OS INVISÍVEIS # 13
Título: OS INVISÍVEIS # 13 (Brainstore) - Revista Mensal
Autores: Grant Morrison (roteiro) e Jill Thompson (desenhos).
Preço: R$ 7,90
Número de Páginas: 24
Data de lançamento: Julho/Agosto de 2003
Sinopse: She-Man - Parte Um - Menino Vênus - Início do arco de três partes que revela a origem secreta de Lord Fanny, o membro travesti dos Invisíveis.
King Mob está usando de seus métodos para encontrar Jack Frost, enquanto Fanny se encontra na mira de um assassino enviado pelo inimigo.
Positivo/Negativo: Já é chover no molhado mencionar isso, mas Os Invisíveis é mesmo o melhor título Vertigo publicado atualmente (Preacher fica em segundo, perdendo por pouco).
A série de Grant Morrison chegou ao Brasil com oito anos de atraso e trouxe consigo o sabor arrojado que o selo tinha em seus primórdios, antes de seu propósito ser diluído pelas artimanhas do mercado.
Foi um período áureo, de temáticas ousadas e títulos que não subestimavam a inteligência do leitor e nem hesitavam em, por vezes, coloca-la à prova mesmo.
Os escritores dos títulos Vertigo eram, antes de tudo, ávidos leitores, homens de uma cultura riquíssima e não viam por que não transparecer seus conhecimentos em seus trabalhos. O nível das publicações era alto e estabeleceu um novo patamar para o circuito mainstream de quadrinhos americanos.
Como sempre acontece, não foram poucas as vozes que protestaram pelo "hermetismo" dessas publicações. Embora seja considerada uma das melhores HQs de todos os tempos, não foram poucos os que julgaram Sandman "difícil" ou "hermética demais".
Igualmente, para muitos leitores, o arco A Máquina do Medo, da revista Hellblazer foi um verdadeiro desafio, pela quantidade de referências à magia, física quântica, disciplinas esotéricas e informações históricas sobre sociedades secretas.
Sem falar em Homem Animal, do próprio Morrison, que subverteu a lógica do universo dos super-heróis mesclando metalinguagem com rituais à base de peyote.
Nada de didatismo. O leitor que se sentisse ignorante diante de qualquer título tinha duas opções: abandoná-lo e continuar com sua alegre ignorância ou assimilar o máximo possível das histórias e deixar que elas despertassem a curiosidade de descobrir mais sobre os temas abordados. A esperança em dias melhores sempre nos fez querer acreditar que o segundo grupo aumentasse com o passar dos anos, mas a dura realidade prova o contrário.
Cada vez mais, a mídia e a cultura de consumo parecem tentar criar um senso comum, no qual a leitura e o conhecimento são vistos abertamente como maçantes ou "coisa de elite".
Espantosamente, a cada dia sobe o número de pessoas, nas mais variadas posições, que se orgulham em dizer que não têm tempo para leitura, que estufam o peito para ridicularizar livros, filmes, peças e HQs que estão além de seu nível de conhecimento.
Ao depararem-se com um trabalho artístico que exige reflexão ou um mínimo de conhecimento histórico e/ou cultural, em vez de tentarem descobrir mais sobre a obra, o artista, seus temas e idéias, preferem simplesmente liquidá-los com um "Ah! Não entendi nada, esse cara tá viajando!", e lá vão de volta para suas telenovelas e afazeres "importantes".
Aos artistas são pedidos/exigidos trabalhos mais "simples", "didáticos", auto-explicativos; coisas que o público médio não tenha dificuldade alguma pra entender (consumir).
Os próprios programas de incentivo à arte e a cultura exigem esse nivelamento por baixo para a obtenção de um público mais amplo. Numa lógica torta, no lugar de investir em educação e elevar o grau de cultura da população, para que todos possam compreender uma obra de arte complexa, preferem pedir ao artista que baixe o nível de seu trabalho para ser mais palatável, mais consumível.
Morrison mesmo baixou o nível em anos posteriores. Seu trabalho em Liga da Justiça e X-Men, por exemplo, é muito mais inofensivo e palatável; não por acaso, mais popular.
Felizmente, nem todos os escritores se rendem à essa lógica. Caras como Alan Moore continuam fazendo um trabalho sofisticado e complexo mesmo em suas obras para simples entretenimento (como A Liga dos Cavalheiros Extraordinários), mantendo uma posição estética e ideológica cujo tempo apenas reforçou o sentido.
O lançamento de Os Invisíveis no Brasil deve ser celebrado, entre outras coisas, por permitir o contato com um Morrison no auge de sua ousadia. Sem nenhum receio de ser polêmico, difícil, sofisticado, adulto de fato, muito além dos meros palavrões e violência gratuita que acabaram tirando o brilho de revistas como Hellblazer.
A leitura da série exige mente aberta, curiosidade, imaginação, fascínio pelo desconhecido, pelo bizarro. Não é preciso ser expert nas temáticas que Morrison mescla de formas insólitas, mas sim ser permeável o suficiente para mergulhar nos mistérios da revista e ser curioso o bastante para procurar mais informações sobre os temas abordados.
O arco que começa nesta edição aborda mitologia asteca, xamanismo, o universo gay londrino e outras cositas mas. Novamente, o roteirista não se preocupa em facilitar as coisas. Sua idéia é que o leitor será capaz de acompanhar as complexidades de uma trama que, por sua própria natureza, não pode deixar de ser complexa.
Alguns acusam Morrison de escrever para "iniciados". Melhor seria dizer que o faz para pessoas em busca de uma "iniciação". Os Invisíveis tem coisas importantes a dizer ao nosso mundo ocidental cristão nesse início de século. Basta que o leitor aceite o seu desafio.
Se for o seu caso, mas você sentir dificuldade (o que é natural), os textos de Alexandre Mandarino o ajudarão fazer uma ponte entre o cotidiano maçante do mundo moderno e o caldo cultural explorado na série.
Espera-se que isso ajude a aumentar o número de leitores o suficiente, para que a revista não seja cancelada antes de seu final, deixando órfão um público que ainda se atreve a exercer uma atividade quase marginal nos dias de hoje: pensar.
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