MESMO DELIVERY
Autor: Rafael Grampá (texto e arte).
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 56
Data de lançamento: Setembro de 2008
Sinopse: O ex-boxeador Rufo, um brutamontes, é contratado pela
companhia Mesmo Delivery para levar um caminhão a um determinado lugar.
Com duas condições: que o contêiner não fosse aberto de jeito nenhum e
que ele viajasse na companhia de Sangrecco, um fã de Elvis Presley considerado
o braço direito do chefe.
No meio do caminho, durante uma parada para esvaziar a bexiga, Rufo se
envolve numa tremenda pancadaria num bar fuleiro. É então que os serviços
da Mesmo Delivery são revelados... mas só para o leitor.
Positivo/Negativo: No prefácio deste álbum, Lourenço Mutarelli
escreveu que este nem parece um trabalho de estréia. E está correto. Mesmo
Delivery, que foi lançado antes nos Estados Unidos, pela AdHouse
Books, chega ao Brasil apresentando ao grande público um autor que
será muito falado daqui pra frente.
Rafael Grampá já trabalhou com animação, fez o cartaz do teaser
do filme O Dobro de Cinco (no qual será production designer,
responsável pelo visual e o clima, desde cenário, maquiagem, figurino,
cor etc.), baseado na obra
de Mutarelli, e está desenhando Hellblazer para a Vertigo,
com um roteiro que Brian Azzarello fez especialmente para o artista.
E a Desiderata foi hábil ao lançar o álbum logo após Grampá ter
ganhado
o Eisner Award (na categoria Melhor Antologia, com a revista
independente 5,
em parceria com os gêmeos Gabriel Bá e Fábio Moon) - a edição traz um
selo colado sobre a capa anunciando a premiação.
O que mais chama a atenção em Mesmo Delivery é, sem dúvida, o desenho.
Grampá é minucioso na construção de cada página. Ao fim da leitura (que
é extremamente rápida, devido ao ritmo da história), vale a pena voltar
e olhar com calma cada prancha.
Mas não espere um desenho realista. O autor se mostra diferente por apresentar
um estilo todo seu, que usa expressões dignas de desenhos animados e faz
as onomatopéias participarem da arte com bastante naturalidade.
No entanto, é a narrativa o ponto alto da arte. Grampá é mais do que cinematográfico,
pois além de mover a "câmera" que mostra a história para tomadas das mais
variadas, acha ângulos quase inimagináveis, como o do último quadro da
página 36, em que uma cena de degolação é vista de dentro da boca da vítima.
Genial.
O roteiro, que teve como inspiração seriados de TV que Grampá via quando
criança, como Além da Imaginação, é muito bem amarrado. Quase até
o final, o leitor pensa que a HQ é pura e simplesmente pancadaria e sangue
jorrando. Mas quando flashbacks começam a entremear as cenas de
massacre, o autor consegue seu objetivo: surpreender o leitor.
O trabalho editorial da Desiderata é competente, mas pecou num
detalhe crucial: a capa (também usada na AdHouse Books) entrega
a surpresa que a história tanto demora para revelar.
Mesmo Delivery é um dos melhores lançamentos de quadrinhos deste
ano. Principalmente porque - aproveitando o nome do álbum -, com certeza,
está longe de ser mais do mesmo.
Classificação: