Em seu livro Story, um dos melhores manuais de roteiro já escritos, Robert McKee ensina que o(s) personagem(ns) principal(is) deve(m) comer o pão que o diabo amassou. Nada deve ser fácil pra ele(s). Quanto mais sofrimento, desafios e dilemas, melhor.

Seu xará Robert Kirkman segue à risca esse conselho.

Ainda está para ser criado, nos quadrinhos, personagem cujo calvário seja maior do que o de Rick Grimes, da série Os mortos-vivos.

No início da trama, Rick desperta de um coma, durante um apocalipse zumbi, descobre que foi abandonado por sua esposa e filho, e ainda precisa aprender rápido e sozinho a se defender dos errantes. Caso contrário, poderá se tornar um deles.

Ao reencontrar sua família, encara seu melhor amigo, Shane, que mantém um caso com sua esposa e revela-se um sujeito torpe e babaca.

Grimes assume a posição de líder do grupo de sobreviventes e, aos poucos, vai aprendendo a ser menos bonzinho e compreensivo, e mais enérgico e ditatorial, ganhando a antipatia de alguns dos membros.

Apanha muito. Bate. Toma decisões erradas, que põem em risco a vida dos membros do grupo. Tem a mão direita decepada. Leva tiro. Vê familiares e amigos serem assassinados na sua frente e deve se manter forte para conduzir seu filho Carl a um lugar seguro e recomeçar a vida.

Da mesma forma que Rick, os demais personagens de Os mortos-vivos não são poupados pelo seu criador. Todos foram concebidos para sofrer. E Kirkman permite que alguns deles morram, sem nenhum pingo de arrependimento.

Este volume é carnificina pura.

Em um flashback, o leitor fica sabendo como o Governador foi salvo da surra dada por Michonne, e a ação segue até chegar ao ponto em que terminou o volume anterior, com o vilão encontrando a prisão e iniciando uma vingança em três atos, com perdas e ganhos para ambos os lados.

A HQM acertou em apostar na série, bem antes de o quadrinho virar série de TV, arrebatando prêmios e fãs por todo o mundo.

No posfácio do tradutor Artur Tavares, que também é um dos diretores da editora, fica explícita a alegria pela vendagem da HQ no Brasil, motivando a HQM a regularizar os lançamentos, evitando o hiato que vinha aborrecendo muitos leitores.

Este volume também traz uma edição especial, publicada originalmente em 2005, estrelada por Morgan e Duane (personagens que apareceram no primeiro volume da série), permitindo um momento de ternura em meio a tanta violência.