LOST GIRLS
Título: LOST GIRLS (Top
Shelf) - Edição especial
Autores: Alan Moore (texto) e Melinda Gebbie (arte).
Preço: US$ 75
Número de páginas: 264
Data de lançamento: Agosto de 2006
Sinopse: Em 1914, às vésperas de estourar a I Guerra Mundial, três
mulheres se hospedam em um hotel austríaco. São elas Wendy (de Peter
Pan, de J.M. Barrie), Alice (de Alice no País das Maravilhas
e Através do Espelho, de Lewis Carroll) e Dorothy (de O Mágico
de Oz, de L. Frank Baum), outrora meninas, agora mulheres adultas.
Ao longo da estada, as três compartilham histórias de suas vidas sexuais
- e arriscam novas experiências.
Positivo/Negativo:
A grandiosa obra de Alan Moore e Melinda Gebbie começa antes mesmo do
primeiro quadrinho. Para se encantar, basta olhar e tocar a edição da
Top Shelf de Chris Staros. As dimensões são impressionantes: 31,5
x 23,4 x 6,9 cm. Por fora, há uma caixa cartonada lilás com três milímetros
de espessura, detalhes em dourado reluzente e uma imagem pintada das três
garotas.
Dentro, há três volumes. Cada um possui uma sobrecapa. Por baixo, a capa
forrada de tecido e com o título em aplicação de dourado em relevo. O
miolo, em papel fosco de alta gramatura, é costurado. A impressão é impecável.
Assim, Lost Girls se transforma em uma das mais belas edições já
feitas para uma história em quadrinhos - num patamar que poucas vezes
se viu em qualquer lugar do mundo e é absolutamente inédito no Brasil.
Mas não é só o acabamento que encanta em Lost Girls. A HQ em si
é uma peça fantástica e profundamente inovadora. O próprio Moore, em diversas
entrevistas, a definiu como pornografia. E é mesmo: tem masturbação, sadomasoquismo,
homossexualismo, bestialismo e incesto em todas as posições e com todos
os gêneros que o leitor pensar.
Mas a pornografia de Moore e Gebbie vai muito, mas muito além das revistinhas
de sacanagem rasteiras. Enquanto seus personagem transam, os autores fazem
uma verdadeira suruba de referências culturais, uma bacanal de escritores
como Apollinaire, Oscar Wilde e Pierre Loüys e pintores como Egon Schiele
e Alfons Mucha.
Em alguns dos melhores momentos da HQ, Moore emula o estilo dos escritores
em malabarismos surpreendentes com a língua inglesa e Melinda, colossal
artista que é, desenha como se fosse o próprio Schiele.
Ao mesmo tempo, lá estão Alice, Dorothy e Wendy, personagens de livros
surgidos entre a segunda metade do século 19 e começo do século 20, encantando
crianças e adultos nos últimos 100 anos tanto em suas versões originais
como em milhares de adaptações nas mais diversas mídias, de peças de teatro
a games de computador.
Nas versões originais, cada uma das três descobriu um mundo de fantasia
profundamente encantador - o País das Maravilhas e o País dos Espelhos,
a Terra de Oz e a Terra do Nunca, respectivamente. Em Lost Girls,
esses lugares mágicos se transformam em descobertas sexuais.
Alice é uma garota que, atraída por adultos (e por uma rainha de copas),
experimenta sexo com alucinógenos. Dorothy tem seu primeiro orgasmo (o
tornado) com masturbação, e então segue sua trilha de sexo com os trabalhadores
da fazenda do Kansas. Wendy se envolve com um moleque de rua, Peter, que
vive nos parques de Londres e é seduzido por um pedófilo, o Capitão.
Do começo ao fim, as três jornadas à imaginação se transformam em extraordinárias
fantasias orgásticas e em um hino de glória ao sexo. É como se lê, em
dado momento: "(...) coisas que só podem ser expressas em uma linguagem
que está além da literatura, além de todas as palavras".
Além do texto brilhante, Lost Girls tem uma arte incrível. E, de
certa forma, com uma característica rara para um trabalho de Moore, conhecido
por dar instruções rigorosas a seus artistas, com descrições quadro a
quadro detalhadíssimas.
Muitas vezes, isso faz com que quase se perceba a mão do roteirista segurando
o lápis de quem desenha - o que nem sempre é ruim, diga-se de passagem.
Mas, em Lost Girls, embora Moore ainda esteja sempre presente,
Melinda tem um trabalho avassalador. Seu traço flui delicadamente, é perfeito,
sem excessos e consegue dissociar pornografia e vulgaridade.
É um trabalho surpreendente, muito superior ao da outra (e também belíssima)
parceria dela com Moore, a série Cobweb, publicada pela America's
Best Comics na antológica revista Tomorrow Stories. Há, ainda,
outro belo reforço no time visual de Lost Girls: o conceituado
letrista Todd Klein (de trabalhos marcantes e difíceis como Sandman).
Mais uma vez, Klein é memorável.
Ainda que Lost Girls tenha começado a ser publicada em 1991, na
extinta revista Taboo (lá saíram os seis primeiros capítulos, depois
compilados pela Kitchen Sink em dois volumes), a obra continua
a ser atualíssima e ousada. Tanto na narrativa, que tem estilos diferentes
para cada personagem (a de Alice, por exemplo, é sempre oval), quanto
em um outro tema, que se revelará no último volume, com a chegada do exército
alemão - é a guerra, que é considerada pelas três protagonistas uma pavorosa
perversão.
O leitor interessado em Lost Girls tem duas opções. A primeira
é procurar a edição de janeiro deste ano. As duas anteriores, de agosto
e outubro de 2006, de dez mil exemplares cada, estão esgotadas. Apesar
do preço de capa, livrarias virtuais fazem promoções em que o livro fica
em torno dos US$ 40 (mais frete).
Outro caminho é esperar mais um pouco pela versão brasileira. A Devir
promete publicar Lost Girls em março deste ano, dividindo a obra
em três volumes - os outros dois sairiam em julho e dezembro.
Pelo que foi noticiado, a edição nacional terá capa dura e papel de alta
gramatura. Mas não virá com a caixa.
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