O INSTRUMENTO
Editora: Webcomic independente
Autor: Odyr (argumento e desenhos).
Preço: gratuito
Número de páginas: 30
Data de lançamento: Dezembro de 2010
Sinopse
Na meia-idade, Houdini, de repente, descobre em uma vitrine o instrumento que procurou por toda a vida. E agora? Como ter motivação para escrever as primeiras canções aos 40 anos, quando praticamente todas as composições interessantes já foram criadas?
Positivo/Negativo
Eis uma HQ na qual se percebe que o desenrolar da trama foi desenvolvido pelo autor ao mesmo tempo em que a história ia sendo escrita. Para onde a coisa toda levaria? E o que importa descobrir isto antes da hora, parece ser a resposta de Odyr.
Uma proposta livre como esta também deve ser conferida por um leitor de mente aberta. Caso contrário, corre-se o risco de rejeição quase imediata. É preciso "viajar" junto, sem a pressão de querer chegar ansiosamente ao destino.
Até porque, não há motivo para preocupação. A jornada de Houdini, apesar de melancólica e, por vezes, hermética, é paradoxalmente leve. O personagem caminha pelas páginas seu vazio existencial, porém, sem transformá-lo em um buraco negro que sugue a paciência do leitor.
Antes de ser um chato melodramático, o Houdini da história é um típico sonhador sem rumo, daqueles que toda pessoa foi em certo momento da vida.
À medida que a narrativa avança, verifica-se que o personagem aos poucos se torna refém do instrumento que tanto procurava. Contudo, a procura, de certa forma, é o próprio instrumento e o meio - no caso, a HQ em si - é a expressão da busca de outro personagem: o autor.
Pois a forma pessoal com que é feita revela que, além de Houdini, o próprio Odyr também é parte integrante da história. A livre associação de ideias, a despreocupação em esmiuçar e amarrar tudo, a atemporalidade de certas cenas - como a que o protagonista canta um famoso refrão de Neil Young - mostram que a linha narrativa segue o que é afetivo ao autor, e não ao personagem.
O nome do personagem, por exemplo, brinca com o do famoso mágico, até hoje considerado o maior de todos os tempos. É ele o próprio Houdini? Ou o nome funciona apenas como um ícone que o autor toma emprestado para retrabalhar em cima, de acordo com as próprias preferências? A segunda opção.
Esta, aliás, é uma das melhores sensações ao se ler O Instrumento. Fica claro que Odyr tomou a liberdade de não encanar com nada - sequer com a lógica da própria história. A HQ cheira a coisa livre, sem amarras, tanto no texto surreal quanto na arte propositalmente emporcalhada.
Odyr preferiu não concluir a história em formato online. Julgou que o tipo de leitura não estava adequado. "Resta (pelo menos) mais um capítulo em construção, no qual Houdini enfim começa a compor suas canções", diz. O resultado, talvez, só em uma versão impressa.
Uma pena. Para quem acompanhou e embarcou na viagem de cada uma das páginas virtuais do folhetim, fica a mesma sensação de se ter ouvido um disco muito bom, porém, misteriosamente sem as últimas faixas.
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