Marvel Comics – A história secreta
Editora: Leya – Livro teórico
Autor: Sean Howe (texto) e Érico Assis (tradução).
Preço: R$ 50,00
Número de páginas: 560
Data de lançamento: Outubro de 2103
Sinopse
O livro se propõe a passar a limpo a história de uma das maiores empresas de quadrinhos do planeta, verificando suas criações e, principalmente, os criadores por trás delas.
Positivo/Negativo
Sean Howe tomou para si uma grande tarefa: transpor para quase 600 páginas a história de uma das mais influentes editoras de quadrinhos do mundo. Mais do que isso: uma editora capaz de criar e moldar alguns dos ícones da cultura pop ocidental.
Para tanto, Howe vai buscar desde a biografia de Martin Goodman, nascido na primeira década do século passado, até os dias mais atuais, em que as criações feitas em sua empresa faturam bilhões de dólares no cinema.
A grande tese na qual o livro se sustenta é o embate entre o capitalismo da empresa e a criação apaixonada de seus artistas. Boa parte da obra é dividida assim: há os que acreditam que os artistas deveriam ganhar por suas criações e deter o controle criativo de personagens e histórias que saíram de suas cabeças, e também os que creem no work for hire, ou seja, se o artista é contratado para criar personagens e histórias para uma empresa, as criações são da contratante e não do indivíduo que as bolou.
Esta dualidade é tão forte, que a maior parte das idas e vindas de artistas se deve a esse motivo. E das frustrações também. No livro há diversas passagens de roteiristas e desenhistas dizendo-se tristes, cansados de trabalhar por um ideal que não existe – afinal, no capitalismo tudo é dinheiro – e que era muito diferente daquilo que imaginaram quando pensaram em ganhar a vida com quadrinhos.
Outro ponto que o livro toca é a personalidade de Stan Lee. O homem por trás (ou seria à frente?) dos personagens Marvel é colocado o tempo todo em foco, mostrando como ele mudou algumas das características da indústria de quadrinhos e como o fez.
A forma como Lee criava as histórias com seus colaboradores é um dos pontos altos do livro. Ele e seu colaborador (na maioria das vezes, Jack Kirby) discutiam um breve roteiro, depois o desenhista entregava tudo e Lee “apenas” colocava o texto final.
Aliás, esta é a gênese da maior parte dos embates dentro da Marvel. Kirby, por exemplo, dizia que fazia praticamente a história toda, haja vista que Lee apenas colocava as palavras. Lee, por sua vez, rebatia, dizendo que sem as palavras não existiria história.
O peso de Kirby e de Lee são muito bem colocados por Howe. Ambos foram as engrenagens que faziam a máquina Marvel girar. Os dois são colocados quase como gênios pelo autor, o que não deixa de ser verdade. Um era gênio artístico, outro de marketing.
E o marketing e a tentativa de se aproximar de Hollywood sempre permearam a vida profissional de Stan Lee, como o livro bem descreve: camisetas, lancheiras, broches e, por fim, filmes blockbusters estavam na mira do criador do Quarteto Fantástico desde o início de sua trajetória.
O livro também descreve os pormenores de editores e editados, de criadores e suas criações. Howe relata as atuações de editores como Roy Thomas e Jim Shooter, bem como roteiristas como Chris Claremont e Jerry Conway, desenhistas como Sal Buscema e Neal Adams e também alguns dos mais notáveis artistas e suas trajetórias, como Frank Miller ou John Byrne.
Também não se furta a falar dos desertores, como Todd McFarlane e Jim Lee. E também se fica sabendo algumas coisas interessantes, como, por exemplo, por que Rob Liefeld é tão ruim.
O grande problema do livro em si é que ele se concentra apenas na Marvel. Ou seja, não analisa a empresa à luz dos acontecimentos contemporâneos. Não associa a vendagem (ou a falta dela) aos fenômenos existentes fora do contexto da editora. Howe poderia ter se aprofundado um pouco mais e tentado compreender o mundo que rodeava a companhia, e não apenas seus meandros.
Ele poderia ter tentado compreender o mundo da Marvel a partir do que acontecia na sociedade norte-americana. Pode ter sido uma escolha do autor ignorar os fatos contemporâneos, mas o leitor – principalmente o mais novo – perde muito da compreensão do texto pela falta de informação sobre o contexto. E este é o tipo de erro capital em uma biografia (mesmo quando é a biografia de uma empresa).
Do ponto de vista da edição nacional, uma surpresa muito agradável: Érico Assis além de traduzir o texto impecavelmente (há apenas uma falha: o personagem Watcher é traduzido ora como Observador, ora como Vigia) e colocar a grafia de personagens e revistas tanto na língua original quanto em português, ainda brinda o leitor com uma sessão exclusiva, na qual cataloga todas as aparições em revistas brasileiras das histórias mencionadas. Um trabalho de primeira linha.
Enfim, um livro que vale muito a pena ser lido. E que, mesmo tendo a falha de não abranger a realidade circundante, ajuda e muito a compreender o mercado de quadrinhos norte-americanos.
Classificação