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Reviews

MEMÓRIA DE ELEFANTE

1 dezembro 2010

MEMÓRIA DE ELEFANTE

Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial

Autor - Caeto (roteiro e arte).

Preço: R$ 39,00

Número de páginas: 224

Data de lançamento: Outubro de 2010

 

Sinopse

Caeto é um artista plástico sem grana e com propensão ao alcoolismo. Soma-se a isso a dificuldade em se relacionar com os membros de sua família. Assim, este livro vasculha a memória do autor.

Positivo/Negativo

A Companhia das Letras tem feito um bom trabalho com o seu selo para HQs, Quadrinhos na Cia.

Já saíram por aqui Retalhos, Umbigo sem fundo, Bordados e Jimmy Corrigan, só para citar alguns trabalhos que têm algo em comum com este Memória de elefante: a forte presença da biografia do autor no álbum.

Essa presença, aliás, é quase uma característica dos lançamentos da editora. E nisso o trabalho de Caeto está bem acompanhado. Estranha-se, entretanto, a parca divulgação deste álbum, especialmente se comparado com a feita para
Cachalote, por exemplo.

Estaria aí a diferença de associar-se à RT Features? Não importa, pois essa é uma questão que pode desvirtuar o que realmente importa nesta resenha: avaliar a obra de Caeto - aliás, confira aqui uma entrevista com o autor.

Memória de elefante ainda pode ser comparada com o álbum Fun home, a literatura de Charles Bukowski e o recente livro Ribamar, de José Castello. Vamos aos poucos.

Caeto se representa como personagem de seu álbum, buscando uma memória de vida no meio da cidade de São Paulo, comparada à de um elefante mais de uma vez na graphic novel.

Do ponto de vista artístico, Caeto tem um desenho enganosamente simples. Embora a representação seja de poucos traços grossos e não tão vistosa, em fisionomia e expressão, a arte é muito bem-sucedida.

Apesar de Caeto se autorrepresentar sempre com a mesma roupa, é possível ver transformações nos personagens - ele engorda e ganha uma barriga.

Do ponto de vista da estrutura narrativa, a história apresenta dois movimentos. O primeiro, e bukowskiano, com Caeto tentando encontrar emprego, viver de sua arte e sobreviver em São Paulo. E aqui aparecem os problemas com amigos e garotas, muita bebida e pouco dinheiro, e um simpático cachorro chamado Júlio.

O outro movimento, que é mais curto em páginas e mais profundo em carga emocional, é a relação entre Caeto e seu pai. E aqui se desenham as relações com Fun home e Ribamar.

O conflito entre pai e filho é típico dessas narrativas. Não é à toa que reaparece muitas vezes, com diversas dimensões e faces. Caeto traz ao mundo mais uma boa história nessa linha, com peculiaridades, dramaticidade e empatia emotiva.

Esses dois movimentos da trama surgem da necessidade narrativa. O personagem tem um conflito inicial (arrumar sua vida pessoal e viver de sua arte) e, quando tudo parece se ajeitar, surge um novo propósito: tentar lidar com o pai doente, com quem tem dificuldades de relacionamento. As imagens que Caeto cria (ou relembra) são bastante interessantes.

Já o texto, que se distribui em recordatórios de primeira pessoa e balões, merecia uma edição mais atenta, pois mesmo sem conter erros gramaticais, há um excesso de verbos e palavras em várias frases, que poderiam ser simplificadas e reestruturadas.

E de um excesso vem o maior problema de Memória de elefante: o pleonasmo.

Durante todo o álbum, o recordatório indica uma ação ou metáfora e o leitor pode vê-la desenhada logo abaixo. Se o personagem diz que foi apunhalado, Caeto aparece recebendo um punhal no peito; se conta que ideias martelam sua cabeça, a representação mostra o personagem com a cabeça a ser atacada por martelos. A concretização visual da metáfora é um artifício bacana, porém, dispensaria o texto.

A desatenção à linguagem das HQs incomoda e diminui a força de uma história bastante sincera e visceral, apresentada sem autopiedade. Um exemplo é a cena de fechamento do livro, pensada como um excelente clímax, porém, esvaziada pelo excesso de texto. Algumas poucas palavras e a imagem falariam por si.

Esse deslize narrativo enfraquece um trabalho que poderia impactar muito mais. Mas enfraquecer não é o mesmo que invalidar ou anular. Memória de elefante é um material interessantíssimo e Caeto é um artista a ser acompanhado.

Classificação:

4,0

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