Confins do Universo 204 - Marcelo D'Salete fazendo história (em quadrinhos)
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PIECES # 1

2 outubro 2009


Autor: Mario Cau (texto e arte).

Preço: R$ 6,00

Número de páginas: 32

Data de lançamento: Janeiro de 2009

Sinopse: Coletânea de oito histórias da série Pieces, que aborda relacionamentos amorosos entre jovens.

Positivo/Negativo: Para situar: Pieces é uma revista que surge no rastro de títulos como Estranhos no Paraíso e o brasileiro 10 Pãezinhos.

Dá para sacar isso só de olhar a arte: em preto e branco, cheia de jovens urbanos com certo estilo. Mas o tema - as relações complicadas dos dias atuais - também remete a suas "irmãs mais velhas".

A diferença é que, em Pieces, o tema é ainda mais restrito. Cau joga todas as suas fichas em relacionamentos que não dão certo. São desencontros, mortes, hesitações... As oito histórias curtas têm em comum os personagens que acabam sozinhos.

Dizendo assim, parece repetitivo. Mas não é. Mesmo limitado pelo tema, Cau faz HQs bastante diferentes entre si. Não só na arte, que tem certa variação, mas também nas tramas.

O resultado disso é o maior mérito da revista: o rigor conceitual, que começa já na bela capa. E que, aliás, vai até a última (e melhor) história da revista - Café da manhã, sem palavras, baseada em um bonito poema de Jaques Prevert.

Assim, em vez de se repetir, Cau traça um panorama sobre o desencontro e o vazio. Cada página reforça a dificuldade de as pessoas acharem suas caras-metades - ou, na metáfora armada pelo quadrinhista, as peças que encaixam.

No entanto, mesmo com seus acertos, Pieces tem falhas.

Uma delas, aliás, incomoda: os roteiros marcados por clichês. Outro encontro, por exemplo, é sobre um rapaz que conversa com a amada morta. Meio cheio, meio vazio usa, mais uma vez, a metáfora do copo para falar de otimismo e pessimismo. De passagem mostra um adolescente que não toma uma atitude ao topar com certa moça.

KD VC? e Ônibus mal chegam a ser histórias - são, no máximo, cenas. Fazer HQs assim é uma proposta do autor, declarada até na contracapa. Mas, apesar do caráter experimental, elas não funcionam.

Valsa e Café da manhã, com roteiros simples, mas bem elaborados, se saem bem melhor que as demais. E é nelas que fica nítido que Cau deu o melhor de si.

Outro aspecto de Pieces que tem problemas, ainda que menos complicados, é a arte. Na maior parte do tempo, o traço é bom: leve, elegante e seguro. Mas, de vez em quando, dá uma resvalada e revela seus defeitos.

É verdade que Pieces tem seus méritos e as suas limitações. Tudo isso está impresso na revista - e é indelével. Mas, no fim das contas, o saldo é positivo: boa arte, duas histórias bacanas e, principalmente, um conceito riquíssimo para ser explorado - um conceito que, diga-se de passagem, arrisca ultrapassar o público habitual de quadrinhos.

Pieces pode não ser uma série pronta - mas é um trabalho promissor, que merece ser acompanhado ao longo dos próximos anos.

 

Classificação:

4,0

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