O BEIJO NO ASFALTO
Título: O BEIJO NO ASFALTO (Nova
Fronteira) - Edição especial
Autores: Arnaldo Branco (roteiro) e Gabriel Góes (arte).
Preço: R$ 19,90
Número de páginas: 72
Data de lançamento: Julho de 2007
Sinopse: Um homem é atropelado por um lotação na Praça da Bandeira. Sabe-se que Arandir, marido de Dona Selminha, beijou o morto. E na boca.
Não se sabe se eles se conheciam antes nem se eram de fato amantes. Mas o caso chega às capas dos jornais e torna-se uma celeuma no Rio.
Para Arandir, a esposa, a cunhada e o sogro, então, a situação vira um verdadeiro inferno.
Positivo/Negativo: O Beijo no Asfalto soma-se ao fenômeno recente de adaptações de clássicos da literatura em língua portuguesa para os quadrinhos feitas por brasileiros. Estão nas livrarias obras como O Alienista, de Fábio Moon, A Relíquia, de Marcatti, e Os Lusíadas, de Fido Nesti.
O movimento nem sequer parece ordenado. Cada um sai por uma editora - muitas vezes, até, por casas mais acostumadas a publicar literatura do que HQs.
É o caso de O Beijo no Asfalto, que chega às livrarias pelo mesmo selo que edita as obras de Nelson Rodrigues: a Nova Fronteira, uma editora tradicionalíssima recentemente adquirida pelo grupo Ediouro (que é sócio da Pixel Media e também dono da Agir, que publicou O Alienista).
Por isso, o lançamento às vezes é feito paralelamente ao gueto dos quadrinhos. Em vez de sair na Fest Comix, evento típico dos fãs de HQs, O Beijo no Asfalto saiu uma semana depois, na Festa Literária Internacional de Parati, a Flip, que reúne escritores do mundo inteiro no litoral do Rio de Janeiro e teve Nelson Rodrigues como homenageado neste ano.
A parceria do cartunista Arnaldo Branco (Capitão Presença) e do fanzineiro e ilustrador Gabriel Góes funciona muito bem. O roteiro, fortemente baseado na peça de teatro que o originou, consegue manter o ritmo e a sonoridade de Nelson Rodrigues.
Para a arte, Góes, que estréia em álbum agora, adotou o preto-e-branco e um estilo em que predominam as linhas grossas, pesadonas, próximas não só da xilogravura, mas também do trabalho de Flavio Colin.
Suas páginas, contudo, seguem um modelo de diagramação baseado em nove retângulos de mesmo tamanho que, por vezes, se unem para formar requadros maiores. Embora funcione na maior parte do tempo, garantindo agilidade à trama, às vezes o recurso atrapalha ao se tornar uma prisão para a dramaticidade da história.
Outro problema do álbum está no letreiramento, que ficou bastante irregular: tem todo tipo de defeito, de grandes dentes em branco a balões com texto muito condensado, chegando a atrapalhar a leitura.
É, definitivamente, o maior defeito do álbum - e olha que a diagramação da capa é tão feinha que não só dá dó, mas consegue abafar até a boa arte de Góes e o logotipo bacana.
A edição também escorrega no português: por duas vezes no mesmo balão, o verbo "assistir" é grafado como transitivo direto numa situação em que é indireto.
Noves fora, a adaptação tem um mérito inegável: transpõe o clima rodrigueano para as HQs, uma tarefa que está muito longe de ser fácil.
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