NEGRINHA
Autores: Jean-Christophe Camus (roteiro) e Olivier Tallec (arte). Publicado originalmente em Negrinha.
Preço: R$ 44,90
Número de páginas: 104
Data de lançamento: Outubro de 2009
Sinopse: No Rio de Janeiro da década de 1950, no luxuoso bairro de Copacabana, a negra Olinda, que é empregada doméstica, faz de tudo para criar sua filha adolescente Maria com tudo do bom e do melhor.
Para isso, esconde da menina até que sua família vive na favela do Cantagalo (atual Pavão-Pavaõzinho) e exige que Maria mantenha distância de negros e pobres.
Mas quando a garota se encanta pelo garoto bom de samba Toquinho, que vende lembranças na praia, as preocupações da mãe tendem a aumentar - e muito.
Positivo/Negativo: A Desiderata foi rápida para lançar este
álbum, que foi publicado na França em 2009, pela Gallimard Jeunesse,
a mesma editora de Aya de Yopougon.
Com o advento de este ser o ano da França no Brasil, a iniciativa é válida. Ainda mais porque o roteirista também é filho de um francês com uma brasileira.
Negrinha está longe de ser uma obra-prima dos quadrinhos, mas é um trabalho interessante. O roteiro é focado no preconceito que Olinda, que é negra, tem com outros negros. O fato de Maria ser clara, para a mãe, é quase uma bênção.
Camus também explora o medo que Olinda tem de sua filha se envolver com gente pobre. E, mesmo assim, a personagem não é antipática ao leitor. O autor deixa nítida sua preocupação de mãe - quando ela reza para diversos santos, demonstra saber que está errada.
Os personagens que passam pela trama são muito bem delineados. Há a dondoca que perde tudo, o moleque malandro, a menina rica com pouca alegria de viver, o porteiro galanteador, a tia pobre e Maria, que descobre o primeiro amor juntamente com o significado da palavra preconceito. Tem até uma "ponta" discreta do sambista Cartola.
E o final do álbum, apesar de deixar uma sensação de que algumas cenas "ditas" deveriam ter sido mostradas, é uma mescla de pureza e amargura.
A arte de Olivier Tallec, que estreia nos quadrinhos neste álbum (é ilustrador de origem), é bastante singela, porém se encaixa bem à proposta do livro. Seu traço é quase infantil, mas consegue passar expressividade quando isso é necessário.
As páginas pintadas em aquarela são bonitas, mas, por a história se passar no Rio de Janeiro, Tallec poderia ter apostado em cenas mais abertas, que mostrassem a beleza e a diversidade da cidade. Isso só acontece em algumas poucas passagens, pois, na maioria das vezes, o desenhista opta por planos fechados.
Editorialmente, o trabalho da Desiderata é impecável. O álbum tem prefácio do cantor e ex-ministro da cultura Gilberto Gil, enaltecendo os laços entre França e Brasil. O único senão é o preço, que pode afugentar os leitores, ainda mais porque os autores são praticamente desconhecidos do público.
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