NAMOR – AS PROFUNDEZAS
Editora: Panini Comics - Edição especial.
Autores: Peter Milligan (roteiro) e Esad Ribic (arte) - Originalmente publicado em Sub-Mariner - The Dephts # 1 a # 5.
Preço: R$ 22,90
Número de páginas: 120
Data de lançamento: Junho de 2010
Sinopse
Randolph Stein, cientista e explorador, sempre procurou desmitificar as famosas lendas que a humanidade persiste em levar adiante, usando a luz da razão para quebrar tabus míticos mundo afora.
Como sua fama o precede, ele é contatado pela marinha norte-americana para investigar o misterioso desaparecimento do Capitão Marlowe na Fossa das Marianas - o local mais profundo dos oceanos.
Liderando um pequeno grupo de marinheiros supersticiosos, Stein é incumbido de encontrar e resgatar Marlowe, além de comprovar se realmente o capitão desaparecido alcançou êxito em sua expedição marítima: a descoberta de Atlântida.
Positivo/Negativo
No limiar dos primeiros escritos da ficção científica, era bastante comum a temática de grandes e ousadas explorações aos lugares mais fantásticos do espaço e da Terra. Até então, a moderna tecnologia não existia para comprovar o que havia de fato em alguns desses locais e, onde havia incertezas, abria-se espaço para a imaginação alçar voos nessas narrativas - ou grandes mergulhos, como no caso da obra aqui analisada.
O oceano sempre foi palco de numerosas fábulas ao longo da História. Contos de gigantescos seres marinhos devoradores de embarcações e cidades submersas lendárias povoaram a imaginação de gerações de leitores, ávidos por grandes ficções relatadas nos primeiros romances do gênero e, posteriormente, nos filmes e histórias em quadrinhos.
Exemplos notáveis podem ser vistos em obra clássicas como Vinte Mil Léguas Submarinas, do escritor francês Júlio Verne - publicada na segunda metade do Século 19 e que tem em seu autor um dos precursores da ficção científica - ou Moby Dick, do norte-americano Herman Melville.
Com o passar do tempo, tais cenários - nos quais a hesitação, a coragem e o suspense eram uma constante nas ações dos bravios pioneiros desses contos - foram sendo desmitificados na nossa realidade, com a aurora da ciência e da tecnologia de ponta.
Muito do teor lendário foi deixado de lado com o trunfo da razão e da explicação racional, advindos da imparcialidade científica. Isso terminou por influenciar também na nona arte, principalmente na atual tendência de verossimilhança por que passa a maioria de suas histórias.
Felizmente, há exceções. E de qualidade.
Originalmente publicada em cinco edições, As Profundezas é mais um magnífico exemplo de como as HQs deveriam (e devem) ser: roteiro simples e bem escrito, arte estupenda e detalhada no que importa e, antes de tudo, a sensação de ter lido uma obra muito acima da média, que cumpre seu papel de entreter.
O texto de Peter Milligan - que em muitas partes lembra o filme O segredo do abismo, de James Cameron - segue uma fórmula básica de onde se originam os bons suspenses: um agrupamento heterogêneo de homens numa missão ao verdadeiro abismo do mar, rodeados de lendas sobre o que haveria naquelas águas negras.
A profundidade do lugar em torno deles e as trevas contínuas começam a incutir pressão sobre a racionalidade do líder, o iconoclasta cientista Stein, o único que insiste em manter alguma dose de "bom senso" e afugentar quaisquer tipos de fantasias sobre o suposto guardião do local: um furioso e vingativo príncipe submarino.
Com excelentes diálogos, Milligan explora, a partir de um argumento secundário, as atitudes e mudanças psicológicas que uma circunstância dessas faria a qualquer ser humano, por mais pragmático que ele seja. Bons momentos e ótimos recordatórios preenchem as 124 páginas do encadernado, trazendo uma situação verossímil, ao mesmo tempo em que resgata a temática fantástica das perigosas explorações, de antigas narrativas do gênero.
Boa parcela da excelência do texto se deve, em grande parte, à primorosa arte pintada de Esad Ribic. Os leitores brasileiros já tiveram contato com seu traço nas minisséries Loki e Surfista Prateado - Réquiem e como capista dos primeiros números da atual série mensal de Wolverine, lançada pela mesma Panini.
Dono de um estilo artístico realista, Ribic constrói todo um panorama claustrofóbico ao recriar, com perfeição, as profundezas abissais da Fossa das Marianas, trazendo aquela sensação de mistério ao fazer o leitor imaginar, junto com os personagens, o que haveria além daquela escuridão gelada. E quem estaria ali, dentro dela, vigiando-os.
Méritos para sua visão artística de Namor que, apesar de manter a conhecida anatomia dos quadrinhos, é mais condizente com uma forma humanóide subaquática e inspiradora de temor, segundos as lendas. Muito provável é que esta seja uma versão alternativa do primeiro mutante da Marvel, fugindo da cronologia oficial.
Interessante comentar, afinal, a excelente a opção da Panini em lançar esta HQ como parte da coleção em capa dura, acabamento de luxo e preço acessível que vem disponibilizando nas prateleiras das livrarias e bancas. As primeiras edições foram Homem-Aranha - Com grandes poderes... e Capitão América - A escolha.
Iniciativas como esta devem ser aplaudidas e sempre requisitadas, pois tanto a empresa como o leitor só têm a ganhar, enriquecendo o mercado. E muito.
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