LUCILLE
Editora: Leya / Barba Negra - Edição especial
Autora: Ludovic Debeurme (roteiro e arte) - Publicado originalmente em Lucille.
Preço: R$ 54,90
Número de páginas: 544
Data de lançamento: Outubro de 2011
Sinopse
Lucille é uma jovem insatisfeita com seu corpo, sua casa, sua falta de amigos, seu relacionamento com a mãe e sua vida toda. Não parece haver coisa alguma que a faça feliz.
Arthur é filho de um pescador e parece não ter muitas perspectivas na vida além de seguir os passos de seu pai.
Mas, de alguma forma, as tragédias pessoais dos dois jovens os levam para um mesmo lugar.
Positivo/Negativo
A leitura de Lucille é pesada. E não pela grande quantidade páginas do álbum, mas sim pelo tratamento dado às suas temáticas.
Trata-se, afinal, da história de dois personagens perdidos e desencontrados em suas vidas e de que maneira é possível que eles se encontrem. Lucille é depressiva e anoréxica, enquanto Arthur é um jovem desesperançado e amargo - não é à toa que ele diz ser mensageiro de Satã em uma das cenas da HQ.
O traço de Ludovic Debeurme é fino, estilizado e bastante limpo, sem sombras ou hachuras. Esse desenho leve e bonito contrasta com o peso e a ausência de luz da trama.
Merece menção também a qualidade e a inteligência das metáforas visuais que o artista cria em diversas páginas do álbum.
Outro aspecto contrastante da HQ é a ausência de requadros versus o sufoco e a falta de saída para o futuro dos protagonistas da trama.
A não demarcação das bordas e os poucos quadros por páginas dão um respiro ao leitor. Respiro que não preenche os pulmões com ar fresco, mas com um bafo quente da dureza da vida e das relações de Lucille e Arthur.
Debeurme usa mais uma oposição importante entre forma e conteúdo: a velocidade da passagem das páginas e a morosidade dos acontecimentos na vida dos personagens.
Essa dinâmica irônica de oferecer um lado e mostrar o seu oposto é fundamental para o sucesso da empreitada narrativa do álbum. O leitor é balançado de um lado para o outro, mas nada aconteceu.
O que é uma visão possível sobre a depressão: sentir-se mal, sabendo que não há tantos motivos assim para estar nessa condição, faz com que tudo piore àquele que sofre.
Saber racionalmente que o problema é menor, só aumenta o sentimento de culpa e frustração por não conseguir lidar com algo pequeno. E, independentemente do que se mostram os "fatos", a percepção continua nublada pelo deslocamento do mundo.
Esse casamento de traço e conteúdos oferecem um pedaço disso ao leitor. Não é um livro fácil de confrontar. Mas nem toda a expressão precisa ser de reafirmação da tranquilidade.
Lucille põe o leitor em um lugar que provavelmente ele não gostaria de estar. Mas há, morbidamente, uma estranha satisfação em confrontar nossas sombras. Uma satisfação que envolve uma perda e um ganho e o saber que as coisas mudaram. É isso que está disponível ao leitor: um confronto que é, na verdade, um convite.
Mas há um "algo mais" estranho além de toda a estranheza disponível nesses temas e provocações aos leitores.
Após um satisfatório final, surge a mensagem de que se encerra a parte um. E não há nenhuma má-intenção da Leya / Barba Negra aqui. Pelo contrário, a editora fez um belo trabalho.
A continuação da história foi lançada na França em 2011, cinco anos depois de Lucille e chama-se Renée - espera-se que a Leya / Barba Negra a traga também para terras brasileiras.
Mas não é difícil pensar que a segunda parte do trabalho de Debeurme se passa no próprio leitor.
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