Navio Dragão
Editora: Independente – Edição especial
Autora: Rebeca Prado (roteiro e arte)
Preço: R$ 30,00
Número de páginas: 120
Data de lançamento: 2015
Sinopse: Lif é uma menina viking com um humor sarcástico, que protagoniza situações que a tornam completamente diferente das colegas de seu clã. Em busca de ser uma guerreira, ela sonha com batalhas em vez de um grande amor.
Positivo/Negativo
Navio Dragão foi o primeiro trabalho da ilustradora, quadrinhista e professora (da Casa dos Quadrinhos, em Belo Horizonte) Rebeca Prado, publicado com apoio do financiamento coletivo no Catarse.
A pequena Lif é uma viking com característica bastante contemporânea, pois é uma jovem empoderada, dona de si e cheia de sarcasmo. E esse seu humor irreverente é o que conquista e cativa o leitor.
Nas tiras, ela se comporta como uma verdadeira viking: gosta de guerras, lutas corporais e espadas, enquanto suas amigas ocupam o tempo preocupadas com o namoro, roupas da moda e fazendo planos de casar.
Por isso, Lif tenta ser minimamente sociável quando lida com pessoas. Ela é uma guerreira que luta pelo que pensa e defende como se estivesse no campo de batalha.
Rebeca Prado fez da personagem uma representação feminina da atual juventude, que luta pelo lugar da mulher na sociedade, para ter direito às suas escolhas e não ser obrigada a seguir os ditames sociais de seu tempo e geração.
Impossível não se identificar com a personagem, tampouco discordar de suas opiniões. O interessante é que Lif é o exemplo de um feminismo que se manifesta na contramão de seu tempo, por não querer seguir os protocolos nem ser uma menina como os outros acham que ela deveria ser. E ainda é valente, respeita suas origens e nada abala seus pensamentos.
A personagem seria uma autêntica filha de Hagar, o Horrível, de Dik Browne, o cômico personagem que sonhava ter um legítimo viking na família, mas seu filho Hamlet não tinha nenhum interesse em seguir os passos do pai.
Em Navio Dragão, até o cãozinho Carne tem semelhanças com o cachorro de Hagar, que usa um capacete com um par de chifres.
As situações mostradas nas tiras mostram como Lif vai frustrando as expectativas das pessoas à sua volta – para diversão do leitor. Outro aspecto em que o trabalho de Rebeca se aproxima do de Dik Browne é na ambiência e no comportamento dos personagens, que se provam tão atuais e atemporais, mesmo se passando num passado distante. E fazem isso com muito humor e senso crítico.
A visão politizada de Lif frente aos tradicionais costumes da sociedade traz pequenas lições de respeito, autoestima e bom humor. O roteiro das é sempre bem estruturado no sentido de manter a construção da personagem, e busca ser fiel o tempo todo à característica de uma viking. Sem cair no estereótipo ou ser machista ou feminista em excesso.
A arte é toda produzida em aquarela e Rebeca mostra grande domínio da paleta de cores, bem como a familiaridade com a técnica escolhida para fazer a arte-final. Os desenhos têm traços soltos e bem marcados, sem muitos detalhes. Nos sketches, se nota o uso da linha clara para depois vir com a pintura. Todas as etapas são apresentadas nos extras ao final da edição, com comentários da autora.
O álbum tem ainda uma galeria de convidados reinterpretando os personagens. A HQ foi editada em formato horizontal (22,5 x 12 cm), com capa cartonada e impressa em papel pólen na cor creme, que se aproxima muito do original, pois é mais poroso e absorve melhor a tinta.
Editorialmente, há alguns problemas de revisão e uma tira repetida, coisas que podiam ser evitadas. Navio Dragão está esgotado, mas o carisma da personagem e da autora junto ao público, dão esperança de uma segunda impressão ou, quem sabe, novas histórias protagonizadas por Lif.
Os raros exemplares existentes podem ser adquiridos no site Café Chocolate Design, que é administrado pelas artistas Carol Rossetti e Barbara Grossi.
Classificação: