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O DECÁLOGO # 1 - O MANUSCRITO

1 dezembro 2007


Título: O DECÁLOGO # 1 - O MANUSCRITO (Edições
Asa
) - Série em dez volumes

Autores: Frank Giroud (roteiro), Joseph Béhé (arte) e Gilles Scheid (capa).

Preço: 14 euros

Número de páginas: 60

Data de lançamento: 2002

Sinopse: Não matarás - Glasgow, tempos atuais. Um assassino serial, que mata mulheres e deixa sempre uma boneca no local do crime aterroriza a Escócia.

Em outro cenário, Simon Broemecke, diretor editorial do departamento francófono da Norman Publishing, recebe a visita de Melinda Pitts, uma senhora que três meses antes lhe deu um manuscrito para avaliação - o Nahik. Ele, claro, não leu.

Ao reencontrá-la, ele fuça entre montes de papéis, o encontra e descobre se tratar de um documento datado de 1814, escrito por um certo A. Land, que ninguém sabe de quem se trata.

Antes de partir, Melinda conta que o manuscrito está em sua família há várias gerações e ela é a última de sua linhagem. Simon promete, então, analisar o material, mas sem convicção alguma. No entanto, quando a mulher chega à rua, é atropelada e morre.

Depois de levar um fora de sua ex-namorada, Gwen, Simon decide ler o Nahik, cumprindo o que prometera a Melinda. Escritor frustrado, ele descobre naquelas páginas algo incrível e resolve traduzir a obra.

Então, o destino faz sua parte: na hora de enviar o arquivo por e-mail para seu editor, Simon o manda sem querer para Gwen, que depois de ler tudo, encantada com a obra e arrependida por ter duvidado do "talento" de seu ex, volta aos seus braços.

Com medo de decepcionar sua amada, Simon resolve assumir a autoria da obra, chamando-a A Marca do Profeta e publicando-a em capítulos numa revista semanal. Como o sucesso enorme, os editores nem esperam pelo final e resolvem lançar logo o livro.

E como Melinda não tinha parentes vivos... Será que não mesmo? Simon começa a receber cartas com páginas do Nahik idênticas ao que tinha no seu apartamento. A remetente era Íris Moorland, uma parente muito distante de Melinda, que também tinha cópia na sua família.

Íris morava na Cidade do Cabo, era viúva pela segunda vez e rica. Por isso, a única chantagem que faz com Simon é que ele deixe sua amada Gwen e diga ao mundo que tem uma nova - e madura - companheira.

Positivo/Negativo: O Decálogo é um grande sucesso na Europa. Foi inicialmente lançada na França, pela Glénat, a partir de janeiro de 2001. No 17º Festival de Amadora, em Portugal, por exemplo, uma bela exposição dedicada à obra era uma das que mais chamava a atenção do público.

A trama gira sempre em torno do Nahik, um livro definido como um romance excepcional, um objeto de arte, um tesouro bibliográfico, um tomo sagrado, um instrumento político ou, simplesmente, uma ponte entre dois seres.

O Nahik seria o equivalente muçulmano dos Dez Mandamentos do cristianismo. E teriam sido escritos sobre a omoplata de um camelo, em árabe Hidjâzì. Seriam eles:

1) Não matarás;
2) Saberás escutar a tua consciência, para nela ouvir a voz de Deus;
3) Não atribuirá a Deus nenhuma imagem;
4) Não prestarás falso testemunho;
5) Perdoarás os teus inimigos;
6) Honrarás pai e mãe;
7) Não enganarás os que te amam;
8) Mostrar-te-ás caridoso com os fracos, os diminuídos e os pobres de espírito;
9) Não cobiçarás o bem do próximo;
10) Farás amar Deus pelo exemplo e não pela força.

Além disso, em alguns tomos, os manuscritos aparecem sempre acompanhados de aquarelas pintadas por Desnouettes, durante a campanha de Bonaparte no Egito, no século 17.

A série é formada por dez álbuns independentes, mas que possuem uma ligação. Assim, podem ser lidos isoladamente ou como uma saga. Em comum, todos mostram as paixões e ganâncias que movem o homem desde a aurora dos tempos e também suas incertezas frente ao Além e às suas relações com o divino.

Giroud é quase um desconhecido no Brasil. Poucos leitores viram seu trabalho em Luís Má-Sorte, série de pouco brilho que teve alguns álbuns lançados aqui pela portuguesa Meribérica. Em O Decálogo, contudo, ele acertou a mão.

Neste primeiro volume, página a página, seu roteiro vai envolvendo o leitor, que se vê ávido a descobrir como terminará a trama. Aliás, o desfecho é muito interessante.

A forma como mescla a trama principal e a paralela (do assassino serial) e, especialmente, como amarra as duas próximo do fim é excelente.

De Joseph Béhé também quase nada se ouviu falar em nosso mercado, mas sua arte salta aos olhos, com desenhos no estilo realista - bem de acordo com a obra - e lindas aquarelas.

Apesar de a diagramação das páginas seguir um estilo mais europeu (não há ousadias como páginas inteiras e os quadros sempre têm uma distribuição mais "certinha"), sua narrativa é muito eficiente - "tomadas de câmeras" diversas garantem uma boa narrativa para o ritmo cinematográfico imposto pelo texto.

Seu traço lembra o do argentino radicado no Brasil Hector Gómez Alísio (de Samsara e Amazing Muchachas, que infelizmente está sumido do mercado).

Destaque também para o belo projeto gráfico da capa, que se manteve por toda a série. A edição da Asa é graficamente impecável. No texto, porém, há escorregadas de revisão. Na página 22 há uma frase assim grafada: "... só o result o resultado me interessava!"; na 41 faltou traduzir, na nota de rodapé, o sétimo mandamento; e na 49, escapou um "ma-nuscrito".

A qualidade deste primeiro tomo de O Decálogo, com certeza, foi fundamental para que o êxito da série no Velho Mundo, mesmo que alguns volumes subseqüentes não tenham conseguido manter o mesmo (alto) nível.

Com o bem-vindo retorno das HQs européias ao mercado nacional, O Decálogo é uma excelente pedida para pintar nas livrarias. Fica a sugestão para as editoras.

Classificação:

4,0

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