MARVEL APRESENTA # 11 - A VOLTA DOS NOVOS MUTANTES
Autores: Nunzio DeFilippis e Christina Weir (roteiro) e Keron Grant (desenhos).
Preço: R$ 6,00
Número de páginas: 96
Data de lançamento: Abril de 2004
Sinopse: Danielle Moonstar está de volta ao Instituto Xavier, e receberá do Professor X a missão de encontrar mutantes em risco ao redor dos Estados Unidos e trazê-los para a fundação.
Em sua jornada, a mutante descobrirá que o mundo ainda é um lugar inóspito para pessoas com superpoderes, e que a escola onde aprendeu a lidar com seus dons ainda é o melhor lugar para abrigar Novos Mutantes.
Positivo/Negativo: Esta edição de Marvel Apresenta reúne os primeiros quatro números do gibi americano, com o arco inicial da versão reformulada dos Novos Mutantes, originalmente criados por Chris Claremont, no início da década de 1980.
A intenção da Panini era analisar a popularidade da revista entre os fãs e, a partir do resultado, estudar sua publicação em algum dos títulos mutantes no Brasil, provavelmente X-Men Extra. Mas considerando a variedade de "filhotes" dos gibis X-Men existentes nos EUA, chega a ser curiosa a escolha desta HQ para esse teste.
Um dos produtos mais fracos da linha Tsunami, o título traz um conjunto inexpressivo, que não cativa leitores antigos e passa muito longe de atrair a atenção do público iniciante.
O roteiro é repleto de clichês, tem uma tônica totalmente "água com açúcar", e traz situações tão batidas, que a sensação de já ter visto isso antes acaba se tornando inevitável.
A protagonista Sofia, por exemplo, é o típico estereótipo da gata borralheira: linda, meiga e pobre, a garota tem uma vida simples, porém feliz, até que uma tragédia faz ruir essa realidade e ela acaba tendo de encarar tudo sozinha. Claro que, após uma certa dose de sofrimento, aparece a fada madrinha (Danielle Moonstar, que logo assume o papel principal) para resgatá-la e transformá-la em princesa.
A personagem ainda segue à risca todos os quesitos da cartilha americana de como se construir uma heroína moralmente ideal: bonita, simpática, obstinada, um pouco tímida, sofredora na medida certa e cheia de escrúpulos. Idêntica à personagem-título de Emma Frost, também da linha Tsunami. Coincidência ou falta de criatividade coletiva?
Conforme a trama se desenvolve, o leitor vai percebendo que simplesmente não há nada nela que fuja do politicamente correto. Quando a ação se passa dentro do Instituto Xavier, por exemplo, a história vira um daqueles esdrúxulos filmes americanos para adolescentes, como Diário da Princesa.
E quando são retratados os ambientes externos, durante as missões de Moonstar, o roteiro remete a algo como uma fotonovela da Barbie, tamanhas são a falta de ousadia e as emoções prontas. Nem mesmo a cena em que um mutante aparece sendo espancado consegue passar alguma emoção. É tudo tão estético, tão moralmente patético, que mais parece um manual em gibi de como é o american way of life.
Para completar, há uma estúpida piada sobre homossexualismo na página 47. Parece até que George W. Bush virou editor da Marvel.
A arte de Keron Grant imita rigorosamente todos os padrões estabelecidos pelo roteiro. O trabalho do artista nunca sai do lugar-comum, não há ousadia e as ilustrações são todas certinhas, como num livro de gravuras. A retratação do Instituto Xavier já diz tudo: a grande maioria dos alunos (à exceção de alguns figurantes deslocados) tem uma aparência "humana", sem influências da mutação. Os garotos são todos bonitos e ensebados; e as garotas, graciosas e delicadas. Bem diferente do trabalho de Frank Quitely, por exemplo, com os New X-Men, no qual os freaks têm lugar de destaque.
Outro defeito sério na arte de Grant é seu estilo infantilizado, apresentando personagens e cenários pouco elaborados, quase sem detalhes, e lembrando muito o visual cartunesco dos desenhos animados. Também em conseqüência disso, as fisionomias dos personagens, tanto femininos quanto masculinos, são todas parecidas. Na página 11, por exemplo, basta reparar que os colegas de Sofia diferem entre si apenas pelos penteados.
A impressão final que Novos Mutantes deixa é a de um gibi "covarde". Desde a idéia sobre a qual o roteiro foi produzido até o aviso de "fim" na última página, não existe absolutamente nada que o leitor já não tenha visto antes.
Embora isso não signifique um mau resultado em termos de vendas - vide o considerável sucesso que Chris Claremont obteve com os batidíssimos X-Treme X-Men -, simboliza a total incompetência esbanjada por algumas equipes criativas no mercado americano. E também, considerando que o título sobrevive até hoje, a impressionante passividade do público em relação a esses autores.
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