Há entre os leitores de quadrinhos uma brincadeira (com fundo de verdade) segundo a qual Preacher teria uma "maldição". Afinal, a Panini é a oitava editora a publicar o título. E nenhuma concluiu a série.

Depois de estrear pela Metal Pesado Quadrinhos, Preacher saiu ainda sob os selos Tudo em Quadrinhos, Edições Fractal e Atitude Publicações. Sempre em forma de título mensal.

Em seguida, a Brainstore assumiu a revista e parou de publicá-la quando faltavam apenas cinco números para a conclusão.

Quando o título foi para a Devir, a editora optou por lançá-lo em formato de álbuns, desde o começo. Vinha fazendo um bom trabalho, mas os direitos da Vertigo foram adquiridos pela Pixel, que também deixou a série pelo caminho.

Agora, a esperança dos leitores é que a Panini consiga quebrar a "maldição" e lance Preacher até o final - faltam somente dois encadernados.

Graficamente, a série não terá o mesmo formato que vinha sendo adotado pela Devir e pela Pixel (um pouco menor e em capa cartonada), pois a Panini optou pelo formato americano e capa dura, que encareceu o álbum.

Independentemente da "embalagem", a nova editora de Jesse Custer começa bem o seu trabalho. O álbum traz um resumo do arco de histórias anterior, capas das revistas mensais no miolo e pin-ups de Tim Bradstreet, Glenn Fabry, John McCrea, Doug Mahnke, Joe Quesada e Jimmy Palmiotti, Kieron Dwyer e Jim Lee e Scott Williams.

Quanto à história, depois de Jesse Custer ver sua namorada Tulipa com seu melhor amigo, o vampiro Cassidy, o leitor podia esperar que o protagonista fosse resolver a situação imediatamente. Negativo! Garth Ennis mete o pé no freio com tudo e dá uma guinada na direção da série. Tanto que os dois coadjuvantes só aparecem em delírios do ex-pastor.

A sensação de balde de água fria existe, mas não dura tanto, pois Ennis cria uma subtrama e tanto, que, logo depois de engrenar, deixa o leitor ávido por virar logo as páginas.

O autor engendra uma série de coincidências que fazem Custer reencontrar uma garota de um olho só que conheceu na infância e, surpresa das surpresas, a sua mãe, que ele achava estar morta. Tudo isso em meio ao seu dia a dia como novo xerife de Salvation.

Apesar de estar no papel de "homem da lei", Custer usa métodos pouco ortodoxos para mostrar que, a partir de então, não haveria mordomia para Odin Quincannon e os empregados fanfarrões de sua empresa. A porrada come solta, mas, mesmo assim, este arco não é tão "sanguinolento" quanto os anteriores de Preacher.

E Garth Ennis faz um bem-bolado de temas que parecem desconexos, porém se vão se encaixando na trama como se fossem peças de um quebra-cabeça. Tem sadomasoquismo, filho com ciúme da mãe, sexo com pedaços de carne, viagens alucinógenas, veteranos de guerra, clima romântico, racismo etc. E, no final, tudo é amarrado para mostrar a Jesse Custer que ele precisa, sim, encarar novamente a sua missão - de matar Deus. Mesmo que, no caminho, tenha de rever Cassidy e Tulipa.

A arte de Steve Dillon tem o velho problema de todos os personagens serem muito parecidos, porém é inegável que funciona para o estilo do roteiro. É até difícil imaginar Preacher no traço de outro desenhista.

Por fim, uma explicação: este é o sétimo álbum da série, como pode ser visto na capa e na contracapa. No entanto, o quarto volume, Histórias Antigas, não saiu no Brasil em forma de encadernado. Ele compila os especiais O Cavaleiro Altivo e A História de Você-Sabe-Quem e a minissérie Santo dos Assassinos, todos já publicados por aqui por diferentes editoras, mas nunca num livro único.

Este álbum deixa os leitores esperançosos de que, finalmente, as aventuras de Jesse Custer cheguem ao seu desfecho no Brasil. Por isso, para a série Preacher, o nome Salvação não poderia ser mais sugestivo. Que assim seja!