Entre 1945 e 1946, o cineasta Walt Disney e o pintor e escultor expressionista Salvador Dalí realizaram vários encontros para trocar ideias sobre a parceria na produção de um curta-metragem de animação.

Scripts, painéis ilustrados por Dalí e uma animação de 18 segundos resultaram desses encontros, mas o projeto foi arquivado, por muitos motivos.

Somente em 1999, quando Roy E. Disney (sobrinho de Walt) descobriu esses materiais ao iniciar a produção do filme Fantasia 2000, o curta-metragem teve continuidade e, finalizado, estreou quatro anos depois, mostrando um espetáculo visual de seis minutos de duração.

Essa é a história por trás da produção de Destino, desenho animado musical que narra uma aventura romântica protagonizada pelo deus Cronos e uma jovem bailarina.

Mas Disney e Dalí se encontraram novamente, em setembro de 2010, e outra bela obra de arte nasceu.

Dessa vez, entretanto, a parceria não aconteceu no mundo real - de onde os artistas partiram há muito tempo - e, em vez de um desenho animado, o resultado dela foi uma história em quadrinhos produzida na Itália.

Publicada originalmente em Topolino # 2861, a HQ chegou ao Brasil pela Abril, trazendo uma aventura surrealista que se passa em 1946 e mostra Disney e Dalí em um crossover inusitado com Mickey, Pateta e Donald.

Os três personagens, desenhados por Giorgio Cavazzano e o Kawaii Studio, aparecem com visual antigo, do tempo de suas primeiras animações.

Na verdade, isso foi uma licença poética de que o roteirista Roberto Gagnor lançou mão para imprimir um clima antigo, nostálgico e ainda mais surreal à HQ, pois em 1946 os personagens já tinham tido o visual repaginado.

Nesta história especial, eles caem (literalmente) em um quadro de Dali e, lá dentro, vivem perigosas, malucas e não menos divertidas situações nos cenários oníricos imaginados pelo artista e retratados em obras que se tornaram famosas.

Bonita de se ver, A viagem surreal pelo Destino já entrou para a galeria das melhores HQs disneyanas de todos os tempos e é indicada para qualquer admirador de artes visuais.

E o Brasil teve o privilégio de ser o primeiro país, depois da Itália, a publicar a aventura.

O caderno especial sobre Dalí e Destino, com matérias e entrevistas dos autores, reforça o conceito de edição especial e faz de Mickey # 821 um gibi indispensável para os fãs de Walt Disney.

Mas ainda tem A mente do Mancha para garantir isso.

Estrelada pelo camundongo detetive e seu maior inimigo, o Mancha Negra, a HQ mistura ficção científica, mistério e nenhuma dose de humor, para mostrar uma aventura que pode surpreender o leitor pelo conteúdo sinistro, em muitos sentidos.

A cena em que os policiais festejam a morte do vilão - supostamente transformado em cinzas depois da explosão de sua arma de plasma - é um bom exemplo disso.

Difícil é encarar esse tipo de trama protagonizado por um Mickey de calção vermelho com bolinhas amarelas.