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O DESFILADEIRO DE AZLO BRUM # 1

1 dezembro 2007


Título: O DESFILADEIRO DE AZLO BRUM # 1 (Fuzzie Cannibal
Comics) - Minissérie independente em duas edições

Autor: Fabiano Gummo (roteiro e desenhos).

Preço: R$ 1,00 (taxa de envio pelos correios)

Número de páginas: 16 (formato 7 x 10 cm)

Data de lançamento: Março de 2007

Sinopse: Azlo Brum é um pintor isolado da sociedade, viciado em uma substância denominada Yaba, e que se mete em uma terrível encrenca após presenciar um incidente incomum da janela do seu apartamento.

Agora, Cilla Krieg está morta e as perigosas e vingativas Bianco Girls estão em seu encalço.

Positivo/Negativo: Fabiano Gummo é um dos ótimos autores independentes da cena atual brasileira. Não segue o filão dos super-heróis, também muito presente na produção nacional, nem vai pelo caminho dos quadrinhos malfeitos e com apelo erótico como disfarce à inabilidade do criador.

O artista opta pela linha dos quadrinhos inteligentes, de verve filosófica e de bastante consistência artística (como acontece nos trabalhos de Wellington Srbek, Lourenço Mutarelli e Marcatti).

Em O Desfiladeiro de Azlo Brum, o leitor é apresentado a um típico pintor recluso com tendências existencialistas, inimigo do mundo dos homens, mas eternamente dependente dele - principalmente da Yaba, que não é descrita na edição, mas fica claro que se trata de alguma substância que cria dependência química.

Quase sem querer, Azlo Brum vê mais do que gostaria... e sua vida passa a estar nas mãos das temidas Bianco Girls - que também não são muito mostradas, porém parecem ser uma gangue de garotas sadomasoquistas. O "desfiladeiro" seria, portanto, uma metáfora sobre o caminho fechado e arriscado que ele trilha em vida.

O personagem-narrador é capaz de inflexões interessantes, além de boas frases de alto prazer estético - o que tem se firmado como ferramenta usual neste tipo de quadrinho, de visão altamente pessoal e urbana.

Pelo pequeno tamanho da revista, não é possível usar muitos quadros por página, nem muitos diálogos, o que tornou a trama curta, rápida e cheia de pontas soltas. Espera-se que os pequenos mistérios sejam resolvidos na segunda parte (quem são as Bianco Girls? O que é a Yaba? Quem era Cilla Krieg? Quem é o Bogus?).

Os traços lembram muito o trabalho realizado no underground norte-americano, uma mistura de Crumb com Daniel Clowes, passando por Charles Burns e Joe Coleman. Linhas sujas para demonstrar desilusão e tristeza; figuras geométricas espalhadas pelos objetos dos cenários e nos planos de fundo das páginas dão um toque surrealista - uma das marcas do trabalho de Fabiano. Suas sombras bem arte-finalizadas sugerem mais do que cada página mostra; rostos expressivos, tanto para sentimentos à flor da pele quanto para os ocultos.

Por fim, vale elogiar a iniciativa da Fuzzie Cannibal Comics, que com seu formato mini, está barateando bastante os custos para se adquirir um exemplar. Fabiano Gummo tem outros valorosos trabalhos lançados pelo selo; para conferir basta entrar em contato com o autor por e-mail.

Observação: há quem diga que a introdução por Fabio Godoh é uma ode ao machismo, mas ela pode muito bem ser vista como a realidade fria e crua.

Classificação:

4,0

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