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MULHER-GATO – O CRIME PERFEITO

1 dezembro 2008


Autores: O crime perfeito - Darwyn Cooke (texto e arte) e Matt Hollingsworth (cores);

Slam Bradley na trilha da Mulher-Gato - Ed Brubaker (texto), Darwyn Cooke, Cameron Stewart (arte) e Matt Hollingsworth (cores);

Sem dor - Ed Brubaker (texto), Darwyn Cooke (desenhos), Mike Allred (arte) e Matt Hollingsworth (cores).

Preço: R$ 49,00

Número de páginas: 228

Data de lançamento: Janeiro de 2008

Sinopse: O crime perfeito - Depois de uma temporada no Marrocos, a Mulher-Gato volta a Gotham sem dinheiro no bolso e cheia de disposição de cometer um grande golpe - roubar do mafioso Falcone US$ 24 milhões em notas não-seqüenciais em um trem em movimento.

Slam Bradley na trilha da Mulher-Gato - O prefeito de Gotham contrata um detetive particular para localizar a Mulher-Gato, bandida dada como morta.

Sem dor - A Mulher-Gato voltou, mas está mudada: assumiu seu lado justiceira e passa a caçar um bandido que está matando prostitutas em Gotham.

Positivo/Negativo: Um dos marcos do mercado brasileiro de quadrinhos de super-heróis no ano passado foi justamente a entrada da Panini na disputa por lugar nas prateleiras das livrarias. O primeiro passo foram reedições em volumes refinados, como o portentoso volume dedicado às duas séries O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, e a compilação da minissérie Crise de Identidade.

Depois, vieram volumes de clássicos, com Superman, Batman e Liga da Justiça como representantes da DC, bem como álbuns dedicados aos personagens da Marvel.

Mulher-Gato - Um Crime Perfeito inaugura uma terceira vertente, dedicada a volumes mais sofisticados, que não têm força comercial para encarar a ferocidade das bancas, mas que possuem apelo para arrebatar leitores mais criteriosos.

O conteúdo não é exatamente novo. Saiu nos Estados Unidos entre 2001 e 2002. Por aqui, permaneceu inédito, até porque eram dias em que as bancas brasileiras ainda absorviam menos títulos que hoje. Mas, ainda assim, trata-se de um material precioso, que merece uma chance de desembarcar no país.

Os próprios autores da série ganharam maior envergadura: Darwyn Cooke, então quase um anônimo, tornou-se o celebrado criador de uma pequena obra-prima dos super-heróis: a série DC: A Nova Fronteira. Ed Brubaker, na época autor de algumas boas histórias do Batman, revelou-se um talento maior, principalmente quando se mudou para a Marvel e passou a escrever fases revigorantes de Capitão América e Demolidor. Se antes os dois eram coadjuvantes do mercado, hoje vêem seus nomes nas capas em capitulares.

É verdade, e é preciso levar isso em conta, que essas histórias da Mulher-Gato não estão no mesmo nível de suas criações posteriores. São levemente menores, mais corriqueiras e menos ambiciosas.

O crime perfeito, que batiza o volume, foi originalmente uma minissérie escrita e desenhada por Cooke. Carrega em si o peso de seu autor, um notório estilista no traço e na pena. Seu desenho tem pinceladas grossas, é cartunesco e profundamente gráfico. Evoca o espanhol Daniel Torres (que faz um pin-up na galeria do fim do álbum) e, por tabela, as recentes versões em desenho animado dos heróis da DC.

Sua narrativa também não foge disso: a diagramação dos quadros é arquitetada cuidadosamente para impor um clima noir. O gênero reforça os estereótipos dos personagens: Selina Kyle vira a bonitona; Stark, o machão sedutor; e os bandidos tornam-se, bem, são os bandidos e só.

O argumento é familiar: o velho assalto ao trem cheio de dinheiro. Daí para a trama cair nos clichês do gênero é um passo só, e a história dá esse passo em falso e, de propósito, despenca.

É um truque ousado e egocêntrico de Cooke. O estilista quer porque quer que sua arte sustente a narrativa, envolva o leitor e conduza-o até o final. O sujeito é bom, bom demais. Pretensioso, ousado, quase arrogante, mas definitivamente bom. Um crime perfeito não tem uma grande trama, mas é uma belíssima história.

As outras duas histórias são de Brubaker, um autor que se dá bem em roteiros com elementos das tramas de detetives. Foi essa vertente que resolveu seguir em sua fase no comando da Mulher-Gato. Ele parte da reformulação vista em Batman - Ano Um, obra dos anos de 1980 que deixou a personagem essencialmente urbana. Sua idéia é jogá-la na rua, nos becos de meretrício do East End de Gotham.

Nos dois casos funciona. Brubaker parece saber conscientemente que provocar emoções baratas e velhos clichês são parte fundamental dos contos policiais. E, assim, apela.

Slam Bradley na trilha da Mulher-Gato, com sua típica narração de detetive, é mais verborrágico, talvez porque tivesse que ser contado em seqüências curtas nas poucas páginas que lhe restavam ao final da revista Detective Comics. A história empolga menos. De novo, quem brilha é a arte de Cooke, agora mais suja e sombria.

O contraste com Sem dor é gritante. Arte-finalizado por Mike Allred (Madman), o traço de Cooke fica mais limpo, curvilíneo e insosso. Acaba, no fim das contas, valorizando o novo uniforme visivelmente sadomasoquista da personagem, que é o que resta para gritar nas páginas.

Além das três histórias, completam a edição uma galeria de pin-ups felinos de Mike Mignola, Mike Allred, Shane Glines, Kevin Nowlan, Adam Hughes, Jaime Hernandez, Steranko e o já citado Daniel Torres.

Apesar de pouquíssimos descuidos com a língua (vírgulas, preposições e cacófatos - "ela tinha" aparece ao menos cinco vezes), o resultado é um álbum incrível, que valoriza o brilhante trabalho de Cooke e Brubaker e, ao mesmo tempo, sinaliza que a Panini tem um segmento promissor a explorar.

Classificação:

4,0

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