Confins do Universo 204 - Marcelo D'Salete fazendo história (em quadrinhos)
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PRIDE OF BAGHDAD

1 dezembro 2008


Autores: Brian K. Vaughan (texto) e Niko Henrichon (arte).

Preço: 19,99 dólares (capa dura), 12,99 dólares (capa cartonada)

Número de páginas: 136

Data de lançamento: Setembro de 2006

Sinopse: Quatro leões - a velha Safa, o jovem Ali, o macho Zill e a fêmea Noor - vivem no zoológico de Bagdá até abril de 2003, quando o bombardeio promovido pelas tropas ocidentais os libertam, levando as feras a conhecer um mundo devastado pela guerra.

Positivo/Negativo: Há várias formas de se apresentar Pride of Baghdad.

Uma delas é dizer que a HQ une o desenho animado O Rei Leão, da Disney, com Persépolis, graphic novel de Marjane Satrapi, para dizer que é a história de um jovem leãozinho que sai para descobrir o mundo e encontra uma guerra para tolher sua vida.

Outra maneira é defini-la como uma bela fábula, aos moldes de Esopo, que acaba em dado momento denunciando o quanto uma guerra pode não ter absolutamente nenhum sentido para suas vítimas.

Seja qual for a opção, a história é matadora.

O argumento, baseado na história real de leões que fugiram do zoológico, é extremamente feliz. A trama flui leve e delicadamente nas mãos do norte-americano Brian K. Vaughan, autor que se dá bem com super-heróis, mas só se revela brilhante em seus trabalhos autorais, como Y e Ex Machina.

Mas quem chama a atenção do leitor de cara é o canadense Niko Henrichon, um artista inédito no Brasil, mas de uma grandeza ímpar. Seu traço é tecnicamente impecável e muito, muito bonito. Mais que isso, é habilidoso ao conduzir a narrativa e faz cores incríveis, que criam no leitor a sensação de que está de fato no deserto iraquiano.

O trabalho da dupla vai ser conhecido no Brasil em breve. Segundo o anúncio da Panini, a editora italiana deve lançar o álbum por aqui ainda no primeiro trimestre. O título já tinha sido anunciado para o ano passado pela Pixel, que tem publicado os materiais do selo Vertigo, mas acabou saindo da programação.

Quando desembarcar, o leitor encontrará em Pride of Baghdad uma história delicada e, ao mesmo tempo, incisiva, em que uma guerra sem sentido serve de cenário para uma fábula sobre a condição humana.

O próprio título traz o duplo sentido: em inglês, "pride" é, ao mesmo tempo, "família de leões" e "orgulho". É uma sutileza praticamente impossível de não se perder na tradução, mas que fala sobre nobreza, decadência e o quanto tudo isso, no fim das contas, representa muito pouco.

Se há beleza em tudo (e o traço de Henrichon relembra essa idéia o tempo todo), há também muita fragilidade. Dois momentos são especialmente chocantes e forçam o leitor a entender o que está diante deles: quando a cabeça de uma girafa explode e quando um animal é metralhado.

É no conflito entre o realismo e o fabuloso que Pride of Baghdad tem seus picos e se mostra uma grande história. E é daí que vem o seu maior defeito, ainda que pequeno: trata-se de um álbum que funciona porque anda na corda bamba.

Quando resvala e se arrisca a escolher um lado só, a trama perde um pouco de sua força. Ainda assim, o resultado é uma grande história, com potencial de ser um dos grandes lançamentos do ano no país.

Daqui até o lançamento, resta torcer para que a Panini faça um bom trabalho com o álbum, que merece genuinamente uma atenção especial. A edição norte-americana de capa dura, avaliada nesta resenha, é impecável: tem relevo na capa marrom, sobrecapa, papel de boa gramatura e uma impressão excelente, que reforça a delicadeza da arte.

Classificação:

4,0

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