O DECÁLOGO # 5 - A VINGANÇA
Título: O DECÁLOGO # 5 - A VINGANÇA (Edições
Asa) - Série em dez volumes
Autores: Frank Giroud (roteiro) e Bruno Rocco (arte e capa) e P. Faucon (cores).
Preço: 15,50 euros
Número de páginas: 60
Data de lançamento: 2003
Sinopse: Perdoarás aos teus inimigos - Em junho de 1915, no Vale do Tchoroch, na Armênia Turca, o pequeno Missak Mardikian viu, em questão de minutos, sua avó ser assassinada por um turco, sua irmã ser raptada pelos curdos e sua mãe ser arremessada do alto de uma falésia. Enquanto isso, ele fugia com algumas provisões e um livro chamado Nahik.
Missak chega a Berlim, na Alemanha, em setembro de 1922 e logo entra para a Dachnak, a Federação Revolucionária Armênia, que continua em busca de vingança contra os seus algozes turcos.
No entanto, desconfiados e bem protegidos, os turcos refugiam-se em várias capitais européias e a cada dia torna-se mais difícil encontrá-los.
Para localizar Selim Gunneï, criminoso e bibliófilo compulsivo, Missak tem dois trunfos poderosos: Ayla, a filha do homem que persegue, que estuda junto com ele, e o Nahik.
O jovem turco, porém, não se lembrou que o amor não escolhe a ocasião para despertar. E que felicidade é uma palavra que não consta do vocabulário de quem possui o mítico livro.
Positivo/Negativo: O Decálogo é um grande sucesso na Europa. A série foi inicialmente lançada na França, pela Glénat, a partir de janeiro de 2001. No 17º Festival de Amadora, em Portugal, por exemplo, uma bela exposição dedicada à obra era uma das que mais chamava a atenção do público.
A trama gira sempre em torno do Nahik, um livro definido como um romance excepcional, um objeto de arte, um tesouro bibliográfico, um tomo sagrado, um instrumento político ou, simplesmente, uma ponte entre dois seres.
O Nahik seria o equivalente muçulmano dos Dez Mandamentos do cristianismo. E teriam sido escritos sobre a omoplata de um camelo, em árabe Hidjâzì. Seriam eles:
1) Não matarás;
2) Saberás escutar a tua consciência, para nela ouvir a voz de Deus;
3) Não atribuirá a Deus nenhuma imagem;
4) Não prestarás falso testemunho;
5) Perdoarás os teus inimigos;
6) Honrarás pai e mãe;
7) Não enganarás os que te amam;
8) Mostrar-te-ás caridoso com os fracos, os diminuídos e os pobres de espírito;
9) Não cobiçarás o bem do próximo;
10) Farás amar Deus pelo exemplo e não pela força.
Além disso, vez ou outra, os manuscritos aparecem sempre acompanhados de aquarelas pintadas por Desnouettes, durante a campanha de Bonaparte no Egito, no século 17.
A série é formada por dez álbuns independentes, mas que possuem uma ligação. Assim, podem ser lidos isoladamente ou como uma saga. Em comum, todos mostram as paixões e ganâncias que movem o homem desde a aurora dos tempos e também suas incertezas frente ao Além e às suas relações com o divino.
Neste quinto tomo, o Nahik faz jus à fama de "livro maldito", que veio sendo mostrada nos álbuns anteriores. Numa trama que envolve ódio, amor e vingança, o resultado, evidente, só poderia ser dor.
A trama central, entretanto, é batida, algo que já se viu várias vezes em outras mídias e também nos quadrinhos. A história é narrada de forma competente, com algumas mudanças de curso (não as entenda como reviravoltas), mas sem o brilho demonstrado anteriormente.
Até o trecho que tinha tudo para ser o ponto alto do álbum - quando o "tarado por livros" Gunneï precisa escolher entre o Nahik e sua filha Ayla - perdeu impacto pelo fato de o personagem ter demonstrado sua índole antes do desfecho. Por isso, sua decisão não causa surpresa ao leitor.
Mas vale mencionar que o neto de Gummeï que pega o livro no final do livro se chama Safet, e é o mesmo que se casa com Milena no quarto tomo - a oficial do exército iugoslavo chega a dizer que o Nahik estava na família dele havia anos.
Quanto ao desenho, Rocco seria maravilhoso se fizesse apenas os cenários, que detalha com precisão louvável. Mas de resto... A inconstância marca seu trabalho. Em algumas cenas, seus personagens aparecem com um visual aceitável, mas, na maioria das vezes, dizer que eles são feios é quase um elogio.
Na diagramação das páginas, sua ousadia é quase zero. Muito raramente desconstruiu a estrutura de três fileiras horizontal de quadros. Assim, sua narrativa, que já não é das melhores, fica truncada à beça.
Nem mesmo as cores de Faucon salvam a arte. Isso porque ele optou, acertadamente, é bom que se diga, por tons pastéis - mais de acordo com o clima da HQ. O resultado, no entanto, ficou carregado demais sobre o traço "sujo" e cheio de hachuras de Rocco.
A capa é uma das menos expressivas da série, apesar de seguir o projeto gráfico. A edição da Asa escorrega na quarta-capa, ao grafar o nome do pai de Ayla, num mesmo parágrafo, como Gunneï e Cunneï.
Outra novidade deste quinto tomo foi, enfim, a estréia das minibiografias dos autores - antes havia apenas os agradecimentos de cada um nas primeiras páginas. Mas, ao contrário da descrição de Giroud, a do desenhista não traz sequer o país e sua data de nascimento - ele é francês, de 14 de janeiro de 1963. Claro que a Glénat precisa vender seu peixe, mas definir o traço de Rocco como sensual e sensível foi "forçar a amizade".
Graficamente, o álbum é impecável como sempre: capa dura, papel de luxo etc.
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