Confins do Universo 204 - Marcelo D'Salete fazendo história (em quadrinhos)
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Martin Mystère #11

1 dezembro 2003


Título: Martin Mystère #11 (Mythos Editora) - Revista mensal

Autores: Pier Francesco Prosperi (roteiro) e Alessandro Chiarolla (desenhos).

Preço: R$ 5,50

Número de Páginas: 96

Data de lançamento: Junho de 2003

Sinopse: Retorno a Lilliput - Manuscritos raros de Jonathan Swift, o autor do clássico Viagens de Gulliver, são roubados da biblioteca da universidade Trinity College, na Irlanda do Norte.

Um dos assaltantes porta uma arma de raios idêntica à de Martin Mystère. Chegando ao país no dia seguinte para receber um importante prêmio literário, o Detetive do Impossível começa a investigar o crime por conta própria e acaba chamando a atenção do IRA e também de seu arquiinimigo Sergej Orloff.

Positivo/Negativo: Na Itália, a revista mensal do Detetive do Impossível já passa do número 253, o que deve significar cerca de 200 histórias publicadas, visto que vários episódios prolongam-se por duas ou três edições.

Além dessas, o bom e velho tio Martin, (como é carinhosamente chamado) possui mais três títulos extras, cujos episódios fazem parte de sua cronologia oficial: Martin Mystère Gigante, Martin Mystère Special e Almanacco Del Mistero. Somando tudo, deve haver pelo menos umas 250 aventuras inéditas no Brasil disponíveis para a Mythos escolher.

Sendo assim, por que a editora foi selecionar justamente uma das mais ruins? Retorno a Lilliput é a pior história do Detetive do Impossível publicada no Brasil. Perde, talvez, apenas para O Tesouro de Loch Ness, que a editora Record lançou, curiosamente, também na sua edição número 11. Mas essa, ao menos, era assumidamente nonsense, ao contrário do episódio atual, que tenta se levar a sério. Em vão.

A aventura não é escrita pelo criador da série, mas sim por Prosperi, que assina vários roteiros das edições italianas. Já saiu por aqui outra história escrita por ele, Abominável Criatura (MM #8, Record), que já não era particularmente memorável, mas era digna. Dessa vez, o desastre é quase completo, salvando-se apenas os desenhos, bastante agradáveis aos olhos.

A coisa ainda começa bem. A primeira metade é bastante interessante, com as habituais explicações históricas e geográficas situando o leitor no cenário político da Irlanda do Norte na década de 80.

O mistério vai sendo apresentado de maneira eficiente, criando expectativa, porém isso acaba servindo apenas para acentuar a frustração que começa a se fazer sentir na segunda metade da HQ.

Pra começo de conversa, alienígenas idênticos aos humanos são um clichê pra lá de batido, além de cientificamente inverossímil. Era aceitável, mais ou menos, na série Jornada nas Estrelas, como uma forma de baratear os custos de produção, mas aqui não há desculpa. As tramas do Detetive do Impossível, em seus melhores momentos, destacam-se principalmente pela verossimilhança, pelo equilíbrio bem cuidado entre fantasia e ciência. Aqui, a coerência foi mandada às favas em prol de uma trama sem pé, nem cabeça, cheia de clichês ufo-místicos duros de engolir.

Algumas idéias infelizes: 1) Um planeta evoluído e pacífico governado por uma raça de cavalos espaciais?! Se fosse um episódio de South Park até poderia dar certo. A cena em que Orloff atropela o cavalo cósmico é uma das maiores pérolas de humor involuntário dos últimos tempos. 2) Jonathan Swift era um alienígena e sua obra mais importante era apenas uma descrição disfarçada de seu mundo natal? Que forma interessante de diminuir um dos maiores clássicos da literatura! Nada de crítica mordaz às instituições da época, nada de ironia, nada de imaginação, Viagens de Gulliver era apenas o lamento de um ET com saudade de casa! Pobre Swift. Deve ter se revirado no túmulo.

Também é dura de engolir é a total credulidade de Martin. Ele reage a tudo como se a presença de alienígenas na Terra fosse a coisa mais corriqueira do mundo! É certo que o personagem já viu muitas esquisitices na vida, mas um pouco de assombro e uma saudável desconfiança científica tornariam a situação mais convincente.

Outro detalhe: por que Martin agrediu os policiais para defender uma garota que mal conhecia? Não parece uma atitude de um homem culto e inteligente. O curioso é que isso não teve nenhuma conseqüência legal. Isso é que é ter costas quentes!

Mas o pior de tudo foi Prosperi entrar em conflito com a mitologia oficial da série. Em várias histórias, especialmente A Vingança de Rá (MM # 2 e 3, Globo) e A Cidade das Sombras Diáfanas (MM #4, Record), fica claro que a arma de raios de Martin é um produto da antiga tecnologia dos continentes perdidos de Atlântida e Mu. Nunca foi mencionada nenhuma influência alienígena.

Como é que os ETs poderiam ter uma pistola idêntica? E o pior: Mystère nem sequer teve a curiosidade de perguntar a eles sobre a arma! A impressão que dá é que Prosperi apenas jogou isso pra chamar a atenção dos leitores, e não se preocupou em achar uma explicação razoável.

Sergej Orloff também foi pessimamente aproveitado, nada mais do que um enfeite. Sua única função na trama foi atropelar o cavalo espacial. Que coisa pavorosa!

Recentemente, a Mythos divulgou que a revista não será cancelada na edição 12, como estava previsto. O título terá, pelo menos, mais um ano de permanência nas bancas, a não ser que as vendas caiam demais. Infelizmente, se a editora não melhorar a seleção das aventuras vai ser difícil convencer novos leitores a dar uma chance à série.

Ainda há inúmeras histórias ótimas por serem publicadas (inclusive as continuações de Agarthi (MM #13, Record) e A Foice do Druida (MM #2 e 3, Mythos) que, certamente, atrairiam muito mais leitores do que um cavalo espacial dizendo "Não dá mesmo pra confiar em humanos".

O duro é que ele tem uma certa razão!

Classificação:

4,0

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