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LUCY L' ESPOIR

1 dezembro 2008


Autores: Patrick Norbert (texto) e Tanino Liberatore (arte).

Preço: 24,80 euros

Data de lançamento: 2007

Sinopse: A história de Lucy começa há 3,7 milhões de anos, no vale de Afar, na África. Não se trata de uma mulher humana, mas sim de um hominídeo, um de nossos ancestrais, mais precisamente um Australopithecus afarensis.

É nesse lugar que Lucy, grávida, se separa acidentalmente de seu clã durante uma tempestade. O enredo mostra a sua jornada perigosa, indo do parto e da proteção do filho ao encontro de um companheiro.

Positivo/Negativo: "A primeira história de amor do mundo", foi a frase usada pela editora para definir a história na época do lançamento de Lucy.

Lucy é o nome mais conhecido do esqueleto hominídeo AL 288-1, da espécie Australopithecus afarensis. O apelido foi dado na noite de celebração da descoberta, na qual a música Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles, tocou repetidas vezes.

Este esqueleto fossilizado descoberto em 24 de novembro de 1974, na Etiópia, por Donald Johanson e Tom Gray, é uma dos mais importantes achados da antropologia. A equipe deste projeto era composta por quatro norte-americanos e sete franceses, entre eles o famoso Yves Coppens, responsável pela supervisão científica do álbum e pelo texto do posfácio.

O enredo é uma exploração de como teria sido a vida de Lucy há mais de 3 milhões de anos e mostra o passado remoto de nossos ancestrais.

Não existe grande complexidade na trama. A sobrevivência de humanos na selva já foi retratada de maneira científica e em fantasias literárias como, por exemplo, Tarzan, de Edgar Rice Burroughs e o Livro das Selvas, de Rudyard Kipling.

A diferença é que esta é uma jornada mais "realista", uma fantasia baseada nos fatos conhecidos pela ciência.

O fogo, por exemplo, é mostrado durante uma tempestade, quando um raio incinera uma árvore e assusta o clã de hominídeos ao qual Lucy pertence. Eles fogem, e ela, grávida e com dores, fica para trás e se perde do grupo.

A vida nessas sociedades primitivas é explorada em outros momentos, como na introdução de Adão, personagem que é o outro lado desta história de amor. Adão (o nome bíblico do primeiro homem é apropriado, mesmo que a primeira "mulher", neste caso, não seja Eva) é um macho agressivo que disputa a liderança do grupo com um hominídeo mais velho. Quando vencido, ele se afasta. Lucy observa tudo de longe.

Uma seqüência interessante acontece após a derrota, quando o chefe do grupo lasca uma pedra e cria uma ferramenta para cortar a carne de um antílope morto, e divide a caça com seu clã.

Não há diálogos nesta história, que é narrada apenas por recordatórios na terceira pessoa. O leitor é o cúmplice de Norbert, um voyeur não apenas diante da vida de Lucy, mas das magníficas imagens criadas por Liberatore.

São 70 páginas de ilustrações muito realistas, uma mistura de desenho e computação gráfica levada ao extremo, que tomou seis anos da vida do artista. O visual carrega a história e dá credibilidade e humanidade aos personagens.

A arte impressionante e a narrativa descomplicada, na maior parte do álbum, são fatores que resultam em bons momentos de leitura.

Em algumas passagens, os recordatórios são intrusos nesta realidade, resultado de um problema de percepção entre a arte ultra-realista e a representação simbólica da voz do narrador. Esse tipo de contraste entre os elementos da linguagem dos quadrinhos não é incomum e existem muitos trabalhos que apresentam esta característica.

Entretanto, nem todos os leitores encaram a percepção desse contraste como um "problema".

Ao final da história, chega-se à conclusão que, com um pouco mais de planejamento, teria sido possível criar um resultado até mais poderoso se os autores tivessem dispensado a narrativa dos recordatórios. Como não existem diálogos e o narrador está ali para agregar fatos e facilitar a compreensão nos momentos complicados, esta seria uma solução possível, embora mais difícil de criar.

Mas isso não é um demérito num álbum tão interessante.

O ritmo da história está calcado na tentativa da manutenção do drama, alternando pequenos perigos e o aflorar de emoções primitivas: raiva, medo, tristeza, alegria, amor etc.

O enredo caminha lentamente para a união entre Lucy, seu filho recém-nascido e Adão. Todos afastados de suas comunidades originais, vivendo perigos muitas vezes ora sozinhos, ora em conjunto, até que se estabelece um laço de respeito e confiança. Talvez seja esta a esperança do título em francês.

Para um assunto difícil como este, o resultado é muito bom. Alguma editora poderia se aventurar e lançar este álbum no Brasil.

Classificação:

4,0

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