MIRACLEMAN # 9
Título: MIRACLEMAN # 9 (Eclipse Comics)
- Revista mensal
Autores: Alan Moore (roteiro) e Rick Veitch (desenhos).
Preço: 95 cents (Can. $1.25)
Número de páginas: 32
Data de lançamento: Julho de 1986
Sinopse: Após derrotar definitivamente seu algoz e criador, Emil Gargunza, Miracleman resgata sua esposa Liz do cativeiro em que vinha sendo mantida. Ela está, grávida e prestes a dar à luz.
Miracleman, que sabe que não conseguirá levá-la daquele lugar ermo a um hospital a tempo, segue rapidamente para um local tranqüilo, no qual ele mesmo faz o parto de sua filha.
Positivo/Negativo: Falar de Miracleman (o nome pelo qual o herói inglês Marvelman ficou conhecido nos Estados Unidos) sem passar por esta edição seria quase negligente. É uma das revistas mais polêmicas já publicadas na história dos quadrinhos de super-heróis, e tem muito a contar.
A primeira coisa, certamente, é que esta edição deveria ser a de número 8. Entretanto, devido a uma enchente nos escritórios da Eclipse, toda a programação dos títulos foi comprometida, obrigando a editora Catherine Yronwode a republicar, em Miracleman # 8, material de 1955 originalmente escrito por Mick Anglo, o criador do personagem.
Aliás, como Yronwode mesma escreve na edição, os motivos foram colocados do modo mais honesto possível. Uma imagem, aliás, que a Eclipse mantinha junto a seus leitores fiéis.
A edição 9 (seqüência direta dos fatos da # 7, portanto) parecia que seria um alívio total à tensão criada anteriormente, com o alter ego de Mick Moran assassinando friamente o seu criador e maior inimigo, o brilhante cientista brasileiro Emil Gargunza, arremessando-o contra a Terra diretamente da órbita alta do planeta. Restava, então, o herói resgatar sua esposa Liz.
No entanto, ela está no cativeiro (destruído por Miracleman), em trabalho de parto, mas com todas as enfermeiras e poucos sobreviventes fugindo para salvar suas vidas. Mas antes que Liz chegue ao desespero, seu marido chega, numa cena em que se começa a perceber os grandes planos de Moore para o personagem, que incluem sua deificação.
Alan Moore - que, na época da publicação norte-americana já fazia estrondo com Monstro do Pântano e dava início aos eventos da maxissérie Watchmen - nunca foi conhecido por amenizar situações. Com esta revista (contendo histórias publicadas originalmente na Inglaterra quase quatro anos antes), deu início às polêmicas cenas e situações que circundariam suas HQs dos anos 80.
Sua decisão de escancarar, juntamente com o desenhista e também polemista Rick Veitch, o lado de um parto que nunca havia sido mostrado fora de publicações e vídeos médicos chocou muita gente. Afinal, era um gibi, vendido a preço camarada, por uma editora simpática que tentava brigar com as grandes e as emergentes (como a First, por exemplo). "Coisa de criança". Mas as cenas obrigaram a Eclipse a colocar o rude e necessário aviso sobre o conteúdo da edição.
Várias cenas espalhadas por Veitch nas 16 páginas mostram, claramente, que o filho do casal seria super-humano. Afinal, era o rebento de um deus. E isso acaba demonstrado quando, na última página, o leitor pensa que finalmente a família Moran teria paz: o recém-nascido (que viria a ser chamado de Winter) diz sua primeira palavra.
A postura de Miracleman quanto ao mundo, mostrada nos números anteriores e acentuada pelo modo como matou Gargunza, a partir desta edição segue avassaladora rumo a uma espécie de totalitarismo heróico. Aos poucos, sua tolerância se verá diminuída e a humanidade começará a se revelar de um modo nada convencional para os olhos do verdadeiro übermensch.
E, mesmo aparentemente amenizada pela visão posterior de Neil Gaiman e Mike Dringenberg, a história se dirigia a um ambiente de perda de brilho e de uma futura era sombria para aquele mundo. Com o cancelamento da revista (e do seu primeiro spin-off, Miracleman: Triumphant, que seria desenhado por um emergente e ainda incipiente Mike Deodato) por conta da falência da Eclipse, é ainda hoje impossível prever todas as conseqüências. Mas é possível imaginar um cenário pouco bonito.
Esta edição, posteriormente, foi encadernada como o segundo volume das obras completas de Moore com Miracleman, sob o título A síndrome do Rei Vermelho. A leitura contínua da seqüência das histórias revela melhor os aspectos anteriormente colocados. Imperdível para quem achar - algo bem difícil hoje.
Todas as edições da Eclipse vinham complementadas com uma segunda história. Nesta revista são nove páginas dos Corsários de Illunium, que seriam relegados ao esquecimento completo, não fosse a sorte de terem saído juntamente com este verdadeiro clássico dos quadrinhos modernos.
Desconsideremos, portanto, este terrível deslize na soma final da nota deste review. Com tudo o mais que deve ser levado em conta, isso se torna mesmo irrelevante.
E, afinal, o leitor presenciou pela primeira vez o nascimento do filho de um deus. Quantas vezes em sua vida alguém pode dizer que teve esta oportunidade?
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