Uma mix tape é uma fita cassete gravada com uma seleção particular de canções e pensada para agradar uma pessoa. O protagonista de Alta fidelidade, de Nick Hornby, é um mestre dessa arte em desuso desde o surgimento dos CDs.

Essa fitinha de Lu Cafaggi não contém canções, mas, como ela mesma diz, "quatro gibis miudinhos". Todos eles, aí sim, contêm música.

Tudo é pequeno no projeto, mas não é por falta de grandeza. É mais porque Lu Cafaggi sabe olhar para o mínimo e encontrar o mais valioso. Como a música que está em todos os lugares no primeiro livrinho.

Ou uma réstia de memória, desperta por uma nota, que joga a personagem do número dois na plenitude da lembrança viva. Há a força do detalhe no devaneio do encontro do fã com a artista de música pop no terceiro e o libreto quatre fala sobre a música que se apossa de sua cabeça, compasso a compasso e, por um instante, faz você pensar que ela pode durar a vida toda.

É nas partículas do mínimo que a obra de Lu Cafaggi se agiganta e encanta o leitor, com o seu traço singelo e suas histórias simples, que precisam de um único momento para comover.

O grau de sensibilidade da artista é muito sincero e parece inesgotável. Não se cruza em momento algum com uma pretensão de sutileza, que tende a soar tão falsa em outros trabalhos.

Os traços são elegantes e contidos, os textos são poucos e suficientes.

Essa existência mínima, que aparenta fragilidade, é um ponto que concentra tudo o que Lu Cafaggi quer. Desse grão nasce um mundo.

Aqui, esse mundo vem embalado em uma trilha sonora pessoal de cada pessoa que lê e se encontra na obra.

Desse modo, a artista entrega uma fitinha pensada para cada um de seus leitores. O que faz falta mesmo é ter mais algumas "faixas" em Mix tape.