O diário de Anne Frank
Editora: Record – Edição especial
Autores: Ari Folman (roteiro) e David Polonsky (arte) – Originalmente em Anne Frank – The Graphic Diary (2017) – Tradução de Raquel Zampil.
Preço: R$ 39,90
Número de páginas: 160
Data de lançamento: Outubro de 2017
Sinopse
Escondida dos nazistas com a família e outras quatro pessoas no anexo secreto de uma fábrica, uma adolescente judia registra seu cotidiano, vontades, medos e questionamentos em um diário.
Positivo/Negativo
É impressionante como, mais de sete décadas depois, as palavras de uma garota judia de 13 anos continuam entre as mais ressonantes a respeito de uma das piores tragédias da humanidade: o Holocausto.
A alemã Anne Frank passou dois anos escondida no anexo da fábrica do pai, na Holanda: de 1942 a 1944, dos seus 13 aos 15 anos.
No livro, lançado originalmente em 1947, ela expõe a rotina do lugar, o medo quanto à perseguição nazista, os anseios sobre o futuro e as questões de uma menina de personalidade forte que estava crescendo. As republicações e novas edições continuam saindo.
Diretor e roteirista da premiada animação Valsa com Bashir (2008), o israelense Ari Folman foi convidado pela Anne Frank Fonds (a fundação criada em 1963, pelo pai de Anne, Otto Frank) para desenvolver um longa-metragem animado e uma graphic novel que adaptassem o diário.
A animação ainda está em produção, mas a HQ já ganhou as livrarias em cerca de 40 idiomas. David Polonsky, que assina a direção de arte em Valsa com Bashir, desenha a obra.
O álbum naturalmente condensa os textos de Anne, mas mantém fidelidade ao original. E encontra janelas para uma história que basicamente se passa trancada em um mesmo ambiente.
Para isso, Folman e Polonsky optam por dar asas à imaginação de Anne Frank. Confinada àqueles cômodos, forçada a manter-se em silêncio boa parte do dia, ela pode apenas imaginar o que se passa lá fora. Com isso, não somente seu cotidiano no anexo é visto, mas seus pensamentos, fantasias, sonhos e aspirações ganham vida nas páginas.
E é por aí que surgem as imagens do terror nazista. Os desenhos não carregam na violência, mas o foco do álbum são os leitores mais jovens. Não deixa de ser impactante, por exemplo, a cena da menina dormindo, cercada pelo pesadelo da guerra.
Anne também imagina a morte da mãe, com quem tem constantes conflitos. Pensa na vida depois da guerra: ora algo triste e amedrontado, com sua família reduzida a pedintes; ora vislumbra um futuro em que se vê apaixonada e uma profissional realizada.
Os autores concedem a Anne Frank uma vida que ela não chegou a ter de verdade.
Suas comparações também são ilustradas: a sensação de estar em algum lugar suspenso da realidade, ou de estar se afogando. A jovem é retratada em um jardim cheio de lindas estátuas quando pensa na beleza feminina e surge como quadros de Edvard Munch (o famoso O grito) e Gustav Klimt para retratar seu estado de espírito oscilante.
A narrativa também se esmera em traduzir passagens do diário – a quem Anne se dirige como Kitty – puramente em imagens. Como ao resumir em uma página de comparações mudas a maneira como a garota vê as diferenças entre ela, "problemática" e inconstante, e Margot, sua irmã "perfeita".
Assim, o álbum consegue ser imaginativo, sem deixar de ser a voz de Anne Frank: inteligente, questionadora e engraçada.
A edição da Record (mesma editora que publica a edição em prosa de O Diário de Anne Frank) tem papel couché e capa com orelhas (embora sem texto) e o título em relevo. Como no livro original, um posfácio conta o que aconteceu com cada um dos personagens. Há ainda um texto de Folman falando sobre a adaptação.
Em tempo: curiosamente, Anne foi tema de mais dois lançamentos em quadrinhos no Brasil em 2017: Anne Frank – A Biografia Ilustrada, dos norte-americanos Sid Jacobson e Ernie Colón (pela Cia. das Letras), e O Diário de Anne Frank em Quadrinhos, da mineira Mirella Spinelli (pela Nemo).
Classificação
.