LINHA DE ATAQUE - FUTEBOL ARTE
Editora: (Abril Comics) - Edição especial
Autores: Walter Casagrande Jr., José Trajano, Armando Nogueira e Marcelo Fromer (argumento), Roger Cruz, Octavio Cariello, Marcelo Campos e Rogério Vilela (roteiro e arte).
Preço: R$ 3,90
Número de páginas: 32
Data de lançamento: Junho de 1998
Sinopse
Grandes comentaristas esportivos se unem a autores de quadrinhos para contarem histórias sobre o esporte mais querido do brasileiro
Positivo/Negativo
1998 foi um ano estranho para a Abril. Os quadrinhos norte-americanos publicados pela editora vendiam menos do que antes, muito por causa da terrível crise de criatividade que tomou conta dos universos heroicos da DC e da Marvel nos anos 90. Então, surgiu a oportunidade propícia para executar um movimento apenas ensaiado no passado: a criação de um selo nacional, pronto para publicar quadrinhos feitos no País.
Em junho daquele ano, foi lançado o pilar desse selo, a minissérie Terra 1, de Sérgio Figueiredo (então editor da Abril) e do norte-americano David Campitti, agente de quadrinhos e editor de Crepúsculo dos Super-Heróis (Hero Alliance: End of the Golden Age), que teve dois números lançados no Brasil pela Ebal/Elipse.
Terra 1 foi também o crepúsculo do projeto de heróis da Abril e, consequentemente, de seu selo de quadrinhos. Uma história que começou interessante e terminou de modo lamentável, que merece ser contada um dia.
Mas a verdade é que o selo teve outro título, uma edição especial sobre futebol: Linha de Ataque.
A revista, publicada em junho de 1998, era oportunista: o Brasil ganhara a última Copa do Mundo, em 1994, e era franco favorito para conquistar o pentacampeonato. A ideia era mesmo interessante: unir grandes nomes da crônica esportiva nacional com novos craques do quadrinho brasileiro. Tinha tudo para dar certo.
Por que não deu?
Um dos principais motivos foi a falta de entrosamento entre os dois times. Era mais ou menos como se a defesa e o ataque não se comunicassem em momento algum. Os editores, Sérgio Figueiredo e Jotapê Martins, fizeram o máximo para alinhavar o meio de campo. Mas a verdade foi vista na prática: uma atuação capenga, por pouco não beirando o sofrível.
A história mais inventiva é, certamente, a produzida pela dupla Casagrande e Roger Cruz. Utilizando animais antropomorfizados para reproduzir o clima do jogo de abertura daquela Copa, entre Brasil e Escócia, tudo dá certo nessa parceria em que argumento e roteiro andam juntos.
É possível reconhecer claramente os astros daquela seleção, como Ronaldo, Taffarel e o velho Lobo, Zagallo. Tem até dancinha na comemoração. A única coisa que erraram na "previsão" foi o placar (nos quadrinhos, 3 a 2 para o Brasil, na vida real, um 2 a 1 magro e decidido em um gol contra).
A história de José Trajano e Octavio Cariello segue um ritmo policial. Nela, um capitão de polícia carioca radicado em São Paulo comanda uma operação durante um jogo do Paulistão em pleno Pacaembu.
O resultado é uma trama movimentada, que culmina (com o perdão do spoiler) num atentado terrorista que destrói parte do estádio. No entanto, o casamento entre argumento e roteiro é frio: um se encontra nos balões e na ação, o outro nos recordatórios.
A terceira história é a parceria entre Armando Nogueira e Marcelo Campos. Certamente, o pior entrosamento da edição. O jornalista, falecido nesta semana, tinha a sensibilidade de trazer para as letras as sutilezas do esporte e dos fatos. Principalmente do futebol, sua grande paixão. E ele tentou fazer isso com esta história sobre um jogo de várzea.
O problema foi convocar Marcelo Campos para tabelar com Nogueira. O que era poesia virou violência grotesca, o que deveria ser um conto emocionante se tornou uma história banal. Certamente por isso a passagem do mestre Armando pelos gramados dos quadrinhos é tão pouco lembrada.
Fecha a edição a história de Marcelo Fromer e Rogério Vilela. A arte, riquíssima, não ameniza a grande quantidade de texto não linear na narração comentada por dois amigos de um Corinthians e Guarani do Paulistão de 1998.
A história de Fromer, com bons elementos e personagens bem estruturados, se perde nos detalhes quanto transposta para o roteiro de Vilela. O resultado é uma sequência fraca, que procura terminar visualmente com grande impacto, mas com pouca empatia nas letras.
A edição, curtíssima, de 32 páginas, possui apenas 26 de quadrinhos. Pouco para empolgar e irregular para angariar fãs. De fato, à época, recebeu muito mais críticas do que elogios.
No final, tanto o título quanto o selo Abril Comics não passaram pelo mata-mata inicial que é o campeonato disputado mensalmente nas bancas brasileiras, no qual apenas os mais fortes sobrevivem. Sintomaticamente, marcou também, de modo sutil, o começo do fim dos quadrinhos não infantis na editora.
De resto, lamenta-se apenas o desperdício potencial de talento numa ideia que realmente era boa. E que foi mais bem executada, apenas por craques do traço, quatro anos mais tarde, com o competente Dez na área, um na banheira e ninguém no gol, editado pelo mesmo Jotapê Martins. Afinal, nada como a experiência para auxiliar no caminho das vitórias.
Em ano de Copa, é bom ficar de olho. Quem sabe outro time de craques dos quadrinhos não esteja se preparando para entrar com tudo em campo até junho?
Classificação: