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Mate minha mãe - Uma graphic novel

21 setembro 2015

Mate minha mãe - Uma graphic novelEditora: Quadrinhos na Cia. – Edição especial

Autor: Jules Feiffer (roteiro e arte) – Originalmente em Kill my mother (tradução de Érico Assis).

Preço: R$ 54,90

Número de páginas: 160

Data de lançamento: Agosto de 2015

Sinopse

Nos anos 1930, em Bay City, Annie Hannigan é uma típica adolescente rebelde. Nutrindo um ódio obsessivo pela própria mãe, Elsie, ela não esconde seu desejo de um dia poder matá-la.

Para chamar a atenção, a jovem chega a cometer pequenos delitos e intransigências, sempre acompanhada do seu melhor amigo, Artie, um tímido garoto que vira gato e sapato em suas mãos.

Elsie é secretária do detetive particular decadente e beberrão Neil Hammond. Entre uma garrafa e uma cantada sem classe, ele pega um caso para descobrir o paradeiro de uma mulher tão misteriosa quanto a sua contratante.

Positivo/Negativo

Antes de qualquer análise, é preciso ressaltar a importância desta obra por ser a primeira graphic novel de um dos nomes mais importantes das histórias em quadrinhos mundiais: Jules Feiffer.

Não é por acaso que autores do quilate de Art Spiegelman, Stan Lee, Chris Ware e Neil Gaiman estão “endeusando” com seus depoimentos a quarta capa desta obra. Atualmente com 86 anos, ele se destacou não só nos comics, mas também no teatro, literatura e cinema, tendo acumulado prêmios como um Pulitzer de charge editorial, em 1986, e um Oscar de Melhor Curta de Animação por Munro, em 1961.

Feiffer também foi assistente de Will Eisner (1917-2005) nos anos 1940. É dele o roteiro da famosa história de The Spirit – A história de Gerhard Shnobble (que pode ser vista no volume 2 da antologia lançada pela L&PM em 1986).

No Brasil, seus trabalhos chegaram a ser publicados nas revistas Grilo e Eureka, nos anos 1970. A Cia. das Letras também lançou algumas das suas obras dirigidas ao público infantojuvenil.

Mate minha mãe foi lançado originalmente no ano passado lá fora, mostrando todo virtuosismo e vigor do veterano quadrinhista. Seus cartunescos e elegantes traços – completamente soltos, desembestados e sem rédeas – evidenciam o clima noir presente nas cores acinzentadas como neblina e no tema detetivesco.

Logo de início, o autor agradece a todos que o ajudaram a edificar o álbum, inspirando-o: os quadrinhistas Milton Caniff (1907-1988), criador do clássico Terry e os piratas, e Will Eisner; a tríade do romance noir Dashiell Hammett (1894-1961), Raymond Chandler (1888-1959) e James M. Cain (1892-1977); além dos cineastas que popularizaram o gênero nas telonas, John Huston (1906-1987), Billy Wilder (1906-2002) e Howard Hawks (1896-1977).

Dividida em dois atos, um em 1933 e o outro uma década depois, a HQ tem capítulos curtos com diálogos rápidos (ajudados pelo ritmo imposto na tradução), fazendo com que os alternados núcleos dramáticos não se percam de vista na memória do leitor.

A pegada cinematográfica do calejado Jules Feiffer vai além da convencional forma de se contar uma história em quadrinhos. Já nas primeiras páginas, quando a jovem Annie está dançando com o amigo Artie em casa, surge ao seu lado um balão gritando o nome de Elsie, que só é mostrada no próximo quadro. Um “corte” temporal com um recurso nada usual.

Outro virtuosismo autoral é visto quando ele narra numa única página um lento engarrafamento, apenas com balões de diálogos dos personagens num carro, sem o uso de quadros para enfatizar a ação na lentidão.

Belas composições que subvertem a leitura também são usadas, a exemplo da fila que se forma de pretensas atrizes numa página, quando o detetive Hammond (uma alusão a Hammett?) divulga um falso anúncio de produção cinematográfica para uma isca.

Uma aula de corpos em movimento pulsa em cada página, como na graciosa sequência de uma luta de boxe fluída e sem os requadros herméticos de uma diagramação, no sapateado de um ator de segunda ou na corrida dos adolescentes para não serem pegos por um furto.

Apesar da boa dose de humor e ironia (principalmente dirigida a Hollywood), o que salta das páginas em Mate minha mãe são as reviravoltas na narrativa. Sem serem gratuitas, Feiffer tira o chapéu e veste o sobretudo do gênero, guiando o leitor pelos labirintos da trama sem se perder.

Das ruas sujas e escuras de Bay City para uma ilha no Pacífico, onde artistas servem de distração para os soldados norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. O quadrinhista recheia a obra com tiroteios, blues (acertadamente traduzidos no final da edição), damas fatais e ainda faz um upgrade com temas que eram verdadeiros e escandalosos tabus na época, dialogando com o universo feminino dos dias atuais.

A edição da Quadrinhos na Cia. tem formato 20,9 x 27 cm, capa cartonada sem orelhas, papel offset de boa gramatura e impressão.

Sem pensar em aposentadoria, Jules Feiffer prepara mais dois álbuns, Cousin Joseph e Archie Goldman and the decline of the West, planejados para serem lançados nos próximos anos.

Tão imperativo quanto o seu título seria um balão com letras garrafais “compre esta graphic novel”, principalmente pela assinatura de um dos grandes nomes da Nona Arte na sua capa. Indispensável.

Classificação

5,0

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