NECRONAUTA – O ALMANAQUE DOS MORTOS
Editora: Zarabatana - Edição especial
Autores: Eterno Entardecer - Danilo Beyruth (roteiro e arte);
Bullying - Danilo Beyruth (roteiro e arte);
Sala de espera - Parte 1 - Danilo Beyruth (roteiro e arte);
A rainha do grito - Hector Lima (roteiro) e Danilo Beyruth (arte);
Love story - Danilo Beyruth (roteiro e arte);
Sala de espera - Parte 2 - Danilo Beyruth (roteiro e arte);
Disputa de jurisdição - Danilo Beyruth (roteiro e arte).
Preço: R$ 36,00
Número de páginas: 112
Data de lançamento: Setembro de 2011
Sinopse
Diversas histórias, passatempos e ilustrações com o Necronauta, personagem que tem como missão conduzir os mortos em sua passagem entre a vida e aquilo que existe além dela.
Positivo/Negativo
Danilo Beyruth causou frisson no ano de 2010, com a publicação do álbum Bando de dois, também pela Zarabatana. Um bangue-bangue sertanejo, de ritmo alucinante, pegada divertida e arte poderosa.
Surpreendeu muita gente, justamente porque parte do mercado não costuma ver com bons olhos o gênero super-heróis, em especial se esses aventureiros forem brasileiros. Azar de quem não acompanhou, pois o debut de Beyruth foi justamente neste segmento, com o Necronauta.
Verdade que ele não é propriamente um super-herói, mas, convenhamos, o uniforme está lá. Algumas esquisitices e até certos poderes também. Ou seja, parece, e talvez seja, ainda que de forma nada convencional, como é possível conferir nas primeiras HQs do personagem, republicadas em formato álbum pela editora HQM no ano de 2009 (confira aqui a resenha) - a maioria havia sido lançada originalmente em fanzines.
Para a sorte dos leitores, o Necronauta está de volta. Talvez um pouco mais maduro, ou otimista, quem sabe. Afinal, não deve ser fácil trabalhar na fronteira que permeia a saída deste mundo para uma jornada inteiramente nova, seja rumo a algo melhor ou nem tanto, já que é a hora de muitos expiarem seus pecados.
Assim, a primeira aventura do álbum, Eterno entardecer, começa com a quase "não participação" do Necronauta no inusitado encontro de um garoto que caiu de uma árvore com um Deus melancólico e há muito esquecido. O que eles poderiam ter em comum? Tudo, já que cada vida importa - até mesmo para os mortos.
Em seguida, Bullying, na qual um bando de garotos busca vingança contra o motorista responsável pela morte de todos. Cabe ao Necronauta tentar trazê-los de volta à razão, para entenderem que o inferno, às vezes, é mesmo aqui.
A terceira trama, Sala de espera - Parte 1, mostra uma jovem que tem seu espírito preso e vagando por um hospital, pois seu corpo está em coma. Ela não vê sentido em mais nada, mas acaba sendo injustamente perseguida por um demônio. Só com a ajuda do Necronauta a moça descobrirá que até mesmo um espírito, às vezes, pode ser de grande ajuda.
Depois, uma divertida homenagem aos filmes de horror antigos com A rainha do grito, na qual o Necronauta tenta explicar para uma atriz decadente por que é hora de ir embora. Obviamente, não será nada fácil, que o diga o divertido roteiro de Hector Lima, única participação especial em uma das HQs desta edição.
Chega então a vez de um homem que se recusa a partir, pois precisa desesperadamente dar adeus ao seu grande amor. Comédia e drama são algumas das facetas da vida. Aqui, em Love story, como numa moeda, estão juntas e, ao mesmo tempo, em lados opostos.
O leitor, então, reencontra a jovem do hospital. Na segunda parte de Sala de espera, parece que finalmente chegou a hora de ela ir embora deste mundo. E uma ajuda sempre é bem-vinda, seja para quem fica, seja para quem vai.
Disputa de jurisdição é a última HQ da edição, e a única colorida, na qual o leitor conhece diversos outros "condutores" de almas. Embora tenham atividades semelhantes, esses seres podem entrar em disputa no caso de uma pessoa sofrer uma morte com certas características.
Por exemplo, uma morte violenta; outra na qual a pessoa fica desorientada; ou de alguém que faleceu em batalha. Neste caso, ocorreu tudo ao mesmo tempo. Três condutores, uma tarefa e um final tão inesperado quando engraçado, numa das melhores HQs do álbum.
Quem sabe Beyruth não se anima e, no futuro, esses personagens não formam a "LCA - Liga dos Condutores de Almas"?
Merece ser mencionada a linearidade das HQs apresentadas. Todas mantêm um padrão elevado de qualidade, tanto narrativa quando visualmente, o que também foi constatado no álbum anterior do personagem. De novo, méritos para o autor.
E a edição conta ainda com passatempos criativos e ilustrações do Necronauta pelas mãos de Lucas Leibholz, Mateus Santolouco, Marcelo Campos, Joe Prado, Gustavo Duarte, Fábio Lima, Rafael Albuquerque, Marcelo Braga, Eduardo Schaal e Spacca.
Para finalizar, quem é o Necronauta? Nem morto, nem vivo. Nem juiz, nem mero espectador. Ambíguo? Apenas subjetivamente, já que o personagem tem um rumo perfeitamente delineado, que é o de conduzir a todos numa jornada que pode ser tão emocionante quanto surpreendente, com uma grande vantagem: o leitor pode conferir tudo sem ter que passar desta para melhor - basta virar as páginas.
E fica a certeza de que Danilo Beyruth, enquanto não chegar o momento de "trocar uma ideia" pessoalmente com o Necronauta, vai longe. Bem longe.
Classificação: