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METRÓPOLIS

1 dezembro 2010

METRÓPOLIS

Editora: New Pop - Edição especial

Autores: Osamu Tezuka (texto e arte) e Rafael Makeda (tradução).

Preço: R$ 24,90

Número de páginas: 168

Data de lançamento: Julho de 2010

 

Sinopse

Na cidade de Metrópolis, é criado Michi, um ser sintético - "não é nem humano, nem animal, nem planta e nem mineral", define seu manual de instruções.

Com superpoderes, a criatura chama a atenção do Partido Red, organização controlada pelo vilão Duque Red, que conduz uma experiência de provocar manchas escuras no Sol.

Positivo/Negativo

O nome de Osamu Tezuka (1928 - 1989), autor de Metrópolis, costuma vir acompanhado de epítetos como "deus do mangá" ou "Disney japonês".

É justo: o artista foi fundamental para a consolidação dos mangás e dos animês. Fez um sucesso comercial impressionante e criou obras de grande qualidade artística - muitas vezes, ao mesmo tempo.

Tezuka foi mesmo um fenômeno.

Só que toda essa maravilha chegou ao Brasil enviesada. E a conta-gotas.

Nos anos 70 e 80, por meio de desenhos animados como Kimba, o Leão Branco e A Princesa e o Cavaleiro.

Também se ouvia falar de Tezuka por tabela, por gente que o tinha conhecido - aí incluídos o quadrinhista Mauricio de Sousa e a pesquisadora Sonia Bibe Luyten.

Formou-se, então, um cenário estranhíssimo: Tezuka tinha amigos influentes, desenho animado na TV e uma boa fama entre os leitores de quadrinhos. Mas não tinha um único mangá publicado no Brasil! Não é esquisitíssimo?

Só no começo deste século, chegaram três séries de mangás: primeiro veio A Princesa e o Cavaleiro, pela JBC, e depois Buda e Adolf, pela Conrad (que também publicou uma biografia do autor em mangá)

Nada de títulos mais populares, como Astro Boy ou Kimba. Em vez da saída fácil, as editoras optaram por títulos que tratam de androginia, nazismo e budismo.

Parecia até prêmio de consolação: pra compensar o atraso de décadas, as editoras começaram a publicar de cara as obras-primas. Só a nata da vasta bibliografia do criador.

Resultado disso: tem gente por aqui que deve achar mesmo que Tezuka é um deus, que nunca errou, que não fez histórias menores, que cada mangá dele é capaz de transformar a vida do leitor.

É por isso que é bom esclarecer o leitor brasileiro recém-chegado à "Tezukolândia" sobre Metrópolis, que chega agora ao Brasil pela New Pop.

Não é o melhor trabalho de Tezuka. Aliás, não é o melhor do autor nem mesmo na modesta (pra não dizer ridícula) bibliografia publicada no Brasil.

Mas o aviso serve apenas pra estimular os novéis a não pararem por aqui, caso se decepcionem. Porque é aquilo: o nome de Tezuka é tão incensado, que causa altas expectativas - que, por sua vez, provocam enormes desilusões.

A Princesa e o Cavaleiro, Buda e Adolf eram transcendentes. Metrópolis não é.

Metrópolis é outra coisa. É uma esponja. Ou um hub. Tanto faz. O ponto é que, para produzi-la, Osamu Tezuka devorou um bom punhado de informações, digeriu e, no final, expeliu uma história nova. Consequência direta do zeitgeist, o espírito do tempo.

A cidade se chama Metrópolis - como o filme de Fritz Lang, que também tem uma rebelião de robôs, e a que Tezuka garante não ter assistido, apenas visto um cartaz do filme em um cinema.

Tezuka também diz não ter lido as histórias de Superman, mas sua Metrópolis é habitada por uma criatura superforte, capaz de voar e que se esconde sob uma identidade secreta.

Os caminhos da influência não são lineares. Às vezes, o autor é influenciado por fontes indiretas: amigos, notícias, resenhas ou mesmo por obras que foram influenciadas pelo original.

Há também as influências diretas, assumidas. É o caso do exército de ratos gigantes, um pastiche impagável de Mickey Mouse - um dos ratos chega a ter sua pele arrancada para ser usada como disfarce.

Antes, Sherlock Holmes já tinha dado as caras.

Mais tarde, é a vez de Popeye e Luluzinha - ou, pelo menos, de figurantes que lembram os personagens norte-americanos. Não dá para garantir que Tezuka tenha pensado nisso ao desenhá-los. Mas, diante de tantas referências, dá para ignorá-los?

Além de olhar ao seu redor, Tezuka também usa Metrópolis para projetar o futuro. O seu - porque Michi tem a androginia de A Princesa e o Cavaleiro e as características cibernéticas de Astro Boy. Mas também o nosso futuro - porque não tem tema mais presente do que as mudanças climáticas causadas pela ação do homem.

Os temas de Metrópolis - sexo, sustentabilidade, tecnologia - foram reincidentes em toda a obra posterior de Tezuka, bem como em sua herança.

Daí a importância deste álbum: até pode não ser tão bom quanto os outros títulos que saíram por aqui, mas é um ponto central na carreira de seu criador.

Classificação:

4,0

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