MARIPOSA
Título: MARIPOSA (Conrad
Editora) - Edição especial
Autor: Marcatti (roteiro e desenhos).
Preço: R$ 19,00
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Janeiro de 2005
Sinopse: No camarim de uma boate de quinta categoria, as prostitutas Fernícia e Marlésia se preparam para mais um show de rotina. Ambas são exploradas sem dó pelo cafetão Herminiano, um escroque ganancioso e sem escrúpulos, que as condena a fazer o que ele bem entende.
Nesta noite, porém, Fernícia está com um brilho diferente nos olhos: ela espera ansiosamente que Nevair, um dos clientes mais assíduos da casa, a peça em casamento e a tire dessa vida.
Positivo/Negativo: Marcatti tem 30 anos de carreira e é um dos mais importantes artistas brasileiros. Underground confesso, evita os holofotes e as pretensões de grandes vendas de seus álbuns e quadrinhos.
Sua produção dos anos 80 foi totalmente alternativa: ele desenhava suas histórias e as imprimia numa impressora off-set usada. Esse processo de produção trazia mais prejuízo do que lucros, mas o autor nunca parou de bolar novos projetos e de trabalhar arduamente.
Essa determinação trouxe reconhecimento perante as editoras e, nos últimos anos, Marcatti publicou trabalhos pela Conrad e pela Escala, em tiragens bem maiores do que as que costumava rodar com sua impressora. E aí, pôde enfim obter algum lucro com seus quadrinhos.
Mariposa é seu trabalho de maior fôlego lançado até agora (será superado por Relíquia, uma adaptação do clássico de Eça de Queiroz prevista para março de 2007, com mais de 200 páginas) e o que mais lhe tomou tempo para ser produzido: seis meses.
O livro tem uma capa excelente, que atrai o consumidor. Mas, quando se folheia o álbum, o leitor incauto com certeza se assustará. Mariposa conta a história de um triângulo amoroso bastante incomum e com altas doses de escatologia sexual.
Os desenhos e os diálogos se contrapõem completamente aos textos do narrador. A arte se aproxima do que se vê em quadrinhos pornôs, com vocabulário chulo e imagens típicas do imaginário e da realidade brasileiras, como os homens gordos que comem presunto, os charutos pós-coito e as barrigas de cerveja.
Já os textos do narrador são mais elaborados, de vocabulário precioso e de cunho literário - destaque para as belas descrições metaforizadas como "As ondulações de minha pele assumiram os contornos da superfície de um lago ao vento". Através deste personagem, Marcatti dá uma essência poética ao erotismo que permeia a história.
O roteiro é um tanto quanto surreal, porém não compromete a qualidade da história e ainda dá um desfecho meio surpreendente. Apesar dos momentos esdrúxulos, é fácil se identificar com os dilemas do narrador-personagem, dividido entre duas mulheres e dominado por ambas. O desfecho trágico mostra como o sexo masculino é frágil nos assuntos do coração.
O livro conta com uma introdução fascinante, que demonstra a capacidade literária de Marcatti, e comprova sua inteligência ímpar. Felizmente, sua narrativa é tão boa quanto a qualidade de sua escrita e o autor acerta na composição de Mariposa.
Infelizmente, nem todos leitores se identificarão com o estilo nada certinho de Marcatti, o que contribui para que ele seja ainda mais underground. Mas para os que possuem mente aberta e estômago forte, Mariposa é um prato cheio.
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