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Reviews

OS SUPREMOS 2

1 dezembro 2012

OS SUPREMOS 2

Editora: Panini Comics - Edição especial

Autores: Mark Millar (roteiro), Bryan Hitch (arte), Andrew Currie e Paul Neary (arte-final) e Paul Mounts (cores) - Publicado originalmente em The Ultimates 2 # 1 a # 13.

Preço: R$ 89,00

Número de páginas: 408

Data de lançamento: Julho de 2012

 

Sinopse

Após a vitória sobre os alienígenas Chitauri, os Supremos passam a ser utilizados para missões internacionais de resgate e combate.

A intromissão truculenta de superseres em assuntos políticos provoca uma onda de desconfiança e indignação em diversas nações, que é capitalizada por Loki, o deus da trapaça, para a execução de um plano insano, que tem por objetivo consumir o mundo inteiro em uma definitiva e devastadora guerra.

Positivo/Negativo

Se a razão para ler essa resenha é descobrir se Os Supremos 2 vale os R$89,00 que custa, a resposta é sim.

Roteiro muito bacana e inteligente de Mark Millar lançando uma nova perspectiva sobre o supergrupo mais badalado do momento e arte impressionante de Bryan Hitch, que, com suas composições e linguagem sequencial, faz parecer que o leitor está assistindo a uma megaprodução cinematográfica.

Essa parceria vem embalada em um livro de capa dura e mais de 400 páginas, com ótimo acabamento gráfico, incluindo o famoso e estonteante painel de oito páginas desenhado por Hitch. Além disso, uma sessão de extras com as capas das edições originais, esboços e comentários dos autores. Então, pode-se dizer sem medo que é um dinheiro muito bem gasto.

Para esmiuçar mais os detalhes desta obra, é necessário abordar alguns eventos do enredo. Portanto, a partir de agora há spoilers. Se isso o incomoda, é melhor parar a leitura da resenha aqui.

Depois do lançamento do filme Batman - O Cavaleiro das Trevas ressurge, episódios como o trágico atentado em Denver e manifestações apaixonadas de fãs na internet levaram algumas pessoas a declarar que super-heróis não podem e nem devem ser levados a sério.

Para essas pessoas, é uma tola pretensão tentar usar super-heróis para abordar quaisquer assuntos mais "maduros". Elas argumentam que essas figuras são uma grande fantasia infantil e existem apenas para viver aventuras pueris e sem consequências. Sujeitos em roupas coloridas de borracha devem divertir a audiência, causar boas risadas e só.

Com toda a certeza, não é nada saudável levar super-heróis a sério demais. (Mas, até aí, não é nada saudável levar qualquer assunto a sério demais).

Supremos 2 é uma HQ pretensiosa, megalomaníaca, que diverte e abusa da suspensão de descrença, mas, ao mesmo tempo, retrata personalidades e temas moralmente questionáveis. O leitor vai perceber que os autores levaram os super-heróis a sério. Muito a sério.

Possivelmente, se Christopher Nolan fosse o responsável pelo filme Os Vingadores, o resultado seria algo muito parecido com Os Supremos. Mas, mesmo assim, talvez não fosse tão bom quanto o trabalho feito por Millar e Hitch, ao qual, aliás, frequentemente são atribuídas características de "superprodução cinematográfica".

A relação entre essa série do selo Ultimate da Marvel e o cinema é reforçada pelo layout das páginas, pelo ritmo do roteiro e tratamento dos personagens. Os próprios autores, em sua sessão de comentários, no final do álbum, criam diversos paralelos entre sua obra e um filme. Nos rostos desenhados por Hitch, é fácil reconhecer alguns atores.

Por exemplo, Patrick Stewart como professor Charles Xavier e Linda Hamilton como Viúva Negra. E, obviamente, as artes que praticamente decretaram Samuel L. Jackson como Nick Fury.

A verdade é que a abordagem séria, realista e sombria dos Vingadores feita por Mark Millar e Bryan Hitch é similar e antecipada em alguns anos ao filme Batman Begins.

Supremos 2 retoma temas que Millar já havia abordado antes na série Authority: o que acontece no mundo "real" quando os super-heróis começam a interferir nas "injustiças" além do mundo fantástico ou do crime comum? O que ocorre quando os fantasiados superpoderosos começam a meter o bedelho em questões de política internacional?

Após vencerem os Chitauri, os Supremos são orientados a "salvar a democracia e liberdade" em outros países. A edição abre com Capitão América resgatando reféns de um grupo de terroristas árabes.

Esse evento abre a possibilidade de outras intervenções internacionais. As "pessoas de destruição em massa" são utilizadas para derrubar governos e defender interesses dos Estados Unidos.

Thor, o idealista do time, recusa-se a tomar parte nessas ações. Sai da equipe e se pronuncia publicamente contra as novas direções.

Esse é o ponto em que Loki surge. Valendo-se da truculência norte-americana, o deus da trapaça manipula com facilidade as outras nações do mundo, orientando-as a uma "ação preventiva". Ao mesmo tempo, está por trás da neutralização de cada um dos Supremos.

A trama inteira se distribuiu originalmente por 13 edições e segue instigante até a edição de número 11.

Além das intrigas e do suspense sobre quem é o traidor da equipe, Millar desenvolve a ambiguidade moral dos personagens, contrariando o cânone simplista.

Um bom exemplo é Hank Pym. No volume anterior, ele se revela como um homem desequilibrado, que espanca a esposa e quase a mata. A primeira impressão é que ele é um mau-caráter que merece a surra aplicada pelo Capitão América.

Em Supremos 2, Pym retorna com o moral mais baixo do que sua estatura como Homem-Formiga.

Perde o emprego e envolve-se com o vergonhoso grupo dos Defensores. Aliás, esse é um dos episódios mais bacanas e engraçados do volume. Pym torna-se talvez o maior perdedor que já apareceu no Universo Marvel.

Mas, ao mesmo tempo, cria um vínculo, quase uma amizade com o antigo adversário Bruce Banner. E, em um gesto de compaixão genuína, arrisca-se para salvá-lo da pena de morte pelos crimes que o Hulk cometeu.

Mais tarde, aparece como cúmplice de Loki e do traidor da equipe. Entretanto, durante o ataque das tropas invasoras a Washington, ordena que seus robôs não só controlem a multidão de civis, como também a protejam de qualquer violência.

Finalmente, quando a balança começa a pender para o lado dos super-heróis, Pym novamente troca de lado e ajuda a combater os invasores. Ainda assim, é preso e levado a julgamento por traição.

Ao mesmo tempo em que apresenta inaceitáveis defeitos para um super-herói, Pym tem surtos de sincero altruísmo. É um perdedor completo e patético e também uma das figuras mais interessantes de toda a história. Mas não é a única.

Millar desenvolve os personagens e confere a muitos deles aquela incoerência tipicamente humana.

Vespa, apesar de estar com o Capitão América, enfastia-se de seu relacionamento com o bom moço e volta a flertar com o homem que a espancava.

Tony Stark é um gênio, uma mente extraordinária, mas, às vezes, demonstra uma inteligência emocional similar à do Pateta, fiel companheiro do camundongo Mickey.

Betty Ross tem uma complexa relação de amor e desprezo por Banner. Sofre por ele, mas encaminha o processo que culminará com sua execução e envolve-se com Nick Fury.

Não só de incoerências são feitos os Supremos. Thor é surpreendente em sua posição política e fé. A tristeza e solidão do Capitão América são comoventes. O mesmo vale para Bruce Banner, que se revela em um discurso lido em seu "funeral".

As implicações políticas, a insatisfação de outras nações com a postura de "xerife do mundo" adotada pelos EUA, a facilidade com que a S.H.I.E.L.D. se volta contra seus aliados e diversos outros detalhes abrem espaço para uma série de reflexões sobre autoritarismo, poder e liberdade.

Com uma passagem breve, porém significativa na trama, Abdul Al-Rahman mostra-se como um adversário que tem motivações similares e tão válidas quanto o Capitão América, a quem se opõe.

Assim, nos temas e no desenvolvimento dos personagens, Os Supremos 2 apresenta-se como uma instigante reinterpretação e subversão das clássicas histórias dos Vingadores da época da Guerra Fria, nas quais os valores do certo e do errado eram muito bem definidos.

Aliás, as referências à mitologia dos "heróis mais poderosos da Terra" no universo tradicional da "Casa das Ideias" devem deixar os fãs bem contentes. Uma das melhores é o inexplicável e engraçado flerte da Feiticeira Escarlate com o androide Visão.

Junto com o desenvolvimento dramático dos personagens e tramas, há também sequências de ação eletrizantes: a captura de Thor e o atentado contra a família do Gavião Arqueiro são espetaculares.

E tudo vai muito bem até a edição 11, que marca o início do grande conflito final entre os heróis e seus adversários. Trata-se realmente de um confronto épico. Enorme. Interminável.

Com diversos focos para mostrar os muitos personagens envolvidos na trama, essa briga é digna de todos os adjetivos hiperbólicos tão usados por Stan Lee. Não há uso algum de onomatopeias, mas as páginas de Bryan Hitch são tão barulhentas quanto os clímaces de ação dos filmes de Michael Bay.

É o exagero da ficção de super-heróis usado de maneira completamente despudorada por Millar e Hitch. Tão grande, que simplesmente cansa. Quando se pensa que a batalha vai finalmente acabar, Loki joga todo o bestiário fantástico viking sobre os Supremos e o leitor. E tome mais páginas de ação desenfreada.

Cansa, mas também aumenta a admiração pelo trabalho de Bryan Hitch. Que fôlego ele tem para desenhar toda aquela multidão de personagens detalhando cada gota de sangue e suor.

Quando a ação acaba, é muito subitamente, às pressas. Assuntos são resolvidos rapidamente e a derradeira sequência da história é um flashback que é bonito e romântico, mas, se analisado friamente, desnecessário.

O que fica em aberto é a situação política mundial. China, Rússia e França participaram de uma invasão à capital norte-americana. Ameaçaram a soberania do país. E agora? Como ficam as relações entre essas nações?

Parece que fica tudo bem. Fazem as pazes e prometem não usar super-heróis em assuntos internacionais de novo. Simples assim. E esse tipo de solução parece incomodar mais do que uma pessoa que reduz seu tamanho para o de uma formiga.

Eis o final: as coisas voltam ao que era antes, o equilíbrio do mundo permanece o mesmo, nada muda. Nesse sentido, Os Supremos 2 segue à risca o cânone dos fantasiados superpoderosos: muito barulho por nada, mas a diversão é garantida.

Empolgante e inofensivo, como se supõe que uma boa superprodução cinematográfica deva ser.

Afinal, super-heróis são apenas brincadeira de criança ou podem se levar a sério? Hitch e Millar criam com mestria um mundo em que impossíveis deuses nórdicos e homens de 60 metros convivem com humanos demasiadamente humanos. Produzem uma obra de leitura tão arrebatadora, que faz a pergunta perder o sentido.

Essa é a grande proeza dessa dupla dinâmica.

 

Classificação:

4,0

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