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MODOTTI - UMA MULHER DO SÉCULO XX

Por Delfin
1 dezembro 2005

Título: MODOTTI - UMA MULHER DO SÉCULO XX (Conrad
Editora
) - Edição especial
Autores: Ángel de la Calle (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 35,00

Número de páginas: 272

Data de lançamento: Novembro de 2002

Sinopse: Hoje, Tina Modotti é uma ilustre desconhecida no grupo de grandes e pequenas pessoas que conheceu durante sua vida. Como um mito, porém, tem tornado a aparecer, aqui e acolá, nas mentes de biógrafos de diversas partes do mundo.

Os enfoques são vários: seu trabalho com fotografia (seu envolvimento com o fotógrafo Edward Weston), sua passagem coadjuvante por Hollywood, sua colaboração com diversos artistas (principalmente mexicanos e russos) nos anos 20, sua conexão ao partido comunista e ao Comintern, seu envolvimento na espionagem moscovita pela Europa.

Ela também chamou a atenção de Ángel de la Calle; e os dois, a partir daí, se tornam os personagens principais de uma história que conta não só a vida de Modotti, mas também motivos e motivações de seu biógrafo, além da estranha conexão criada entre eles.

Positivo/Negativo: Sem dúvida, é uma história escrita de modo apaixonado. E toda história feita assim reflete em textos e contextos uma qualidade diferenciada. No caso de Modotti, a grande gama de referências bibliográficas consultadas por De La Calle e um bom trabalho de seleção auxiliam a tornar a biografia (originalmente publicada em duas partes) significante.

Para muitos, este quadrinho poderia passar em brancas nuvens. Afinal, qual a importância de se ler uma biografia de uma mulher cuja importância ou relevância é questionável para a história?

Mas a narrativa é muito bem construída pelo autor e prende a leitura, que possui mais material escrito que a maioria dos quadrinhos. Além disso, é notório um crescente interesse (ainda que pequeno) por esta mulher, uma das poucas pessoas a capturar imagens autorizadas da revolução que se organizava no interior do México nos anos 20.

Muito de sua vida é apenas suposição, claro. Por isso, uma biografia em quadrinhos auxilia, e muito, numa romantização da personagem. Se seria piegas numa biografia tradicional, em HQ soa muito mais adequado.

Ainda assim, nem tudo são flores em Modotti. Os desenhos, por exemplo, têm um estilo que os puristas não gostarão. Há também a velha questão do preto-e-branco, mas, neste caso, não é nem de longe um livro para crianças; e os adultos já estão crescidos o suficiente para dar uma chance ao diferente e encarar quase 300 páginas de informação.

Outro elo narrativo é o próprio envolvimento do autor na trama, incluindo a si e à sua vida no roteiro. O que, apesar de arriscado, se mostrou uma saída óbvia e acertada. Uma atitude que muitos biógrafos de terceira linha, que o fazem apenas pela parcialidade de seus textos, poderiam seguir, só pra ver se ficavam mais honestos. Pois é fácil transformar biografados em santos (sejam eles jornalistas famosos - uma moda de uns anos pra cá -, artistas ou políticos). Difícil é assumir que isto é feito ou por contrato ou por amor. De La Calle, pra melhorar, mostra que seu caso é o último. Tanto melhor.

A entrada de versões comunistas de Batman e Superman na história são o ingrediente humorístico ácido que se intercala à narrativa. Pode não ter exatamente funcionalidade alguma, mas é irônico assim mesmo.

Antes de se iniciar cada uma das partes, há pequenos textos introdutórios. Apesar de serem até interessantes, se você dispensá-los não haverá prejuízo na leitura.

A Conrad, novamente, mostra respeito ao leitor, adicionando informação atualizada sobre pontos obscuros do texto. Quanto à parte gráfica, é apenas o regular da editora, o que quer dizer grande cuidado com produção e revisão. Destaque, como sempre, para a competência de Lilian Mitsunaga, que está merecendo há muito tempo um Troféu Ângelo Agostini ou HQ Mix, pelo conjunto de sua maravilhosa obra com letreiramento de quadrinhos.

Por último, o final. Tenta ser poético. É ruim. Com tamanho envolvimento do autor com a obra, pode mesmo ter ocorrido em sua mente, mas não deixa de ser um final muito, muito fraco. Então, esqueça os últimos quadrinhos e tudo resolvido.

 

Classificação:

4,0

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