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NA COLÔNIA PENAL

1 dezembro 2011

NA COLÔNIA PENAL

Editora: Quadrinhos na Cia. - Edição especial

Autores: Franz Kafka (novela original), Sylvain Ricard (roteiro adaptado), Maël (arte), Albertine Ralenti (cores) e Carol Bensimon (tradução para o português)

Preço: R$ 33,00

Número de páginas: 56

Data de lançamento: Maio de 2011

 

Sinopse

Enviado a uma colônia penal para dar sua opinião sobre os métodos nela empregados, um viajante descobre um sistema judiciário bárbaro. Ele está para assistir a uma execução em que o condenado é preso a uma máquina, que inscreve em seu corpo a sentença, até que a morte chegue.

Positivo/Negativo

A literatura do escritor tcheco Franz Kafka (1883-1924) sempre se caracterizou por personagens em situações cíclicas ou sem saída aparente, rodeados por outras figuras que não parecem dispostas a resolver suas questões.

Assim são alguns de seus escritos mais emblemáticos, como os romances O processo e O castelo e a novela A metamorfose.

E assim também é a novela Na colônia penal, uma de suas obras mais conhecidas e representativas. Publicada originalmente em 1914, a história causou controvérsia nos meios literários e chocou leitores menos afeitos às ideias delirantes e assustadoras de Kafka.

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o escritor parecia antever os horrores que surgiriam dos campos de batalha dali em diante.

Na colônia penal chega intacta aos quadrinhos na excelente adaptação feita pela dupla francesa Sylvain Ricard e Maël. Em concisas e expressivas páginas, o álbum não inventa nada que não esteja no original de Kafka e acrescenta tons ainda mais assombrosos, ao transpor com fidelidade não apenas o enredo, mas o tom sufocante da obra.

Esse tom está tanto nas palavras do oficial militar, que tenta convencer um explorador sobre a eficácia de uma máquina de tortura e execução de prisioneiros, quanto na ambientação, por meio da caracterização de um espaço desértico que discretamente (ou nem tanto) reflete a decadência não apenas de uma prática desumana, mas de todo um pensamento totalitário (anos antes da ascensão das políticas totalitaristas na Europa que levariam à Segunda Guerra Mundial).

Na colônia penal parece localizar sua breve ação num não-lugar fora do tempo conhecido. Muito por conta da forma como o enredo vai se desenvolvendo, sente-se o quanto a trama fala do ser humano num sentido amplo.

A história tem apenas quatro personagens: o oficial, o explorador, o prisioneiro e o soldado. Boa parte do assombro está no conceito da tal máquina, definido pelo oficial como "um aparelho singular": ela tortura o preso fixando em seu corpo, com agulhas pontiagudas, a sentença que o levou à morte. Sem direito nem à defesa e muito menos a saber por qual crime está sendo acusado, só resta ao condenado morrer depois de 12 horas.

Ricard consegue a proeza de manter a essência da novela de Kafka, que é a de fazer o leitor, ao mesmo tempo, odiar e admirar o oficial. Porque, apesar de sua evidente vilania, ele é um personagem absolutamente convencido de que suas ações fazem sentido e estão corretas. "O princípio segundo o qual eu sentencio é de que a culpabilidade nunca deixa dúvidas", afirma ele, admirado pelo fato de o explorador não compartilhar da mesma opinião.

Para o oficial, sua lógica é tão clara e genuína, que ele não consegue imaginar que outra pessoa não compactue consigo - e, quando confrontado com essa possibilidade, toma uma drástica atitude, ponto alto da novela, da HQ e um dos maiores momentos na obra de Kafka.

Os desenhos de Maël acompanham à perfeição o ritmo de Sylvain Ricard. Se este manteve o respeito ao original, o desenhista não precisou se ater a nada criado antes e fez imagens marcantes e perturbadoras para ilustrar a história.

A composição das páginas segue um padrão de quadrinhos europeus (diagramação com quadros sempre na horizontal), o que pode causar estranhamento a eventuais leitores acostumados a páginas duplas ou a invencionices na maneira de narrar.

Para Na colônia penal, essa "dureza" gráfica das páginas funciona muito bem e é bastante coerente ao conteúdo. Os traços de Maël ficam entre o realista e o caricato, e ele faz do oficial a imagem de um homem sempre seguro de si, desenhando-o bastante magro, mais alto que os demais personagens, de nariz afilado, queixo proeminente e uma postura sempre altiva. É possível sentir suas exaltações a cada pequeno gesto e expressão tão bem delineados.

A HQ, editada pela Quadrinhos na Cia., tem papel couché e traz pequenas biografias dos autores (incluindo uma de Kafka) e introdução do roteirista Sylvain Ricard. É, desde já, um dos melhores lançamentos recentes no País.

Classificação:

4,0

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