Caso o leitor nunca tenha ouvido falar de Macanudo, seria interessante saber um pouquinho sobre a obra, lendo as resenhas dos volumes # 1, # 2, # 3 e # 4. Depois, pode voltar aqui. Sem pressa.

Pronto?

Partindo do óbvio: há diferentes gêneros de tiras de quadrinhos. E, dentre eles, ao observar especificamente as tiras de humor, logo se acha as que fazem piadas diretas, com começo, meio e fim. Algumas procuram fazer pensar. E outras fazem o leitor, mais que entender, "sentir" - como explica o jornalista Eduardo Nasi, ao afirmar que o Laerte é mais importante do que você.

Mas... e se uma mesma tira faz o leitor rir, pensar e ainda consegue mexer com os sentimentos, provocando reações com as quais não se contava?

Nesse caso, é grande a chance de a série em questão ser Macanudo.

Os méritos para tanto são vários. Além do trabalho do quadrinhista argentino Liniers ter um humor universal, seus personagens são cativantes e seu traço, inconfundível, é bastante divertido.

Não só isso. Como poucas, suas tiras fazem reflexões sobre o dia a dia, extraindo humor de situações comuns, mas por um viés sempre inesperado.

Assim, músicas conhecidas, ideias que tomam as pessoas de assalto, o cotidiano do trabalho, figuras da cultura pop, gente com atitude infantil e até uma luva abandonada são alguns dos pontos de partida para variadas situações, que fazem graça na visão arguta do criador.

Liniers também mostra seu inconformismo com várias mazelas sociais, por vezes de forma incisiva, como quando aborda as atitudes de políticos desonestos ou a futilidade de determinados programas de televisão; e também de forma genial, ao abordar, por exemplo, a indiferença ante a miséria do próximo.

Sem contar os personagens quase fixos que, para sorte de quem acompanha a série, voltam a dar as caras nesta edição - a menina Enriqueta e seu gato Fellini, os Duendes, as Ovelhas, os Pinguins, o casal Lorenzo e Terezita, o Misterioso Homem de Negro, o senhor que traduz os nomes dos filmes, a dupla Martinzinho e Olga, além do próprio Liniers, em suas "verdadeiras aventuras" nada heroicas.

Finalizando este volume, em mais uma "série dentro da série", surge O inquilino, um estranho hóspede com uma passagem marcante pela vida de uma família.

Ainda sobre o álbum, destaque para a capa e contracapa, com uma HQ nas quais, criativamente, Liniers dá o título, a numeração, a editora e até o código de barras da obra.

Neste quinto número da série, como nas edições anteriores, por vezes extrapolando o convencional das tiras de quadrinhos, o autor preocupa-se até em dar um abraço nos seus milhares de leitores. O que efetivamente faz, de modo mais que simpático, na página 87.

Para finalizar, voltando ao início desta resenha - são quadrinhos para rir, pensar e sentir. Tudo numa só edição. De quebra, o leitor ganha um sorriso que volta e meia surge de forma inadvertida no rosto.