Confins do Universo 216 - Editoras brasileiras # 6: Que Figura!
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NA PRISÃO

15 setembro 2009


Autor: Kazuichi Hanawa (roteiro e arte).

Preço: R$ 35,00

Número de páginas: 248

Data de lançamento: Dezembro de 2005

Sinopse: Em 1994, enquanto testava armamento de fogo nas montanhas de Hokkaido, Kazuichi Hanawa foi preso por porte ilegal de armas.

Julgado alguns meses depois, foi condenado a três anos de prisão em regime fechado.

Depois de conseguir liberdade condicional por bom comportamento, começou a pôr no papel o que se lembrava do ambiente e da rotina que viveu na penitenciária.

Positivo/Negativo: Esta história em quadrinhos japonesa é o que se pode qualificar como meio termo. Usando da analogia, é como um Yin-Yang: seus aspectos positivos contrastam com os negativos. Um não chega a eclipsar o outro e ambos apresentam um leque de momentos distintos dentro da obra, em perfeita equidade.

Como se diz, é bom começar sempre pelo mais fácil. Ou pelo melhor, neste caso.

O mangá de Kazuichi Hanawa é mais do que um diário ricamente ilustrado: é um documento, um relato crível do sistema carcerário japonês e de como ele funciona por trás dos muros.

Leitura altamente recomendável como curiosidade, já que o tema sempre gera interesse quando retratado em qualquer mídia de entretenimento. E aqui ganha fôlego com a fenomenal arte do autor.

Dono de uma memória fotográfica, Hanawa transportou para o papel um mundo extremamente detalhista, no qual objetos, utensílios, presos, guardas e situações convergem num panorama coeso e bem localizado no tempo, em que cada dia se torna uma nova página em branco em que ele pode escrever suas observações meticulosas de acontecimentos corriqueiros.

Seu traço underground está à frente de muitos outros artistas do gênero em seu país, talvez pelo fato de não utilizar os clichês tão comumente associados à narrativa dos mangás. Ou simplesmente por apresentar um estilo realista condizente com a atmosfera da trama - traço que em diversos momentos chega a adquirir um tom surrealista, para demonstrar como o autor se sentia.

O texto é em primeira pessoa, exatamente como um relato, e é notório o escopo de não querer apresentar um tom de denúncia para a sua situação como condenado.

Pelo contrário. O roteiro traça somente um registro incrivelmente real e, ao mesmo tempo, irreal, se comparado com outros sistemas carcerários mais conhecidos no Ocidente. Vide o cotidiano nas penitenciárias americanas e latino-americanas, especialmente as brasileiras.

O modelo de punição japonês objetiva, como descrito na obra, a perda da própria identidade como pessoa, por meio de uma austera disciplina e um rígido controle de todos os movimentos, atitudes e até mesmo preferências e gostos pessoais dos detentos.

Nos três anos que passou sob custódia, o autor descobriu que o rigor da pena só era comparável ao da rotina que encontraria atrás das grades e, ao transpor sua experiência para a linguagem dos quadrinhos, tornou seu trabalho uma obra singular.

Justamente neste contexto está o lado negativo, ou mais difícil, do seu trabalho: a narrativa é enfadonha em muitos pontos.

É compreensível que não se trata de uma aventura ou ficção e a intenção de Hanawa desde o início sempre foi clara: apresentar o máximo que pudesse sobre sua vida como preso, algo verossímil.

E ele merece méritos por ter retratado praticamente tudo com que se envolvia enquanto estava cativo, envolto num realismo impressionante com páginas recheadas de fatos interessantes que aconteciam na prisão. Mas o pecado da obra encontra-se na prolixidade, que torna esses fatos, quando relatados, um aborrecimento.

Já por volta do sexto capítulo - são 12 no total -, a leitura cansa. E muito. Da metade para o final, o interesse se esvai e só resta uma leitura arrastada ao extremo.

A quantidade de informação e desenhos na maioria das páginas faz com que, não poucas vezes, a lida seja aprazível em alguns momentos e perfunctória em outros. O interesse que emerge pela leitura da sinopse, logo no início desta avaliação, dá lugar ao cansaço em boa parte do miolo.

Para se ter uma ideia, não são poucas as cenas mostrando todo o cardápio servido em cada dia da semana. Para o leitor, essas constantes repetições não têm muita importância, mas para o autor foi importante narrar.

Sobre a versão nacional, um bom trabalho da Conrad. Assim como grande parte dos álbuns da editora, Na Prisão apresenta qualidade gráfica impecável, com direito até a sobrecapa.

Contudo, há alguns erros editoriais: as capas do mangá estão no sentido de leitura ocidental (da esquerda para a direita), bem como as primeiras páginas, inclusive há uma introdução ocupando quatro delas.

Na página seguinte está o glossário com os significados dos termos japoneses utilizados no texto e, somente depois de tudo disso, há o conhecido aviso informando ao leitor sobre a ordem de leitura, que é o original: da direita para a esquerda.

 

Classificação:

4,0

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