Confins do Universo 203 - Literatura e(m) Quadrinhos
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Reviews

Mona Street

Mona StreetEditora: Martins Fontes - Edição especial

Autor: Leone Frollo (roteiro e desenhos).

Preço: variável (se encontrado em sebos)

Número de páginas: 64

Data de lançamento: julho de 1990

Sinopse

Oito inusitadas histórias eróticas protagonizadas por Mona Street, uma mulher com muitos segredos, cobrindo diversas passagens de sua vida, desde seu obscuro passado até sua atual estada na casa de amigas.

Positivo/Negativo

Leone Frollo desenvolve com rara habilidade uma saga de aventuras eróticas mistas de surrealismo e depravação. A personagem-título tem nas primeiras páginas do álbum um começo "falso", que brinca com as percepções psicológicas do leitor, colocando-o no papel de joguete nas mãos do autor.

Após a brincadeira inicial, o leitor conhece o verdadeiro caráter de Mona e não se pode questionar a nítida evolução (?) de seus objetivos e ações.

Se o traço, lindíssimo, é extremamente expressivo e eficiente, as caracterizações femininas não são menos brilhantes: as mulheres de Frollo são sensuais, voluptuosas e bem desenvolvidas, nunca caricatas ou apáticas.

As situações em que se envolvem as valorizam como espectros sexuais que se avolumam no decorrer das páginas. É impossível ficar alheio à grande festa visual de corpos e movimentos, alguns verdadeiramente instigantes e criativos.

Quanto às histórias: em A chegada de Mona Street são apresentadas as principais garotas da trama, ao mesmo tempo em que já é anunciado o tom farsesco e mirabolante do enredo. Na curta A lingerie, o leitor é introduzido aos segredos eróticos narrados no diário de Mona. Um velho filme pornô revela uma parte do misterioso passado da loura ninfomaníaca. O bordel é uma pequena lembrança de tempos que, para a protagonista, não são tão passados assim.No pensionato é uma fábula semi-erótica que relembra os clássicos estabelecimentos femininos e os eventuais abusos que lá ocorrem (inclusive e, talvez principalmente, sexuais).O chicote de Mona é forte e explícita, sobre lesbianismo e poder. O terno novo de Thimoty, a melhor do álbum, é uma alegoria surreal sobre a absurda alienação das classes dominantes. E, por fim, Campeonato de bilhar serve apenas para mostrar que o desfecho de Mona é seguir sem rumo, viver livremente - na sua própria concepção.

Todas as histórias possuem alguns elementos em comum: os personagens parecem viver em outra realidade, assumindo comportamentos grotescos e pornográficos até em público, nunca compreendendo o sistema em que estão inseridos.

A graça de tudo reside no grande humor extraído de situações que, em condições normais, seriam desesperadoras: as reações não são lógicas, o sexo sempre é uma força escravizante, o nonsense surge como um fator estruturador da obra.

Leone Frollo é um autor completo, de idéias lúcidas e bem dispostas. Os enquadramentos irreverentes, os closes abruptos e lascivos, os diálogos naturalmente desafiadores, tudo leva a uma desconsoladora constatação do semi-anonimato do autor no Brasil. Falta de divulgação, claro. Até quem espera simples e excitante diversão erótica adorará Mona Street.

Classificação

5,0

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