O RELÓGIO INSANO
Autor: Eloar Guazzelli (texto e arte).
Preço: R$ 20,00
Número de páginas: 80
Data de lançamento: Outubro de 2007
Sinopse: Num país que vive sob um forte regime opressivo, há duas opções: acomodar-se entre os que tiram proveito da situação ou buscar a libertação.
Positivo/Negativo: Talvez o melhor que o leitor tenha a fazer a respeito do parágrafo acima é ignorá-lo. Não há como sintetizar O relógio insano em um punhado de palavras. Sua HQ, diferente de muitas outras que se lêem por aí, não é um livro ilustrado, cuja trama sobreviveria à ausência de imagens. Nem mesmo um catálogo de arte, com traços que usam o texto apenas como mero apoio.
A obra de Guazzelli é uma história em quadrinhos por excelência, em que texto e imagem não apenas andam juntos, mas conversam, se complementam, estão organicamente interligados.
Só a simbiose torna possível que a história seja lida. E não é tarefa para qualquer recém-chegado. Guazzelli não é linear. Nem didático. Nem explícito. Seus quadrinhos são ordenados de forma que contam mais que uma história - eles provocam sensações e emoções responsáveis por construir a trama.
É uma narrativa vertiginosa - e não no sentido mais clichê da vertigem, e sim porque exige que o leitor se desprenda e aceite o convite para um mergulho intuitivo em suas páginas. Nada passa em branco: nem os traços que evocam xilogravura, nem a diagramação bem cadenciada, muito menos a opção pelo texto mais poético.
O que se encontra nessa viagem não é bonito: as transições ousadas revelam um mundo (e talvez um Brasil, como indica uma bandeira na página 26) opressivo, dominado por um sistema ditatorial sufocante. Os poucos que conseguem se libertar acabam desaparecidos. E, francamente, parecem que são poucos os que querem sair debaixo da asa do sistema.
O relógio insano é uma grande representante do que os quadrinhos independentes brasileiros têm a oferecer. Embora tenha uma temática diferente, o livro também conversa com outro trabalho de Guazzelli lançado no ano passado: O primeiro dia. Os dois se complementam, especialmente porque ajudam a decifrar a às vezes hermética visão de mundo de seu autor.
Pena que, como no outro álbum, alguns descuidos com a língua não tenham sido filtrados antes de chegarem ao leitor. Estão no álbum "assistir filmes" (sem a preposição obrigatória, p. 29), "abrí-los" (o correto é sem acento, p. 43), "alem" e "tambem" (nos dois casos, faltaram os acentos, p. 71 e 80, respectivamente).
Os erros não tiram o mérito da obra e de quem a publicou. Não por acaso, o lançamento é o segundo volume da coleção 100% Quadrinhos, sucedendo o admirável Um dia uma morte, de Fabiano Barroso e Piero Bagnariol. A série é um selo para álbuns da revista mineira Graffiti 76% Quadrinhos, grande difusora da HQ independente nacional.
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