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Piteco

Por Delfin
17 março 2014

PitecoEditoraFTD – Edição especial

Autor: Mauricio de Sousa (história e desenho), Paulo Hamazaki (arte-final) e Joel Link e Alberto “Dudu” Djinishian (cor).

Preço: variável, dependendo do sebo ou leilão online

Número de páginas: 64

Data de lançamento: 1965

Sinopse

Na pré-história, um jovem caçador chamado Piteco decide resolver o problema da fome em sua aldeia. Em outro tempo, outro caçador atormenta a vida de Cranicola e da Turma do Cemitério.

Positivo/Negativo

Para um número cada vez maior de fãs, a sigla MSP se torna sinônimo de qualidade nacional no meio dos quadrinhos. Os títulos das séries MSP 50 e Graphic MSP, além de revelarem novos talentos para o grande público, angariaram ainda mais simpatia para o criador Mauricio de Sousa, que permitiu outras visões sobre seus queridos personagens.

MSP significa Mauricio de Sousa Produções, empresa que cuida de cada aspecto dos personagens desenvolvidos por seu presidente. É uma história de quase 60 anos, que começa com a edição de três livros, a partir de 1965, pela FTD, apresentando aos leitores o início de seu vasto universo.

Astronauta, Chico Bento, Niquinho, Piteco e Penadinho são os personagens escolhidos para continuar a trajetória editorial de Mauricio de Sousa, que já publicara alguns personagens, como Bidu e Franjinha, pela editora Continental no início da década de 1960. Mas a aventura agora era nas livrarias.

As bancas sempre foram um universo muito diferente das livrarias. O cuidado gráfico para as edições de banca nem sempre era apurado como na edição de livros.

Ao mesmo tempo, as livrarias não eram um ambiente favorável para os quadrinhos, considerados há muito um subgênero literário. Talvez por isso Mauricio tenha optado produzir três livros infantis para esta experiência, encampada pela FTD.

O primeiro desses livros foi Piteco (Penadinho, apesar de dividir a obra, não aparece no título), publicado em 1965. Nele, estão contidas histórias que servem como introdução a dois ambientes narrativos diferentes das aventuras infantis e das brincadeiras de rua, às quais seus leitores iniciais já se acostumavam.

A história de Piteco apresentava o universo pré-histórico de Mauricio, enquanto a do Penadinho introduzia o universo sobrenatural do autor, centrado em um cemitério.

Ambas possuem 32 páginas e, nelas, percebe-se como Mauricio já tinha muito bem definidas as personalidades de suas criações, ainda que o traço viesse a mudar um bocado como o passar das décadas.

Piteco, um jovem caçador preocupado com a situação terrível de fome em sua aldeia, decide que vai solucionar a situação de algum modo. Mas, como o leitor percebe durante a história, isso não significa resolver as coisas a qualquer custo. Altruísta e utilizando a inteligência e a lógica em vez da força bruta, ele resolve o dilema de uma forma que agrada a todos os envolvidos na trama.

Já a trama de Penadinho é mais simples, e mostra o medo de Cranicola, o crânio do cemitério, quando chega ao local um novo fantasma, o Caçador de Cabeça.

Aqui, prevalece o humor e uma boa sacada do autor, que, de quebra, ainda apresenta boa parte dos personagens que coadjuvarão com Penadinho nos próximos anos.

Um dos aspectos interessantes deste álbum é o layout de páginas, em que o autor teve muito mais liberdade de composição em relação à "prisão" das tiras e dos quadros. Cada página é um painel no qual a arte de Mauricio, ampliada pelo formato grande do livro, causa um impacto muito maior no leitor.

Ser o primeiro álbum produzido pela Mauricio de Sousa Produções (que, desde o início, adotou o cãozinho Bidu como mascote) já seria o bastante para que este álbum tivesse valor histórico. Mas há mais a ser dito.

No álbum, ao contrário do que costuma acontecer nas histórias que saem nas revistas mensais, a MSP creditou os profissionais que participaram da produção. No caso, o arte-finalista Paulo Hamazaki, os coloristas Joel Link e Alberto “Dudu” Djinishian (que não acertaram muito a mão da roupa do Piteco, que, na época, ainda não se vestia de vermelho e preto) e os colaboradores Marcio Roberto, Sérgio Cantara e José Aparecido.

Exemplar raríssimo nos dias de hoje, Piteco e os outros álbuns da série (O Astronauta no planeta dos homens sorvete e A caixa da bondade) são um bom exemplo de que o sucesso que Mauricio de Sousa goza há muitos anos foi fruto de experiências editoriais, muito suor e criações certeiras, que caíram no gosto do público nacional.

Se hoje Mauricio é criticado por uma pequena parcela de artistas de tempos em tempos, isso talvez seja porque eles desconheçam a trajetória deste criador que começou como todos, por baixo, mas com uma polivalência e um senso de oportunidade que o distiguiu de seus pares.

Conhecer a história é um grande passo para respeitar seus personagens. E, nos quadrinhos nacionais, Mauricio de Sousa e sua MSP são os maiores protagonistas.

Classificação

4,0

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