LINA
Editora: Estação
Liberdade - Edição especial
Autores: Cristina Judar (texto) e Bruno Auriema (arte).
Preço: R$ 35,00
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Novembro de 2009
Sinopse
Afonso, avô da jovem Lina, é dono de um antiquário. Quando ele morre, deixa para a neta uma caixa de objetos antigos - que a fazem viajar para lugares misteriosos do passado.
Positivo/Negativo
Não é todo dia que se tem uma surpresa como Lina. Ou melhor: um pacote de surpresas.
A primeira é Cristina Judar, a roteirista, que já chama a atenção por ser mulher em uma área que briga pra não ser um Clube do Bolinha. Ela é estreante. Não em álbum: Lina é sua estreia mesmo, a moça nunca havia escrito quadrinhos. E, mesmo assim, fez um belo trabalho.
Depois, vem Bruno Auriema, que não é estreante porque tinha publicado no mercado norte-americano. Mas tinha largado as HQs, estava fazendo só ilustrações e trabalhos para propaganda. E então reaparece com uma arte bonita demais.
E então vem a história, protagonizada por uma garota incrível chamada Lina, que a dupla define bem em um punhado de páginas. Ela fica consistente o suficiente para passar por uma série de situações surreais, que envolvem uma caixa cheia de objetos antigos e supostas viagens ao passado - reais, alucinógenas ou metafóricas, não importa.
O tom da trama é sensível, melancólico, com uma pegada urbana bem contemporânea - mesmo com a mistura de tempos e espaços.
No roteiro, a propósito, está o maior ponto fraco de Lina: aqui e acolá surgem umas falas duras, artificiais, que não chegam a comprometer, mas incomodam. Expressões como "adeptos de várias tribos" e "já não há mais vida" soam inverossímeis na cabeça de uma jovem urbana como Lina. Detalhes, claro, mas que devem ser apontados.
A arte de Auriema é muito bonita mesmo. E também elegante, com cores amenas, uns resquícios de grafite bacanas aqui e acolá. O resultado é um visual contemporâneo, sem forçar a barra nem mesmo nas roupas dos personagens.
(Já notou que tem muito quadrinhista que nunca reparou em como pessoas normais se vestem? Não é o caso de Auriema, ainda bem.)
Por fim, uma última surpresa boa: o álbum, ainda bem, acabou entre os escolhidos pelo cobiçado Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo - Proac, desbancando até mesmo nomes bem mais conhecidos que os de Cristina e Auriema. E foi publicado pela Estação Liberdade - que, surpresa, não costuma editar HQs.
E aí vem a má notícia. Pena que nem mesmo com o incentivo de R$ 25 mil do programa governamental tenha ajudado a amortizar o preço do álbum. Cada exemplar custa R$ 35,00. E é nessa hora que o anonimato da dupla atrapalha: eles estão disputando espaço e vendas nas livrarias com nomes consagrados, com edições mais acessíveis. Com tantos lançamentos, muito leitor não tem folga no orçamento para apostar em algo diferente.
Mas, se a opinião de um comentarista vale alguma coisa, o risco que Lina oferece é muito pequeno. É uma daquelas apostas certeiras, que surgem só às vezes e valem a pena.
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