O Xerife da Babilônia – Volume 2 – Pow. Pow. Pow.
Editora: Panini Comics – Série em dois volumes
Autores: Tom King (roteiro) e Mitch Gerads (arte e cores) – Originalmente em The Sheriff of Babylon # 7 a # 12 (tradução de Levi Trindade e Fabiano Denardin).
Preço: R$ 23,90
Número de páginas: 144
Data de lançamento: Dezembro de 2017
Sinopse
Christopher Henry tentou encontrar um assassino. E agora está preso em algo muito mais mortal. Policial da Flórida que virou consultor militar, ele foi ao Iraque após a invasão dos Estados Unidos, em 2003, para treinar uma nova geração de policiais pós-queda de Saddam Hussein.
Mas o assassinato de um dos recrutas abriu a porta para uma vasta rede de segredos e mentiras, e ela liga o antigo regime, o novo governo, militares dos Estados Unidos, o submundo criminoso e a rede jihadista em um emaranhado de morte e falsidade.
Por sorte, Chris não está sozinho em meio ao caos. Nassir – policial das antigas de Bagdá – e Sofia – parte do poder político da região – também têm suas razões para trazer o assassino à justiça. Juntos, os três rastrearam o homem por trás do crime: Abu Rahim, comandante da insurgência.
Enquanto a investigação caminha para o desfecho – e a motivação conflitante de cada um os empurra para objetivos diferentes –, Chris, Nassir e Sofia estão prestes a descobrir que nada é tão simples quanto parece no universo apocalíptico em que vivem.
Positivo/Negativo
Quem é a autoridade numa terra sem lei? Como lidar com momentos de transição, nos quais seria muito mais simples apontar os culpados?
As respostas não vêm de forma fácil e maniqueísta no nó górdio que é atado à série criada por Tom King e Mitch Gerads. A teia é bem mais ampla do que uma parábola do peixe, dita no começo deste volume, o que sintetiza muito da época recente de um Iraque em transição.
Chris Henry, o consultor militar norte-americano enviado para treinar soldados iraquianos, recua para dar mais espaço aos coadjuvantes, como Nassir, o ex-policial do antigo regime. Um sujeito durão durante as torturas, que sabe como é a dor emocional de uma guerra. Essa parte tem uma estrutura parecida com o seriado televisivo 24 Horas, incluindo uma citação explícita.
Tal segundo plano, no qual Henry se encontra nesta metade final da série, faz o leitor questionar sobre o título da HQ. Seria o termo "Xerife da Babilônia" algo mais simbólico do que personificado?
Pode ser que alguns leitores se encontrem mais "perdidos" nesses capítulos do que os anteriores, mas essa sensação de confusão ou de pontas soltas encontra uma resposta muito convincente – e, de certa forma, esclarecedora – após uma história relatada por Sofia sobre seu avô, após uma reunião.
Como curiosidade, nesta página (a 130), no canto esquerdo do terceiro quadro, aparece a dupla criativa da série numa ponta como soldados.
King distribui muitos pontos da narrativa nos quais intercalar imagens ou distribuir as cenas de um modo que crie novos significados parece ser algo bem fácil de se fazer. Principalmente nas partes que envolvem Nassir.
O Xerife da Babilônia é uma obra para ler sem pressa. As pausas e silêncios ao longo das páginas devem ser "interpretadas", assim como o tempo de um filme. São momentos rápidos, mas que causam tensão e claramente agem como "deixas" para os diálogos afiadíssimos.
O auge dessa inquietação é a espera de Sofia e Nassir pelo líder da insurgência, Abu Rahim. Em paralelo, o roteirista acrescenta mais doses de apreensão também na espera de Chris Henry, em outro canto.
Além dos diálogos precisos, que prendem a atenção com um seguimento de quatro páginas de uma simples conversa ao telefone, o autor joga detalhes que complementam as entrelinhas. Um exemplo é na sala de espera, quando Henry conversa com um agente de segurança da Zona Verde. Folheando uma revista Time com o então presidente George W. Bush na capa, nunca um título se encaixou tão bem naquele contexto.
Seguindo o exemplo do volume anterior, a edição da Panini mantém a capa cartonada sem orelhas, formato americano (17 x 26 cm) e papel LWC com boa impressão. A editora preserva a mancada de rechear a primeira página da HQ com citações de várias críticas, mesmo o material vindo plastificado. Nesse espaço bem que poderia vir um resumo da edição anterior, algo esboçado na quarta capa.
Outro ponto negativo é não ter um glossário ou notas de rodapé para termos como "mujahidin" (combatentes) e "hajji" (muçulmano que completou com sucesso a peregrinação – o "Hajj" – para Meca, mas aqui é usado como algo pejorativo).
Inclusive, uma sequência importante na qual o centro da conversa é o filósofo Avicena (980 d.C.- 1037), representado em um quadro, perde seu sentido de ironia por falta de uma nota explicativa sobre a origem do estudioso persa, que escreveu tratados sobre diversos assuntos, dos quais muitos ainda são analisados.
A obra poderia perfeitamente ser adaptada para o cinema com Denis Villeneuve (de filmes como Incêndios, Sicário), Paul Greengrass (de Zona Verde) ou Taylor Sheridan (Terra Selvagem) na direção. E não seria filme padrão Mark Millar de qualidade – "diversão garantida, coloquem os óculos 3D e, por favor, desliguem os seus celulares e cérebros".
Interessante notar um ciclo no desfecho da turbulenta série. Há ambiguidade, remorso, ira, caos, manipulação, segredos e mentiras. No final, não resta dúvidas, alguém vai ter que pagar.
Classificação