou todas as etapas de um espirro.
Ainda nessa linha de fugir dos padrões das tiras, Cho usa muita metalinguagem, fazendo os personagens interagirem com as bordas dos quadros, inclusive citando as molduras das histórias. Aliás, nesse sentido, é imperdível a da página 109, em que Leslie amarra uma corda na moldura de um quadro e a tira é puxada para dentro de um buraco.
Não só a narrativa visual de Frank Cho surpreende, mas também seu desenho altamente versátil. Tanto quem já conhecia o trabalho do artista, como quem o está descobrindo agora vai se admirar com a capacidade de variação de uma arte sutil e realista, como o dos personagens humanos, para o cartunesco e caricato dos animais.
Mais do que isso, ele mostra em diversas cenas que pode trabalhar com um traço bem rebuscado e clássico, caso a história precise disso.
Como um bom desenho não basta para fazer uma HQ excelente, é preciso elogiar, também, o roteiro e as piadas de Cho. Uma coisa ou outra pode até ser repetitiva, afinal, produzir uma tira e ter uma idéia nova a cada dia não é simples.
Contudo, assim como nos desenhos, o autor consegue dar nuances em tudo e deixar as histórias bem interessantes.
Isso sem contar o número absurdo de referências que ele faz a diversos elementos da cultura pop, como seriados, filmes e música. A quantidade de citações, transcrições de falas e diálogos é tão grande que o guia de referências feito na edição nacional é praticamente página a página.
A HQM surpreendeu pelo excelente trabalho neste álbum, mantendo seu formato original, colocando sobrecapa, galeria de capas coloridas e o guia de referências. Este último, que deve ter dado um belo trabalho de pesquisa, ficou bem bacana e ajuda o leitor a captar diversas citações.
Contudo, nas próximas edições a editora poderia deixá-lo mais conciso e retirar algumas redundâncias que podem deixar a leitura cansativa, como, por exemplo, em toda a aparição da Xena dizer que o seriado foi citado nesta ou naquela tira.
Vale dizer que, apesar do guia ajudar os leitores a captarem diversas referências, ele não é essencial. O texto foi bem adaptado e as piadas funcionam para quem desconhece as menções. Assim, esse bônus passa a ser mais uma curiosidade, algo para uma segunda leitura, que inevitavelmente vai acabar acontecendo.
No geral, é um álbum fantástico que vale cada centavo, com o trabalho de um artista com potencial para ser um grande nome das tiras de jornais. Frank Cho tem uma mistura ideal com fortes influências dos geniais Peanuts e Calvin, mas sem a pretensão de fazer algo poético como eram esses trabalhos.
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