Autores: Brian Michael Bendis (roteiro) e Mark Bagley (desenhos).

Preço: R$ 18,90

Número de páginas: 192

Data de lançamento: Julho de 2004

Sinopse: Quase 40 anos depois de sua criação, o Homem-Aranha tem sua origem recriada para ser apresentado a uma nova geração de leitores.

Mais uma vez, é hora de descobrir a vida de Peter Parker, Mary Jane, Tia May, J. Jonah Jameson, Norman Osborn, Flash Thompson, entre outros, e conhecer a nova origem do herói que aprendeu do modo mais difícil que com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.

Positivo/Negativo: Quando o título Ultimate Spider-Man estreou nos Estados Unidos, há pouco menos de quatro anos, pouca gente acreditava em seu sucesso. Afinal, em seus quase 40 anos de existência, o Homem-Aranha era não só um personagem consolidado, como também o dono de um dos passados mais clássicos e intocáveis dos quadrinhos.

Recontar sua origem seria assumir o perigosíssimo risco de macular uma das histórias mais importantes do Universo Marvel e, por conseqüência, enfurecer uma legião de fãs ao redor do mundo.

Felizmente para os leitores, o então novato Brian Michael Bendis não se intimidou e assumiu a missão. E foi pelas suas mãos que, em outubro de 2000, toda uma nova geração de leitores (e os antigos também!) foi apresentada ao maior ícone da "Casa de Idéias", descobrindo um personagem que parecia ter sido sepultado por anos de uma continuidade confusa e equipes criativas ruins.

Em parceria com o desenhista Mark Bagley, Bendis resgatou todos os elementos que tornaram o herói célebre na década de 1960 e os adaptou à realidade atual, mas sem deixar a energia do herói se perder. Nascia ali um dos maiores êxitos da Marvel nos últimos anos, tanto em termos de crítica quanto de público.

Poder & Responsabilidade é a reunião das primeiras sete edições da revista americana, publicadas aqui pela Editora Abril (até o número 4, em Marvel Século 21) e pela Panini (a partir do 5, em Marvel Millennium Homem-Aranha) Nesse primeiro arco, Bendis recria a clássica gênese do herói e apresenta todos os personagens principais usando um elemento comum - Peter Parker.

Bendis imprime um estilo bastante pessoal à trama, com uma narrativa bem mais lenta do que a usual, porém mais coesa e detalhada. O roteiro, minucioso, é recheado de elementos desenvolvidos a longo prazo, cada um com seu momento de relevância. Nada de imediatismos ou afobações; a história é calculada para correr como uma sinfonia bem orquestrada, na qual cada instrumento se faz presente apenas na hora necessária.

É verdade que o autor ainda se mostra tímido em adicionar elementos um pouco mais inusitados na trama - como acabou fazendo após a publicação se consolidar -, abrindo mão de suas idéias obtusas (e, por vezes, geniais) para compor uma história correta e funcional.

Existe, sim, um roteiro muito bem conduzido e devidamente atualizado (a aranha, desta vez, não é radioativa, e o Duende Verde não veste uma fantasia, nem atira bombas-abóbora), mas nada autenticamente ousado, que consiga deixar os leitores estupefatos com a iniciativa. Não que o invencionismo faça falta, já que o argumento sustenta-se muito bem, mas, comparando-se Poder & Responsabilidade com os trabalhos posteriores de Bendis, a contenção do autor é evidente.

Os desenhos de Mark Bagley, somados à belíssima arte-finalização de Art Thibert e Dan Panosian, são um espetáculo à parte. Tão elegantes quanto o trabalho de John Romita Jr. em O Incrível Homem-Aranha, as ilustrações se encaixam perfeitamente no roteiro e ainda conseguem criar autonomia própria.

Bagley constrói seus desenhos a partir de uma idéia fixa: simplicidade. Aqui não existem as poses espalhafatosas de Salvador Larroca ou os traços sujos de Igor Kordey. Sua arte é honesta, sem sinais de egolatria. E, por isso mesmo, é tão agradável de se ver quanto qualquer graphic novel consagrada, mas sem um pingo da grandiloqüência (ou da pretensão) de um álbum de Alex Ross, por exemplo.

O fato é que, independente dos pormenores que sempre existem aqui e ali, Poder & Responsabilidade forma um conjunto prazeroso de se ler. O trabalho é tão bem construído que as 192 páginas do encadernado podem ser "devoradas" de uma vez só, e ainda animar o leitor a um repeteco. Algo raro de se ver hoje, e que faz justiça ao herói em questão.