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O ENTRINCHEIRADO HANS RIBBENTROP

Por Delfin
1 dezembro 2010

O ENTRINCHEIRADO HANS RIBBENTROP

Editora: Book Editora - Edição especial

Autores: Luís de Abreu (roteiro) e José Duval (arte).

Preço: Cr$ 500,00 (valor da época)

Número de páginas: 40

Data de lançamento: Julho/Agosto de 1991

 

Sinopse

Em Berlim Oriental, no outono de 1989, o soldado Luderitz descobre um dossiê que revela a história secreta da Segunda Guerra Mundial. E o homem que pôs tudo a perder para o Terceiro Reich.

Positivo/Negativo

Onde foi parar Luís de Abreu? Cadê José Duval? Essas são perguntas relevantes, se for levado em conta que, nos tempos pós-internet, quase não há rastros digitais desses dois criadores importantes dos quadrinhos do boom nacional dos anos 1990.

De fato, as referências a eles aparecem em links parcos na internet, geralmente em sites de leilão. Se esta resenha puder ajudar a solucionar este pequeno mistério, tanto melhor.

Afinal, essa dupla realmente tinha qualidade. Algo raro de se dizer antes da virada do século. A impressão é que, longe de quaisquer turmas, Duval e Abreu conseguiram fazer quadrinhos autorais de qualidade, aliando o humor derivado das tiras de jornais à ação e à aventura, sem que isso se tornasse pastiche.

À época, apenas outro criador nacional emergia com tamanha qualidade, porém com um estilo muito diferente: Lourenço Mutarelli.

Enquanto Lourenço delirava em seus tons carregados, com melhores amigos vindos de rótulos de remédios, o roteirista Luís de Abreu e o desenhista José Duval traziam, em 1991, algo diferente. Uma graphic novel de guerra. Com humor. Certamente incompreendida naqueles tempos e que permaneceu sem ser redescoberta até agora.

A história de Hans Ribbentrop, soldado por obrigação e salsicheiro por profissão, permeia episódios-chave da Segunda Grande Guerra que, de um modo ou de outro, foram relevantes para que, ao final, Hitler sucumbisse ao seu destino final.

Ligando tais episódios, a história de Luderitz revelará que a guerra de Ribbentrop, eternamente cavando suas trincheiras pelo mundo, ainda estava para escrever seu capítulo mais importante.

Estruturalmente, o álbum parece uma oportunidade de publicação vislumbrada pelos seus criadores, visto que o conjunto da obra é composto de episódios isolados unidos por uma narrativa complementar de fundo. Algo corriqueiro quando se pretende reciclar histórias antigas, mas raramente bem executado, como fez Alan Moore com mestria em sua passagem por Miracleman, ampliando o sentido de tramas efêmeras criadas por Mick Anglo.

A oportunidade da época era a criação da chamada Nova Ordem Mundial, que teve como marco histórico um evento que também é o elemento derradeiro deste álbum: a queda do muro de Berlim.

Mas a resolução da história é tão natural
que é impossível não se envolver ou não achar
a trama legal e, vendo hoje em dia, é compreensível entender
por que o álbum não foi sequer comentado quando de seu lançamento. Totalmente
ignorado.

A distribuição deve ter sido ruim. A editora não possuía qualquer renome. Mas era uma história competente, sem furos, imaginativa, que não caía em lugares-comuns. O que a mídia especializada da época pensava de um álbum impresso em preto e branco em folhas de papel jornal, quando o mundo se admirava com a Image e suas cores fantásticas em papel brilhante?

Hans Ribbentrop parece ter perdido a guerra contra os heróis anabolizados dos anos 90.

Ou não? Afinal, ele permaneceu ali, entrincheirado, até hoje, quando seu nome
foi resgatado para que outros poderão procurar seu dossiê,
seus feitos. Quem sabe salvando a biografia de seus criadores, reabilitando
seus nomes para a história do quadrinho nacional. Talvez até encontrando
quem queira trazê-lo de volta ao mercado tantos anos depois.

Pois a única coisa certa sobre Hans Ribbentrop é que, contra todas as ordens e todos os poderes, o protagonista continua cavando suas trincheiras, fazendo amigos e ajudando a mudar o mundo. Derrubando um muro de cada vez.

Classificação:

4,0

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